Will Solace&Nico Di Angelo

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[31 de Dezembro de 2020 (Véspera de Ano Novo) - 22h21, New York]

 - Acho que assim está bom. - ouvi meu padrasto dizer para mim, mas sua voz parecia distante. - Pode levar isso pro seu pai colocar na geladeira?

 Como em uma função automática, assenti e peguei o que quer que ele estivesse me dando para colocar na geladeira. Minha mão tremeu com o peso e, se não fosse pelos bons reflexos de ex-atleta olímpico de Jacinto, tudo teria ido para o chão. 

 Fiz um esforço para voltar minha atenção para o presente, observando o prato com a torta de limão decorada com estrelinhas caprichadas que Jacinto tinha feito com todo amor do mundo (porque era o doce preferido dos meus irmãos e do meu pai). Me senti uma pessoa horrível - mas do que já estava me sentindo - por quase ter desperdiçado horas de trabalho dele só por causa da minha tristeza. 

- Desculpe. - murmurei, agora segurando o prato firmemente com as duas mãos. 

Jacinto me lançou um olhar preocupado e balançou a cabeça. 

- Tudo bem, Will. - ele me tranquilizou. - Pode deixar que eu coloco lá. Vai ver se seu irmão está chegando.

 Assenti, entregando a torta para ele e indo pegar meu celular. 

 Toda vez que eu abria o aplicativo de mensagem e o contato de Nico aparecia quase no topo da lista, meu coração parecia quebrar-se mais um pouco - se é que isso fosse possível. Fazia dois dias que eu esperava uma resposta dele pela carta que eu havia enviado e nada... Nenhum sinal de vida. Nossa última conversa havia sido quase uma semana antes e tinha acontecido tanta coisa depois disso que mais parecia ter feito um ano. Abri a foto de perfil dele talvez pela milionésima vez naquele dia, admirando seu sorriso discreto e os cabelos levemente bagunçados sob a touca de inverno. Eu sabia que Reyna tinha tirado essa foto poucos dias antes do Natal, quando eles estavam no parque; sabia a razão pela qual ele estava rindo e lembrava de eu mesmo tê-lo convencido de colocar justamente aquela no perfil do Whatsapp porque ele estava simplesmente lindo. 

Ainda era como se eu pudesse escutar sua voz arrastada e sua risada rouca. Ainda podia ver suas bochechas ficando vermelhas quando eu o elogiava. 

 Eu não lembrava como era difícil sofrer por amor. Na verdade, acho que mesmo com Paulo nada tinha sido assim tão intenso. Será que um dia eu poderia superar? 

 E ainda por cima eu sabia que era a razão de Nico ter voltado a morar com Hades sem nem contrariar. Mais uma vez, a consciência de que eu era uma pessoa horrível me atingiu em cheio, quase me derrubando como um galho quebrado durante as ventanias de inverno. 

 Acho que era exatamente assim que eu me sentia: uma parte quebrada de algo que eu era, apenas a espera de alguém me consertar. Sei que pode parecer exagero. Tipo, eu conheço o cara a menos de dois meses! Mas há algo inexplicável no jeito que nos envolvemos, como se sempre estivéssemos atados um ao outro e o destino só estava esperando o momento certo para nos mostrar isso. 

 Estou prestes a fazer a comparação mais ridícula que eu poderia criar, mas não estou nem ligando. Aqui vai a descrição dos meus sentimentos: sabe quando você termina um livro e não sabe mais como continuar ou o que fazer? Quando você encontra aquele livro que mexe com suas emoções ao ponto de te fazer rir e chorar em um piscar de olhos? E, de repente, você se encontra tão envolvido naquela história que não lembra mais como era viver sem saber de tudo aquilo? 

 Então, era assim que eu me sentia naquele maldito Ano Novo. Nico era o livro que mudara minha vida de maneira drástica mesmo que em tão pouco tempo, mas, por conta da minha idiotice, eu não tinha sido capaz de terminar a história. Pelo menos não do jeito que eu queria. 

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