Only Us | Charles Leclerc

Capítulo 11 - Você Nem Tenta Me Entender

Entenda as coisas que eu digo
Não vire as costas para mim
Porque eu passei metade da minha vida lá fora
Você não faria diferente
Você me compreende? Você compreende?

(Ode To My Family - The Cranberries)

Monte Carlo, Mônaco.

A qualificação daquele sábado tinha sido um misto de emoções para a McDonell Racing Team, Zach Hawk bateu no muro e a bandeira vermelha foi chacoalhada por todo o circuito, cinquenta segundos antes do fim fazendo com que Alice conseguisse uma decente quarta colocação, atrás de Leclerc, Verstappen e Hamilton. Quando chegou à garagem um misto de sensações pairava na equipe que estava feliz pela colocação de seus dois pilotos, mas já imaginava a noite agitada que teriam. Deu tempo de Alice murmurar um "sinto muito" para Zach antes de ser atacada por Lia que reclamava com alguma razão de como Liana Walsh a alugou a manhã inteira.

Liana Walsh chegou como um furacão em Monte Carlo e não havia uma pessoa sequer que não soubesse da presença da inglesa de postura elegante, cabelos castanhos perfeitamente alinhados e um olhar poderoso de quem pensava que era melhor do que metade das pessoas que cruzavam com ela. A matriarca da família Walsh já tinha revolucionado tudo no principado exigindo quartos com iluminação frequente do sol, mas não em demasia, pois irritava seus olhos claros, trocou uma assistente do hotel só porque o sotaque a irritava, e é claro enlouqueceu Lia e toda a assessoria de imprensa da McDonell Racing com suas exigências para assistir a corrida na garagem da equipe, mas sem muito cheiro de gasolina, por favor.

— Se eu receber mais uma ligação da sua mãe eu peço demissão. — Lia rosnou igual a um chiuaua mais cedo ao entrar na sala privativa de Alice no motorhome da equipe. — A propósito ela ligou faz dez minutos querendo marcar uma hora com você, pois —, Clareou a garganta e fez seu melhor sotaque britânico — "Vocês ocupam todo o tempo livre da minha filha, é mais falar com a Rainha Elizabeth do que com a Esquilinho, resolve isso!"

— Eu juro que vou parar de fugir, eu só preciso de mais tempo. — Alice ajeitou seu macacão no corpo enquanto preparava seus equipamentos com atenção.

— Eu só não sei se consigo segurá-la, minhas desculpas estão se esgotando e minha paciência também. — Desabafou jogando as mãos para o alto claramente irritada.

— Depois da qualificação, eu prometo. — Alice deu seu melhor sorriso convincente recebendo um revirar de olhos de Lia.

— É a sua mãe, você deveria dar uma chance pra ela, por mais que ela seja... ela. — Lia deu de ombros.

Alice até pensou em atender as ligações culpadas da sua mãe, mas seu instinto dizia para ela se concentrar, lidar com a prepotência e críticas de Liana Walsh era tudo o que ela não precisava em um dia de qualificação. Quando o telefone tocou novamente não era preciso ser um gênio para saber quem ligava quando a assessora respirou fundo antes de atender o aparelho com sua voz mais calma e ponderada. Lia saiu da sala enquanto tentava convencer uma celebridade que nem tudo era como ela gostaria ou queria.

Depois de terminar de se arrumar a piloto decidiu que já era hora de encarar sua equipe e saiu de sua sala privativa e caminhou até a garagem com uma confiança só sua, sorriu quando passou pela Ferrari e viu Charles concentrado nas indicações que seu engenheiro lhe dava, foi inevitável trocar um sorriso com o monegasco que acenou levemente a cabeça em sua direção. Depois da noite anterior não eram apenas colegas de trabalho, tampouco eram amigos, mas tinham tido um momento, compartilhando informações pessoais demais para colegas de trabalho. Surpreendentemente tinha bom de um jeito bem esquisito, quase como se tivesse muita coisa implícita, principalmente quando ficou acordada até tarde se amaldiçoando por soar como uma adolescente boba que está flertando com o menino bonito da escola, só de pensar que o convidou para beber no seu quarto tinha vontade de se esconder. Tinha sido tão confiante na noite anterior e naquele momento parecia tão... Não podia culpar a bebida, pois estava completamente sóbria naquela escada de emergência e quando disse todas aquelas coisas. Parecia um pouco com a Alice pré-Noah, uma mulher impulsiva que fazia tudo o que lhe dava na telha, não podia mentir sentia um pouco de saudade dessa Alice, a mulher que encarava a vida de frente que conseguia fingir muito bem ser alguém que ela nunca foi, confiante. A inglesa tinha a sensação que não conseguia mais voltar a ser o que era, tinha passado por tantas coisas, amadureceu e novas responsabilidades apareceram em sua vida.