Capítulo 2

143 60 111
                                    

Ao abrir os olhos ainda imóvel na poltrona notei que não havia amanhecido ainda. O quarto estava escuro, as ruas silenciosas, os demais quartos daquele prédio barato onde alugamos o quarto ninguém tinha dado sinais de movimentação ainda. Olhei para os dois mais jovens ainda deitados, suas mãos juntas como se nem mesmo no sono aquele garoto pudesse abandonar ela. Abri um pequeno sorriso de satisfação com a cena, apesar dela saber se virar sozinha eu gostava de ver que tinha alguém que sempre estaria ao seu lado.

Já não estava mais com sono, então diria a minha salvadora do início da noite que poderia descansar e deixar comigo agora. Virei a cabeça para o lado e ali estava ela, com os braços sobre a janela olhando atenta para o céu. Já estava acostumado a ver isso, mas sempre era como a primeira vez. O brilho da lua seguia por sua pele a deixando com um tom limpo como a neve, era como se nunca houvesse se machucado ou se esforçado em alguma atividade física. Sempre que a luz da lua a encontrava, suas energias se renovavam e parecia sempre bem de novo. Um leve vento entrou pela janela fazendo com que alguns fios de cabelo voassem para trás, revelando o olhar azul que tinha para a lua.

Seu cabelo estava mais longo, pequenas mechas rosas de antes se perdiam no tom castanho que fazia na maior parte. Isso sempre me chamava a atenção, além de seu olhar que me hipnotizava quando mantínhamos contato. Eu iria chamar para que ela descansasse por um tempo antes de amanhecer, mas o que vi em seguida me vez parar por alguns segundos. O vento entrou novamente pela janela levando mais fios para trás revelando melhor a expressão que ela tinha. Os olhos estavam fixos em direção a lua, do lado que era visível para mim escorria uma pequena e solitária lágrima. Ver isso me deixou inquieto por dentro.

No início disso tudo, quando alguns de nosso amigos foram pegos por essa maldição, inclusive aquele garoto mais novo conosco, ela e mais alguns membros que se intitulam Coven, tentaram fazer algo por eles. Mexer com o ciclo natural da lua não poderia trazer boas notícias, mas eles não abandonariam a própria sorte nossos amigos. Ela tinha me contado em uma noite quando foi ao meu dormitório que sua mãe apareceu para eles, e seu tom era de amargura pela interferência deles. Não quis perguntar mais depois daquilo, mas sabia que sua mãe havia os abandonado por isso e agora ela estava só, precisávamos encontrar o seu grupo. Seria egoísmo ela dizer que se sentia só com nós três ali, mas eu a entendia. Nós éramos amigos, mas não do tipo que poderia ajudar ela e o único de nosso grupo da primeira missão juntos que poderia fazer isso não tínhamos notícias. Sua visita ao submundo com a irmã dela e uma feiticeira foi a última coisa que sabíamos.

Desviei o olhar para os dois mais jovens e bocejei sem a olhar naquele estado para chamar sua atenção e ter tempo de secar aquela lágrima.

- Sua vez de descansar

Ela caminhou devagar até a poltrona me olhando com um olhar melhor, mas sabia que não era assim que se sentia.

- Ainda não amanheceu. Ela respondeu. Pode continuar descansado, temos mais um tempo. Enquanto a lua estiver visível não me canso, sabe disso.

Sabia que parte dos poderes que ela tinha vinham diretamente da lua, sempre que entrava em contato com a luz se revigora, mas isso não substituia o sono e me preocupava. Me levantei ficando de frente para ela, os dois mais jovens ainda dormindo na cama descansando, olhei diretamente para ela levando uma mão sobre seu ombro enquanto falava baixo.

- Não precisa fingir aqui...acho que entendo como se sente. Tive sorte de minha irmã dizer como aquele cara era antes que eu ficasse esperando sua volta...só apareceu pra dizer de quem eu era filho como se fosse mais um troféu a exibir por aí

A última relíquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora