Capítulo 2

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Voltar para casa depois de uma turnê era sempre um sentimento opressor, traumático. Frank poderia jurar que tudo tinha permanecido igual naquele pouco mais de ano viajando o mundo, mas era ver uma nova ruga no rosto de seu pai, um universo de Jamia do qual ele não fazia parte, que era jogado de volta para a realidade de que o tempo é cruel e não espera ninguém.

Gerard pediu um tempo, mas o conceito era tão amplo... Aliás, "tempo" e "férias" eram palavras que não existiam no mundo de Frank. Assim como ninguém pode deixar de ser quem é, Frank não podia se desvencilhar da música - eles eram uma coisa só. Não havia tempo para ele naquilo. Era na música que ele se encontrava, era no braço da guitarra que funcionava como uma extensão do seu próprio braço, que ele encontrava sentido para sua existência.

Depois de tanto tempo na estrada era bom estar de volta à cidade que cresceu, ver os rostos familiares, ser novidade no ambiente. Era melhor ainda ficar longe de Gerard para dar tempo da ferida sarar, das coisas se acertarem.

Deixando tudo muito aberto, voltaram os cinco no fim de 2008 para gravar uma versão de uma música de Bob Dylan para a trilha sonora de Watchmen. Gerard estava especialmente estressado e tenso naqueles dias de gravação e Frank não ousou chegar perto. A dinâmica era insuportável, mas ele sabia que tinha prazo para acabar. "Tempo", martelava em sua cabeça como o barulho de um relógio. Quanto era o que Gerard precisava?

Gerard dizia que Watchmen tinha mudado sua vida, que era seu quadrinho favorito e queria que aquele cover fosse perfeito e aquela era uma música de Bob Dylan. Tudo aquilo seria uma pressão insuportável, mas havia ainda o componente de um clipe dirigido pelo diretor do filme.

Agora quem precisava de tempo era Frank. De Gerard e sua passivo-agressividade, seus cortes e suas palavras ríspidas. De novo, o pensamento de se separar da banda às vezes cruzava a sua cabeça. Mas ele jamais iria, porque aquela era sua banda preferida, era o topo de sua vida. Era o auge de sua carreira. Era aquilo que ele mais quis desde o primeiro dia em que os viu tocando com tanta energia naquele palco tão baixo, tão pequeno, que se esticasse a mão tocaria a coxa de Gerard.

Ele podia suportar porque já estava habituado com aquilo. Gerard que era como um bumerangue: se aproximando e se afastando na mesma proporção. Pelo menos, naquele espaço, ele tinha Ray com quem achava inspirador criar e Bob, seu grande amigo. Acontecia que Gerard fazia parte daquela banda também, mas era só um detalhe. É, talvez esse fosse o jeito que Frank fosse encarar daqui pra frente.

Isso se Gerard não chutasse tudo para o alto. Um passarinho contou para Frank, mais tarde, que foi por causa de Mikey que Gerard não desistiu da banda. É claro, seu grande amigo Ray não o convenceria, a opinião de Bob não valia nada e Frank... Bem, a dinâmica era complicada.

Foi uma surpresa quando voltaram para o estúdio naquele junho de 2009. Frank borbulhava de ideias, levou seu caderno com todas as anotações que fazia madrugadas adentro, quando Jamia dava sua falta na cama, mas ele não conseguia dormir.

Duas semanas antes, Bandit, a filha de Gerard, veio ao mundo. A notícia poderia ter vindo do próprio Gerard, mas não, Frank ficou sabendo por terceiros. Se o nascimento da criança por si só o magoava, não saber da boca de Gerard quebrava seu coração. Gerard era seu melhor amigo, ou não era? Foi um desvio de percurso ficar apaixonado, mas era inevitável. Porque Gerard tinha essa mania de fazer todo mundo se apaixonar por ele e Frank era só mais um.

E agora o bebê vinha como um ponto final naquilo que acontecia entre os dois. Agora Gerard ia vestir a roupa daquele personagem e atuar como marido exemplar e pai perfeito. De qualquer forma, ainda seria difícil para Frank sequer assimilar essa relação - ele só viraria pai um ano mais tarde.

Conventional Weapons [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora