Capítulo 7: No Balanço Do Mar.

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- É! Definitivamente não foram fantasmas! Mas foi alguma coisa. Mas não fantasmas. Não! - Dizia Matthew enquanto ria baixinho consigo mesmo, virando o timão com força como se o barco resistisse.

- Volte para a praia, Matthew! Não podemos sair!

- Não sou eu, senhora Safira! Vai ver o barco está com medo! Se eu fosse ele também teria, o Little Fortune aqui deve ter uns duzentos anos, não coloquemos o pobre velhote contra os barcos novinhos do rei...

- Com... Medo? Oh, por Deus... E agora? - Eu disse, andando até a mureta para observar a encosta diminuindo rapidamente de tamanho. - A gente... Pode voltar quando ele se acalmar?

- Temo que não, senhora Safira! O Little é meio medroso quando está comigo! Talvez seja melhor entrar no curso o quanto antes! Não deve demorar muito para completarmos, vai ser molezinha! Vai sim! Haha! - Ele disse, soltando o leme por alguns segundos para colocar as mãos em direção ao céu.

Estivesse ou não o barco vivo, dúvida essa que me deixava com uma certa pena de pisar forte demais no convés, agora a praia estava longe demais para voltar nadando. Teríamos de confiar em Matthew por enquanto.

- Desca, senhora! Descanse! Eu vou cuidar de tudo! - Gritou o homem, voltando as mãos ao leme.

Não questionei, apenas olhei para o manto que vestia e voltei para as escadas, descendo até me encontrar com Samuel, que estava novamente no chão, agora sentado. Me abaixei e o segurei pelo ombro, o dando apoio novamente e levando-o até uma das redes. Me deitei na rede ao lado, olhando para o teto e finalmente percebendo o quão o manto era confortável.

- A gente saiu mesmo da praia... Não... Não dá pra voltar... - Eu afirmei, sem saber como colocar aquilo em palavras.

-- Isso é culpa sua, você sabe muito bem disso. Mamãe e papai não sabem onde estou... Nem sua avó. - Ele disse, com a voz mais melancólica que repreensiva.

- É, mas... Eu... Você ouviu ele? Viu o que ele fez? Isso tudo...

- É... Talvez seja. Isso muda o que eu disse, Safira? - Sam parecia realmente empenhado em parecer com raiva.

- Não, Samuel... Não. - Eu sussurrei, olhando o teto. - Vou mandar ele voltar o mais rápido possível.

- Não dá mais tempo. Você disse que ia ajudar ele, vai ter que ajudar agora...

- Não, eu... - Tentei dizer.

- Não, já era. Estamos ficando mais longe em vez de voltarmos e eu sei que você também pensa o que eu disse... Precisa ajudar. Se voltasse seria para me deixar e isso seria pior.

- Sam... O quê?

- Eu vou com você. Fez uma escolha que provavelmente vai matar nós dois, mas eu vou com você. - Ele afirmou, deixando o medo escapar no final.

Sem ter o que dizer, me calei. Samuel, em algum momento, conseguiu dormir, e o soube pelos roncos que vinham de não muito distante, enquanto eu fiquei acordada, olhando para o teto e pensando em muito mais coisas do que minha cabeça era capaz de processar em uma noite. No meio da noite eu fui capaz de distinguir das ondas uma risada alta, e em certo momento os passos despreocupados sobre o chão antecederam uma fala em tom irônico:

- Para a torre! Haha! - Gritava Matthew como se fosse uma piada com bastante graça.

De repente me veio à cabeça um pensamento rápido e que eu tinha decorado de cor.

- Valeu a pena? Tudo vale a pena

se a alma não é pequena...

Os que Mergulharam em LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora