Only Us | Charles Leclerc

Capítulo 57 - A Última do Ano

Então pode ser nós
Pode ser nós
E só nós
E o que veio antes não contará mais ou importará 
Podemos tentar isso

(Only Us - Dear Even Hansen)

Abu Dhabi, Emirados Árabes

Última volta.

O céu de Yas Marina já se despedia da tarde no deserto e as luzes artificiais deixavam tudo mais dramático em uma das tardes mais quentes do ano.

Finalmente a temporada estava acabando. Para alguns era a despedida de cargo, de sonhos e de uma rotina extremamente cansativa, para outros era o fim de um campeonato disputado, mas para Alice e Charles era a chance de ganhar uma aposta, a chance de vencer, a chance de provar um ponto.

O motor da McDonell Racing tinha sido melhor até aquele momento, mais forte, mas Charles tinha mais ritmo de corrida. Durante toda a corrida os dois se ultrapassaram, se estranharam e até quase bateram em ultrapassagens ousadas e traçados divididos milimetricamente. Não era para menos, estavam disputando o terceiro lugar no campeonato, afinal. Tinha uma aposta em jogo. Não que alguém mais além dos dois soubessem disso.

Lia que estava no paddock junto com Liana - que tentava se reconciliar com a filha de um jeito um pouco desajeitado - e o pai de Alice estava apreensivo e não conseguia disfarçar o orgulho. Lia sentia talvez uma saudade antecipada de toda essa loucura e adrenalina.

No rádio o engenheiro da Ferrari tentava soar calmo e profissional.

— Última volta. Estamos em P3 nesse momento. Vamos lá. Respira.

Ele sorria no cockpit só de imaginar a namorada. Ele sabia que ela estava tensa, cheia de energia e muito, mas muito determinada e puro instinto e precisão. E então ataca o carro da McDonell por fora, Alice devolve por dentro. Curva após curva os dois duelavam como se estivessem em uma coreografia selvagem só deles, num diálogo que só eles entendiam.

A inglesa dentro do carro estava coberta de adrenalina, competitividade e uma vontade de vencer. Nem perguntou em que posição Zach estava, não importava muito. O monegasco, por outro lado, estava se divertindo, não lembrava a última vez que tinha sentido essa sensação dentro de um carro em uma disputa real, seu irmão mais novo diria que era a vontade de ganhar, sua mãe diria que era amor e de verdade? Era amor!

— Na última curva a disputa não é mais pelo campeonato e sim pelo terceiro lugar no mundial de construtores. — Dizia o narrador com alguma disputa que pudesse animar um campeonato que tinha sido decidido três corridas antes. — Charles Leclerc ataca mais uma vez!

Na reta final, tudo pareceu parar por um segundo e o universo inteiro pareceu congelar. Alice respirou fundo, cortou para dentro, se posicionou, o coração acelerou e quase na linha de chegada cruzou. Em terceiro.

No rádio, o engenheiro de Alice teve o grito abafado pela explosão de aplausos da equipe. A inglesa não conseguiu falar nada, só riu aliviada como se o mundo tivesse saído das suas costas. Ela tinha conseguido pela equipe, por ela mesma, pela aposta, para quem ainda duvidava dela.

No paddock Lia estava tão emocionada que até abraçou Liana por impulso, que aceitou constrangida, mas com alguma admiração. Os últimos dias não foram fáceis para mãe e filha, mas estavam de alguma forma no caminho certo de uma reconciliação que ainda era difícil e que agora parece possível.

Alice saiu do carro, tirou o capacete e suspirou aliviada com um sorriso que não escondia toda a sua felicidade. Ela correu para abraçar sua família e foi engolida por um abraço orgulhoso do seu pai. Depois os mecânicos da equipe que estavam em euforia, ao olhar para o lado ali estava ele, sorrindo, orgulhoso e lindo, muito lindo. Ela queria beijá-lo naquele momento, muito, mas se conteve por muito pouco. Sentiu um impulso de correr até ele, como se todas as pessoas ao redor não importassem, ele respondeu com um aceno sutil, como se entendesse onde estavam e das câmeras prontas para captar qualquer interação entre os dois.