Capítulo 3

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Aquele era só o começo de um processo que seria insuportável, algo que sugaria a energia de todos e o os levaria ao limite. Mas não ainda, aqueles dias serviam para que voltassem a entender como funcionavam juntos e, puta merda, como funcionavam bem. Frank voltou para o estúdio como se tivesse sido nocauteado em um ringue, como se tivesse sofrido um assalto. Era sempre assim que ele se sentia quando discutia com Gerard.

Passando as mãos no rosto, ainda se sentindo deslocado, Frank sentia como se o mundo estivesse girando ao seu redor em uma velocidade que o deixava mareado. Dava alguns passos desnecessários enquanto caminhava pelo estúdio, tentando se lembrar de onde estava quando saiu para fumar. Não devia ter passado muito tempo, na realidade, mas ao mesmo tempo era como se meses tivessem passado.

Ray e Mikey não estavam mais por ali e tampouco importava onde estivessem. Frank não viu Bob porque a bateria ficava no canto, afastada por conta do barulho. Mas Bob o viu. E quando Frank passou as mãos pelo rosto, a correia pelos ombros e ajeitou a guitarra no colo, viu que alguém tinha se aproximado.

-- Frank, tá tudo bem? -- Era Bob, que tinha saído de onde estava apenas para checar o amigo. Frank levantou o rosto para olhá-lo, e ele podia ler que não, não estava tudo bem, mas precisava que Frank verbalizasse para que ele tomasse alguma atitude.

-- Tá sim, cara. -- Frank, respondeu quando, na verdade, queria expressar sua raiva por Gerard, seu ódio por toda aquela situação e por si mesmo, mas não podia. Deveria abrir um sorriso, engolir seco e seguir. Mas sem problemas, nisso ele era especialista.

Bob meneou a cabeça e deu meia volta por onde tinha vindo, afundando as mãos no bolso frontal do moletom preto que usava - ele era friorento e o ar condicionado do estúdio era muito gelado. Em algum momento do caminho, resolveu não comprar a ideia vendida por Frank e voltou para perto dele.

-- Eu to sempre por aqui, tá? Se quiser conversar. -- Disse casualmente para só então se retirar.

Frank ficou pensativo, olhando para o pequeno caderno que segurava com a ponta dos dedos. As folhas surradas indicavam a função daquele caderno: funcionava quase como um diário, grande o suficiente para que Frank derramasse perguntas e observações que virariam poemas, mas tão pequeno que caberia em seu bolso.

-- Bob? -- Frank se esticou, buscando o contato com o amigo por meio dos pratos da bateria que escondiam seu rosto. Ao ouvir o nome, olhou para Frank e acenou para que ele continuasse falando. -- Quer comer alguma coisa na lanchonete aqui do lado?

-- Vamos já.

Frank apoiou o caderno sobre o tapete no chão e jogou a caneta ao lado. Deslizou a palheta pelas cordas da guitarra e franziu o rosto quando soaram dissonantes. Era sempre a porra da corda sol que desafinava, era aquela tarracha. Por um momento se culpou, porque devia ter resolvido aquilo antes de atravessar o país. Aquela era a sua Les Paul favorita, mas a corda sol era tão sensível que sempre desafinava com facilidade. Talvez para um leigo, o semitom desafinado soasse perfeito, mas para Frank era quase uma dor.

Enquanto afinava a guitarra mais uma vez, olhou para a porta. Tinha a impressão que Gerard irromperia nervoso na sala e faria uma cena. Ou que retaliaria de um jeito que deixasse Frank desconfortável na frente dos amigos. Havia uma hesitação, uma espera dentro dele, Frank queria ver Gerard entrando por ali porque estava curioso para saber sua reação. Queria saber se Gerard tinha ficado muito nervoso, se tinha aceitado. Por vezes, sua cabeça fazia a cena com um, dois desdobramentos. Muitas vezes era quase como uma previsão.

Mas Gerard não entrou pela porta e depois de experimentar um pouco algumas progressões que tinha pensado - pisando em um ou outro pedal para criar um som específico ou tentar descobrir algo que não tinha pensado -, Bob veio buscá-lo para que fossem almoçar. Ou algo assim, porque já passava das três da tarde.

Conventional Weapons [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora