Capítulo 2: Um Diário, Não Muito, Empoeirado.

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— Não repara na bagunça, eu não tive tempo de arrumar. - Afirmei enquanto abria a porta para entrar em meu quarto.

Caminhei até perto de minha cama, onde deixei o livro na minha escrivaninha ao lado do teclado do computador, e me sentei na cadeira. Sam me seguiu, já se abaixando para apanhar roupas e canetas coloridas do chão, jogando tudo em cima da minha cama, cuja colcha azul estava amassada e enrolada porque eu tinha o costume de dormir abraçada a algo. 

— A bagunça eu já esperava, mas olha só isso… Reformaram, né? - Ele falou, dando uma volta, admirando o local, e então se dirigindo até meu guarda-roupa.

— Gostou? - Eu disse, sorrindo. - Fui eu que pintei as paredes, azul-céu-da-meia-noite e rosa bebê no rodapé, eu nunca vou me esquecer disso, tive que sair daqui até a loja de construção repetindo pra não esquecer. O resto a minha avó conseguiu um pessoal pra ajudar… Mas, ei, como foi a viagem? É disso que eu quero saber! 

— Senhora Safira, o que é isso? - Ele perguntou, sarcástico, enquanto tirava um pacote de granulado de chocolate e uma colher de dentro do armário.

— A viagem, Samuel, a viagem! - Eu disse, bem alto, enquanto ria.

Sam riu também e deixou as coisas onde as encontrou, andando até minha cama e se sentando na parte frontal da cama e deixando a mochila no chão.

— Bem, eu sei que você vai reclamar disso pelo resto da vida, mas, olha… - Ele pegou algo dentro da mochila e me entregou.

Os quadrados de papel eram fotos reveladas de Sam em Lisboa, Portugal. Nas fotos ele estava em vários pontos turísticos da cidade, como o Teleférico de Lisboa, o Elétrico 28 - que é um bondinho - e, o que me causou indignação, uma imagem dele sentado ao lado da estátua de Fernando Pessoa, no café “A Brasileirinha”.

— Tá de brincadeira, não tá? - Eu disse, me inclinando para frente para dar pequenos tapas nas costas dele. - Você é malvado Samuel, malvado, podia ao menos ter me levado junto, você sabe que eu amo esse lugar! 

— Ei, relaxa, nem valia a pena, o cara era muito caladão, conversei por horas e ele me ignorou! - Ele falou, rindo, enquanto se curvava para evitar ter a cabeça acertada por um dos tapas.

— Ora mais, seu infame! - Eu não consegui conter a risada, e voltei a minha cadeira, deixando as fotos na cama. - E, afinal, onde estão seus pais? Eles não aparecem em nenhuma dessas…

— Papai e mamãe? Não foram comigo… É o mesmo esquema de sempre, me mandam viajar pra eu não ficar sozinho em casa. Pelo jeito, a parte importante é o “em casa”. - Ele reclamou. - Falando nisso, que horas são? 

— Ah, espera. - Eu disse enquanto me abaixava para pegar meu celular debaixo de algumas roupas. - São… Dez horas? Mas já? Como que… 

— Meu Deus! Dez? Já? Eu tenho que ir, dez e quarenta a mãe me mandou estar em casa pra ela me pegar… - Ele falou, levantando para pegar sua mochila.

— O quê? Já vai? Mas você acabou de chegar…

— Minha mãe marcou um almoço especial comigo e com meu pai para comemorarmos, mas eu não faço ideia do que seja, deve ser sobre o trabalho deles, mas de qualquer forma, é tempo com eles, preciso ir. - Ele sorriu, desajeitado, colocando a mochila nas costas, já fechada. - Mas, ei, sorvete amanhã, não esqueça!

— Disso você lembra, né? - Eu respondi, bem humorada, enquanto me levantava. - Vamos, vou te levar até a saída. 

— Ah, sim, porque é a primeira vez que venho aqui. - Ele disse, sarcástico, enquanto saía pela porta andando de costas.

Os que Mergulharam em LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora