Capítulo 6

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Bolívia - Tiwanaku, Templo de Kalasasaya

Enquanto a conversa entre Kurt e Holton ocorria naquela pequena cabana na Finlândia, longe dali um grupo se reunia na madrugada, próximo ao nascer do sol. Um grande complexo quadrado, em meio ao que se pode chamar de "nada", tochas poderiam ser vistas em seu interior, não possuindo um teto. O local era formado por rochas antigas, difícil dizer a data de sua construção. Elas se juntavam criando muros que protegiam seu interior, apesar de não ter algo valioso além de ser um templo histórico. Pequenos e médios pilares eram formados dentro da área do local, pequenas escadas de seis degraus levavam para algumas elevações de terreno, mas tudo se concentrava dentro dos muros de rochas.

Um grupo havia se instalado no templo por essa noite, mas já estavam todos acordados arrumando suas coisas. Lâminas negras com uma afiação capaz de decepar membros em simples movimentos de cima para baixo. Todos os membros possuíam uma lâmina forjada com esse material, de tamanhos variados. Alguns tinham uma lâmina próxima ao tamanho de uma espada média, outros facas de caça. Usavam a que melhor se adaptasse ao seu modo de combate. Carregarem armas feitas de um material altamente mortal, prata negra hemorrágica, não era a única coisa em semelhante entre eles.

Todos usavam trajes negros com detalhes na cor roxa, e em seus peitos se destacam um símbolo brilhante na cor roxa escura durante aquela escuridão da madrugada prestes a se encerrar. O símbolo se tratava de um arco, o símbolo de Ártemis. A deusa era a responsável pelo que alguns chamariam de bênção, já outros de maldição. Isso era algo de eras atrás, próximo de quando humanos haviam sido criados por Prometeus, passando de geração em geração.

O pessoal, sendo aquele grupo autointitulado Nightvale, que após se arrumarem para a partida, seguiam até uma parte mais elevada do templo. Nela havia uma escada de oito degraus, onde todos se alinharam formando seis fileiras uma ao lado da outra, se estendendo para trás com cinco em cada, totalizando trinta membros. Todos se ajoelharam ali abaixando suas cabeças. No topo da escada, uma estátua antiga estava caída no chão com sua cabeça quebrada ao lado do corpo. Um totem com traços de um povo que deveria ter erguido aquele templo à tempos atrás. Ao lado da estátua quebrada estava um trono de rochas, construído de forma improvisada, mas ainda assim mantinha uma forma real apesar do material usado, como se quem o fez tivesse fortes ferramentas para o modelar.

Sentada no trono estava uma mulher. Em seus pés estavam uma bota preta com um longo salto, suas pernas estavam cruzadas usando uma calça de couro preto que ficava sob medida em seu corpo. Usava uma camisa escura de seda com mangas longas, se estendendo um pouco abaixo da cintura. Sua mão esquerda repousava no joelho de sua perna que estava por cima, enquanto a direita apoiava o cotovelo no apoio de onde se sentava e para cima, segurando sua cabeça levemente inclinada em sua bochecha com o punho fechado. A única parte de seu rosto visível eram seus olhos, dourados como ouro, tendo o resto do rosto coberto por uma máscara de seda roxa escura, possuindo uma semelhança aos tempos egípcios antigos. Os cabelos eram longos, se aproximavam de sua cintura e estavam presos em um rabo de cavalo caindo por seu ombro de um único lado. O olhar dela era de tédio. Claramente não aguentava esperar.

Em seus lados, haviam dois homens, um de cada. Diferente de todos ajoelhados aos pés da escada, estes estavam de pé. Um demonstrava seriedade em sua postura, um forte peitoral era visível enquanto usava uma simples camisa de malha na cor preta, riscado a mão um arco roxo com spray bem ao centro da camisa. Tinha seu rosto liso, um cabelo bem cortado com a parte de cima maior. Não usava um penteado chamativo, seu cabelo apenas era algo que se ajustava sozinho pelo tamanho. Diferente dele, do outro lado estava um homem mais chamativo. Ele vestia um blazer negro aberto por cima de uma camisa social roxa bem escura. Usava calças sociais com tom roxo, mas discreto. Seus sapatos mantinham um engraxate perfeito. Seu cabelo era médio e estava com um penteado para o lado, as laterais da cabeça tinham um corte menor que faziam acima ser mais visível o penteado. Sua barba era visível, mas bem cuidada, ele tinha um cheiro perfumado de rosas.

- Está quase na hora de partimos, senhora. Disse o homem de camisa simples.

- Que horror, Ole. Repreendeu o homem que era mais chamativo por suas roupas sociais. - Não se chama uma mulher de senhora assim.

Ole revirou os olhos com a fala de seu companheiro. Ele deu um passo ameaçando ir em direção a ele para o socar, mas a dama em seu trono ergueu a mão que repousava dando um sinal para pararem.

- Por que mantemos ele? Disse Ole apontando para o outro homem. - Fulgêncio é irritante.

- Dávila! Exclamou o homem, agora com raiva de Ole. - Já falei que devo ser chamado pelo segundo nome! Diga meu primeiro nome de novo e eu...

- Você o que? Ole respondeu sorrindo de forma irônica girando um pulso no ar.

O clima entre os dois não era dos melhores, mas a moça sentada no trono, aparentemente a líder daquele grupo, os mantinham como uma guarda pessoal. Esses dois tinham uma habilidade impressionante com sua bênção de Ártemis. Até o momento ela não teve necessidade de se esforçar para interromper uma briga, os dois homens sabiam dos limites e não iriam se agredir ali na frente de seu povo ajoelhado.

- Cadê aquele folgado? Disse Dávila.

- Ele foi pegar algo próximo daqui, acho que era Maxu Xuxu o nome do lugar.

Ole respondeu Dávila colocando as mãos nos bolsos de sua calça jeans, se afastando de volta para o lado de sua líder. Dávila balançou a cabeça de forma negativa.

- O nome é Machu Picchu.

- Que seja. Respondeu Ole.

Dávila se virou observando o pessoal ainda ajoelhado para a líder, vendo um em especial que ele e Ole vinham observando já faz algum tempo. Dávila soltou um suspiro e olhou para Ole.

- Descobriram que alguns deles se encontram em Cleveland, quem pretende levar?

- Você é quem deveria ir, Dá-vi-l-a.

A resposta de Ole era de forma descontraída, dizendo o nome de Dávila sílaba por sílaba depois da pequena histeria por seu primeiro nome. Dávila semicerrou os olhos para Ole, seu maxilar teve um leve tremor indicando que o homem forçava uma mordida com os dentes laterais. Ao mesmo tempo, Ole se manteve com a coluna mais reta, sua camisa se esticava no peitoral e nos braços onde pareciam aumentar. Isso era um sinal de que estavam próximos de lutarem, mas a líder apenas parou de apoiar o rosto em uma mão e soltou um suspiro. Foi o suficiente para Ole concordar.

- Na próxima eu é quem vou ficar descansando igual você sempre faz! Respondeu Ole caminhando em direção à escada.

- Espere! Disse Dávila. - Você não vai sozinho, e eu não fico descansando. Eu só...só temos que ter um dos dois por aqui.

- E quem você quer que eu leve?

Ao ser perguntado, Dávila olhou para o mesmo rapaz entre o pessoal ajoelhado novamente, e então com um sorriso de satisfação pronunciou seu nome.

- Archie Harlow!

Dávila recebeu uma olhada de Ole, enquanto o rapaz que tinha sido chamado se levantava entre o pessoal. Em segundos, o rapaz desapareceu dali, surgindo ao lado de Ole. O rapaz usava botas marrons, uma calça jeans com um rasgo nos joelhos, camisa preta com gola redonda larga. Por cima usava um moletom cinza com zíper fechado até a altura do peito e o capuz para trás caído. Seu cabelo era cortado quase no zero, com fios bem curtos e uma barba rala, combinando com sua pele bronzeada.

- Será uma honra caçar com o senhor, Ole. O rapaz dizia balançando a cabeça para Ole, com um semblante de alegria bem discreto.

- O destino de vocês é Cleveland. Tomem cuidado...soube que existem dois irmãos por lá de grande valor em seu sangue. Disse Dávila em tom sério. - Um deles possui uma marca em seu braço...não apresentem nenhuma ameaça antes da hora ou sem um plano. Se ela se iluminar...recuem.

Ignorando a última fala de Dávila, Ole deu as costas e saiu caminhando do local, seguido por Archie Harlow que acenou com a mão para Dávila agradecendo pela oportunidade de sair em missão com Ole. Os dois tinham como destino Cleveland.

O sol estava próximo de nascer, Dávila fez um sinal para cima com as duas mãos de forma teatral pedindo para que todos se levantassem, e assim foi. Todo aquele pessoal que restara após a saída de Ole com Archie se levantava ao mesmo tempo. No céu um som foi escutado por todos, direcionando seus olhares para cima com exceção da mulher em seu trono. Dávila colocou a mão na testa olhando para cima abrindo a boca.

- Acha que ele conseguiu? Isso foi uma tarefa grande até mesmo para ele, minha doce líder.

Com a fala de Dávila, a mulher direcionou um olhar sério para ele. A palavra líder não era algo adequado, e ela não gostava de ser chamada assim. Durante eras, somente um podia ser líder de seu povo. Atualmente esse líder era Kurt Schott. Ela se achava apenas alguém que foi contra o silêncio que Kurt deseja manter contra o pessoal com sangue divino correndo em suas veias e sonhava em um dia trabalharem juntos. Boa parte era contra, ela apenas trouxe para fora esse desejo que todos tinham de saírem das sombras de humanos e semideuses. Mereciam que fossem reconhecidos após tanto tempo que o restante do mundo acabava com ele. Esse povo era aquele escolhido por Ártemis para preservar a natureza, ainda que isso significasse agir de forma radical.

- Não foi o que eu quis dizer. Eu só...

Antes de Dávila seguir com sua fala, o som foi ecoado no céu novamente. O som era de uma grande ave que se aproximava do templo de rochas, mas já podia ser observada de longe nesse momento. Essa ave tinha dois metros de comprimento, e suas asas abertas possuíam tamanho um pouco maior que seu comprimento quando abertas. Sua garras tinham trinta centímetros, e brilhavam na noite como se fossem feitas inteiramente de aço negro. Aquelas garras seriam capazes de atravessarem qualquer corpo facilmente. Um último som feito pela ave foi emitido ao sobrevoar por cima do templo.

- Aquilo nas garras dele...o que ele...não. Dávila dizia com uma surpresa, mas certo apavoro. - Você o deu permissão para isso?

A mulher sentada ignorava a pergunta de Dávila. A grande ave parou no ar, em uma grande altura do templo bem acima das escadas e de onde Dávila e a mulher se encontravam. Ela abriu suas garras e deixava algo cair emitindo um assobio no ar indo em direção dos dois. Dávila deu alguns passos para trás.

- Esse maluco, aquilo vai nos acertar. Vamos sair daqui.

A mulher apenas bocejou durante a fala de Dávila, não parecia se importar com o que a grande ave deixaria cair na direção deles. O que parecia ser uma encomenda da ave se aproximava em grande velocidade do solo. Quando o que foi solto caiu no chão, um grande som como se algo quebrasse foi feito de forma sufocante dentro do saco de pano marrom que agora vazava um líquido vermelho lentamente por baixo, manchando o saco.

- Isso é um nojo. Disse Dávila com uma expressão de nojo.

Nesse momento, a grande ave saiu de cima deles e vou em alta velocidade para outra direção, deixando o templo para trás em apenas alguns segundos. Dávila deu um assobio vendo que a ave tinha sumido tão rápido.

- Vantagens de voar, esse gavião real sempre tão exibido. Dávila tinha certo nojo em sua voz.

A grande ave que antes estava ali deixando uma entrega tratava-se de um Gavião Real.

Dávila se aproximou do saco de pano caído no chão e se ajoelhou. Ele segurou a boca do saco com uma mão o abrindo. Quando olhou dentro, soltou imediatamente fazendo uma cara de nojo maior ainda enquanto segurava sua vontade de vomitar.

- Isso foi um exagero! Como ele faz algo assim! Já não chega os malditos descendentes de gregos que mataram grande parte de nosso exército com aquela explosão tempos atrás, agora o Emil Wade quer uma guerra maior ainda?

O homem parecia exaltado com o que viu dentro do saco, enquanto a mulher não falava nada sobre o assunto. Dávila ordenou que um dos membros ali fosse até o saco e o abrisse para a mulher. Um jovem rapaz se aproximou do saco com medo devido à reação de Dávila, mas não questionou. Ele se ajoelhou devagar pegando o saco o abrindo, fazendo uma expressão de nojo também. Dávila o olhou como sinal para pegar o que estava dentro do saco e entregar a mulher sentada.

Ele enfiou sua mão puxando algo de dentro, um pequeno item. Esse item era redondo, com uma cor marrom claro quase se aproximando do bege. O pequeno item mais parecia uma pedra, mas ao aproximá-lo dos olhos era possível notar diversos detalhes em torno de sua estrutura, sendo o que estava esculpido em seu centro o mais chamativo. O símbolo no centro era de um sol, mas ele possuía um rosto e sua boca estava aberta com a língua de fora.

O rapaz se aproximou da mulher e se ajoelhou esticando a mão entregando para ela. O item estava preso em uma fina corrente de aço, podendo ser usado como um colar, mas estava na cor vermelha devido ao sangue que havia secado, além do que ainda estava fresco e escorria pelo saco. A mulher se inclinou para frente em silêncio e tirou do bolso de sua calça de couro justa um lenço branco, limpando a corrente deixando o pano completamente vermelho. Dávila parecia não acreditar no que ela faria com aquilo.

- O sangue...a cabeça da protetora que o usava...ela está naquele saco.

A voz de Dávila era um pouco nervosa, mas tentava manter a postura. O outro jovem rapaz saia de perto da mulher e pegava a boca do saco o abrindo. Quando deu uma puxada em sua base suja de sangue para cima, o motivo de tanto sangue escorrendo rolou pelo chão. Era a cabeça de uma mulher jovem, antiga protetora daquele item, e ainda tinha seus cabelos na cabeça. Ela parecia ter recebido um golpe direto no pescoço, bem abaixo do queixo que fez com que sua cabeça tivesse a base reta. Era como se quem fez isso quisesse a deixar em uma prateleira exposta. O jovem rapaz esperou pela ordem do que deveria fazer com a cabeça, mas a mulher fez um sinal para que ele retornasse ao seu lugar.

Dávila se aproximou da mulher sentada olhando melhor aquele item em sua mão. Naquele instante, a mulher jogou seu cabelo que estava preso para trás de seu corpo, e então se levantou entregando o item preso em um corrente para Dávila ficando de costas para ele. Dávila tinha entendido o que deveria fazer. Ele passou as mãos em volta do pescoço da mulher com a corrente, a prendendo atrás enquanto ela erguia seu cabelo para cima soltando em seguida. Quando se virou, o item redondo estava como um colar em seu pescoço. Combinava com seus olhos dourados.

- Ficou perfeito. Dizia Dávila a olhando encantado em como combinava com ela.

Ao direcionar o olhar para a cabeça no chão sangrando depois de alguns segundos, Dávila perguntava o que faria com ela.

- Vai queimá-la?

A mulher não respondeu, mas se abaixou em seu salto pegando pelos longos cabelos a cabeça da antiga protetora do item. Enquanto a segurava, ergueu na altura de seus olhos enquanto abria os da cabeça morta. Os olhos da antiga protetora estavam com uma coloração completamente cinza. Ao soltar um pequeno som indicando que por baixo da máscara a mulher tinha dado um sorriso, ela levou a cabeça para onde se sentava antes e a colocou como um troféu em exposição ali. Se virando para o pessoal abaixo da escada, todos focaram o olhar nela esperando que receberiam a ordem para avançarem em suas buscas, assim como Ole e Harchie fizeram momento antes.

Quando Dávila olhou a cabeça de olhos cinzas abertos no trono, lembrou de um detalhe.

- Acho que faz sentido agora...ela não era uma simples protetora, não é?

A mulher se mantinha em silêncio olhando o pessoal com a cabeça erguida, enquanto Dávila prosseguia.

- Ela tinha a capacidade de manipular o vento, e quando iria ser morta por Emil Wade tentou se desfazer no ar para fugir com o item. Dávila balançou a cabeça negativamente. - Uma pena que Emil foi mais rápido não acha?

A máscara da mulher deu um movimento sutil quando abriu um pequeno sorriso com Dávila falando. Ele continuou a falar.

- Ao ter sua cabeça arrancada por Emil...o processo para se desmaterializar foi interrompido, assim a essência dela que permitia a manipulação dos ventos acabou por subir em sua cabeça...literalmente

Dávila apontou para a cabeça no trono ao dizer a última palavra.

- Lembrei de algo também. Dávila olhou para o colar no pescoço da mulher. - Ela não era enorme e estava no Museu Nacional de Antropologia do México?

O homem andou para a frente parando ao lado dela na escada olhando o pessoal ali, soltando um pequeno estalo com a língua.

- Ah não. Disse ele acenando no ar. - Aquilo deve ser algo falso. Seria difícil proteger algo como aquela pedra enorme. Faz muito mais sentido ela ser um item pequeno, assim quem a protege poderia sempre a carregar, não é mesmo?

A mulher levou a mão até o colar em seu pescoço, passando os dedos levemente pelos relevos do pequeno item os sentindo. Ao longe, o sol estava nascendo aos poucos, o céu escuro clareava lentamente. Os pequenos sinais de luz estavam alcançando o templo de rochas. Uma voz calma e com um tom de quem era a autoridade máxima do local, apesar da mulher não achar isso, ecoou no silêncio do templo. Ela finalmente falaria algo.

- A que se encontra naquele museu é apenas uma rocha esculpida e jogada propositalmente para ser encontrada. Dizia a mulher de forma tranquila. - A verdadeira sempre esteve escondida dentro daquele reino, protegida por grandes guerreiros. Ninguém nunca ousou invadir o local para roubar, até agora.

- Eles convivem próximo de seus deuses, não é? Perguntou Dávila.

- Sim, mas tivemos o momento perfeito para invadir. Ou melhor...

A mulher passou a mão no cabelo levando alguns fios soltos para trás da orelha.

- Emil Wade soube analisar como se infiltrar. Ele é bom em reconhecimento do território. Enfim, só foi possível devido as circunstâncias.

Levando seus braços para a frente, a mulher passou a mão sobre os braços sentindo que os raios de sol se aproximavam.

- Os deuses daquele lugar não estavam, a situação está complicada pela interferência excessiva dos Primordiais. A mulher coçava a nuca. - Infelizmente vamos todos morrer se eles não se entenderem logo. Até lá, vamos nos divertir, não acha?

Ela erguia uma sobrancelha olhando para Dávila, que engoliu seco.

- Com certeza, vamos encontrar o pessoal que causou a explosão e matar todos. Inclusive o exército daquele Claudinho.

- Clovdie, Dávila. É Clovdie o nome dele. A mulher corrigiu Dávila.

- Que seja. Ele sorriu lembrando de Ole dizendo o mesmo antes.

A mulher se virou dando uma última olhada para a cabeça da antiga protetora, em seguida retornando a olhar para todos colocando uma mão na cintura e a outra na boca enquanto bocejava.

- É uma pena que ela precisou morrer com os outros. Tenho certeza que Emil não a mataria se não fosse necessário. Pela forma do corte, acho que não foi feito com a lâmina de prata negra.

- Ele usou as próprias garras... Observou Dávila.

- Imprudência da parte dele...mas deu certo. A mulher respondia com certo pesar na voz pela protetora. -  Vai ter seu descanso merecido minha jovem. Deixarei o que sobrou de seu corpo nesse trono, poderá ver todos os dias um nascer do sol maravilhoso.

Novamente a mulher levava as mãos até o colar sentindo seu relevo.

- Vamos negociar algo com Clovdie. Vamos evitar uma guerra desnecessária, seu sacrifício em proteger esse pequeno brinquedinho não será em vão. Realmente pode proteger um povo, mas será o meu povo. Espero que tenha ido em paz, agora descanse antiga protetora. Você merece sua paz depois de tanto tempo protegendo isso...Xail.

Ao soltar o colar, os raios de sol começaram a invadir o local iluminando todos ali presentes. No pescoço dela, o colar começou a emitir uma forte luz reagindo ao sol, mas principalmente por ser o primeiro nascer do sol longe de sua protetora. De certa forma, isso o tornava mais poderoso, já que a protetora morta, Xail, reprimia o verdadeiro potencial da pedra para manter isso escondido. Mas não mais. Agora outra pessoa a portava. Abrindo um sorriso por baixo da máscara, a mulher disse ao céu em voz baixa.

- Obrigada, Emil Wade. Graças à você agora eu a tenho.

Ela segurou o colar em seu pescoço sentindo o calor que ele emanava.

- Com isso vamos sobreviver à Clovdie e aquela turma que causou a explosão. Ah sim...

A mulher em seus trajes negros deu uma respirada de alívio.

- Uma das maiores relíquias do mundo, após tanto tempo está fora daquele reino. A maior preciosidade asteca...a Pedra do Sol

Em um movimento com a mão para cima e depois para baixo, a mulher deu a ordem para que todos seguissem com as buscas com aquele nascer do sol. Todos saíram do templo de rochas, cada um por seu caminho e destino diferente.

- Agora, meu querido Dávila...A mulher se virava para ele com seu colar que na verdade era a Pedra do Sol brilhando. - Não existe uma nação humana capaz de nos vencer.

A última relíquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora