Capítulo 9: O Submerso.

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Acordei na rede, outra vez. Desprovida completamente da minha noção de espaço e de corpo, tentei levantar e acabei batendo com o braço na minha própria cabeça. Demorados alguns segundos para perceber a realidade, me levantei. 

— Safira! - Gritou Samuel, que se levantou da rede mais próxima e me abraçou. - Ufa, menina... Fiquei preocupado...

— Relaxa, garoto... Eu sou mais dura na queda que você... Umas três vezes. - Eu disse, completamente sem equilíbrio, me apoiando nos braços de Sam. 

— É, eu estou vendo. - Ele zombou, rindo e passando meu braço direito por cima de seu ombro para me ajudar. - Vamos, Matthew disse pra te levar até ele quando você acordasse...

— De que ele te chamou dessa vez? - Perguntei, fraca.

— Ariel. - Ele disse, com raiva, me fazendo soltar uma risada de verdadeira felicidade. 

Sam carregou-me até o convés. Do nada, uma memória da noite passada chegou aos meus pensamentos. Matthew, em pé, com um colar na mão, girando o leme para a direção correta com a outra. Me lembrei de tudo muito rápido, e minha primeira reação ao ver Matt foi gritar.

— Ora seu filho da...! - Eu gritei para ele, tendo minha fala interrompida pela mão de Sam, que tapou minha boca. Movi minha cabeça com força, tentando me libertar. 

— Ahaha... Foi divertido, não foi? Eu achei, Senhora Safira! - Ele disse, nos olhando com uma espécie de inocência.

— Divertido? - Eu disse quando Sam soltou minha boca, passando a segurar meus braços para me impedir de ir em direção a Matthew. - O que sequer foi aquilo? Você podia ter matado nós três! Qual o seu problema, Matt? Por que pulou naquele bicho? Aliás, o que era aquele bicho?

— Senhora Safira... Com o que sonhou? - Falou Matthew, tranquilo, enquanto levava a xícara de café à boca.  

A força que eu recém tinha recuperado através do ódio se esvaiu rapidamente. Como Matt sabia que eu havia sonhado? Eu sequer havia sonhado, em primeiro lugar? As lembranças aos poucos vieram para mim. 

— Tudo vale a pena... Eu... Vi o Fernando Pessoa... 

— Fale tudo... Tudo! Venha, venha, tome café, sim, sim, ajuda a memória, venha! Ahahaha! 

Subimos as escadas enquanto eu me lembrava de ter me visto caminhando sobre um plano de luz branca, sons de uma cafeteria me deixavam ouvir a voz entediada de uma menina, o plano logo mudava para as cores de um pôr-do-sol, as memórias tomavam lugar rapidamente. 

— Eu... Tive uma amiga... Eva... Eevee... Eve? Algo assim... Também tinha um lobo? Minha casa... Estava pegando fogo... Sam, o fogo... - Eu disse, confusa, sem saber o que achava ser um sonho ou uma memória. Havia pessoas e vozes que nunca tinha ouvido antes, fogo de cores tão exuberantes quanto uma aquarela, minha cabeça se tornou uma confusão.

— Não! Não! Isso foi antes de Fernando aparecer, não foi? O que veio depois? - Matthew disse.

— Fernando... E... Mais três... Fernandos? - Eu disse, confusa. - Tinha algo a ver com Black Bart... E eu... E Sam... Estávamos em um muro... Tinha mais gente, nesse muro, o sol estava... 

— Quem é esse Black Bart? Já ouvi você falar dele... - Perguntou Sam.

— Ele foi o mais bem sucedido dos piratas, estamos em um dos barcos dele... A frota dele era gigantesca mas eu lembro do Little Fortune, o Little Ranger, o Ranger, o Royal Fortune... - Eu respondi, me lembrando dos livros que li sobre piratas na minha infância e quase me distraindo.

Os que Mergulharam em LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora