Floresta Nacional de Talladega
Uma longa caminhada tinha sido feita, minhas pernas já não aguentavam manter meu corpo levantado. Por alguns trechos do caminho percorria usando grande parcela de energia para usar uma habilidade capaz de me envolver em eletricidade, mas exigia concentração, algo que passava longe de minha cabeça essa noite. Destruição na Itália revivendo a maldição marcada em minhas costas, dois primordiais que antes eram nosso aliados agora brigavam, inclusive um grande amigo. Além disso, tinha sido abandonado justamente por aquele em que depositei minhas esperanças um dia. Nesse ponto, a sensação de impotência para lidar com a situação em que nos encontrávamos me dominava, mas não podia. Eu entendia bem como uma mente sem esperança é capaz de abrir portais para que outras entidades lhe dominem, não era uma opção no momento.
Em frente a entrada do local, dei uma longa respirada sentindo o ar puro do local. A floresta era isolada de contato humano, nenhum obstáculo para me acalmar, era o ponto ideal para passar a noite e descansar a mente e o corpo. Para um filho de Ares, ficar pelos cantos pensando sobre a situação não era uma característica que deveria me marcar, mas afinal, eu tinha sido renegado pelo próprio pai. Não, eu não tinha o apoio daquele maldito senhor da guerra quando mais precisei e não seria agora. Ninguém precisa daqueles narizes empinados do Olimpo, nunca iria depositar minha esperança nele ou qualquer outro novamente. Era somente eu, e tudo bem, quem daqueles seres?
Sim, eu tinha Stacy, minha irmã, mas não queria ficar por perto. Ela era uma das pessoas mais duronas que eu conheço, dificilmente algo a mataria, mas esse pensamento não saia da minha cabeça, ainda mais agora. Se com um deslize uma cidade inteira se foi pelos ares se envolvendo em fogo grego, quem garantiria que eu seria capaz de não atrapalhar. Eu tinha meu fiel amigo, Miau, estava tudo bem assim. Ele era uma ave imortal, não corria risco algum ao meu lado.
Alguns metros após entrar na floresta, o único som que vinha em minha mente era o de folhas sendo sopradas pelo leve vento quente do local. Retirei minha blusa a pendurando no ombro e seguindo mais para o interior do local. Conforme avançava, o som de folhas se debatendo aumentava, a sensação de estar sendo vigiado vinha levemente em meu corpo, mas ignorei. Ninguém entraria a noite naquele local assim.
- Hum? - Olhei para cima, erguendo a palma da mão esperando que caísse alguma gota de chuva após um forte clarão de relâmpago iluminar por menos de um segundo o céu sobre a floresta, mas nada ocorreu.
Seguia meu caminho por dentro do local até que me aproximei de um pequeno riacho, onde cerca de dois metros depois da água uma pequena abertura nas rochas formava uma simples cachoeira com a água levemente caindo entre as pedras. Contornei o pequeno riacho evitando entrar na água, não teria outra roupa até o dia seguinte caso fizesse isso. O vento quente que soprava na floresta amenizava no momento, o clima se equilibrava com a água por perto, apesar que não sou cientista pra saber o real motivo. Ao fim do contorno pelo riacho, passei rapidamente pela pequena cachoeira molhando a cabeça um pouco, logo estando dentro da pequena caverna. Eram aproximadamente apenas cinco metros de abertura, mas um bom lugar para ficar um tempo no silêncio de outras vozes e apenas o som da água caindo me acalmando.
Me aproximei da parede do local, erguendo minha mão encostando nas rochas sentindo o relevo, em especial algumas marcas arranhadas por ali. As marcas não eram fundas, mas simples animais não seriam capazes de deixarem as rochas marcadas dessa forma, eu me lembrava bem o que tinha causado aquilo em uma noite. Na mesma noite em que aquelas marcas foram feitas, também foi a segunda noite em que quase morri pelo mesmo motivo, uma fera descontrolado próxima de cravar suas presas em minha pele.
Um forte brilho de relâmpago iluminou o local atrás de mim, além do pequeno riacho, foi o suficiente para tirar minha atenção das rochas e de pensamentos antigos. Me virei na direção do riacho, olhando entre a água da pequena cachoeira que embaçava a visão parcialmente fazendo com que apenas a paisagem borrada fosse vista por mim. Do outro lado do riacho, uma silhueta fina e feminina estava de pé com as mãos para baixo, um tom vermelho descia até um pouco abaixo do que parecia serem seus ombros, possivelmente seu cabelo. Um sentimento preencheu meu peito junto de um frio na barriga com apenas aquela imagem borrada depois da água.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A última relíquia
FantasyO local onde costumavam chamar de lar havia sido destruído por seres que começaram a surgir aos poucos, mas se multiplicaram em um pequeno espaço de tempo servindo um ser primordial tão velho quando nosso próprio mundo, ou qualquer outro existente...