"— Você vai ser a heroína de todos nós, vai tirar aquele rei maluco!"
Estava com a forte sensação de ser observada. Que loucura sem tamanho acabou de acontecer?
Aos poucos fui voltando ao mundo, sentindo o silêncio da sala ser lentamente apagado de minha percepção pelo barulho ininterrupto da chuva. Estava frio, o chão estava molhado, e eu morria de medo. Como se não conseguisse pensar, me dirigi até o quarto em silêncio, arrepiada dos pés à cabeça, levando os livros e meu celular.
Chegando lá, enviei mensagens para Samuel, na tentativa de me acalmar.
"Sam, precisamos conversar..."
"O que foi, Safira? Tá tarde... Você quebrou outro barco?"
"Não."
"Eu não sei explicar por aqui... Vem de manhãzinha, por favor."
"Não posso de manhã... Mamãe está me prendendo em casa."
"Mas posso à tarde. Vou o quão cedo puder."
"Tudo bem... Mas venha."
A tentativa falhou miseravelmente, e passei o resto da noite em claro, olhando para todos os cantos do lugar, com as luzes ligadas e muito medo de algo aparecer.
Eu acordei no outro dia sem saber quando e como dormi, um pouco mais cansada que no outro dia, e fazendo a mim mesma a sincera questão: Foi um sonho?
Levantei com dificuldade para caminhar, fui até o banheiro e tirei a mecha azul de cima de meu rosto, lavando os olhos e olheiras com água e tentando despertar de verdade. Aos poucos percebi que estava tarde novamente, o sol estava muito forte e de remanescente da chuva sobrou apenas o cheiro de terra molhada. Ao pensar nisso, voltei ao meu quarto e comecei a procurar o diário, encontrando-o debaixo de uma pilha de roupas, sem um pingo de poeira ou de água sobre ele.
Eu queria acreditar que aquilo era uma ilusão, mas sabia que era o contrário.
Minha avó deixou um bilhete.
"Leia o diário, com certeza seu avô iria querer que lesse... Que tal conversarmos de noite? Explico tudo. Mas não me espere, hoje eu vou chegar tarde, e talvez chova novamente hoje a noite, então não precisa lavar a roupa. Com amor: Vovó".
Bem, ela admitiu que achar o diário foi coisa dela, mas, enquanto tomava banho, várias outras questões começaram a surgir em minha mente. Ela conhecia Matthew? Os dois estavam planejando aquilo? Se sim, por que ela não falou nada no bilhete ou no dia anterior? E mais importante...
— Era verdade?... - Eu disse, com a água quente escorrendo pelo meu rosto.
Saí de lá enxugando os cabelos com a toalha de rosto. Chequei as horas, dez e meia da manhã, e, olhando a conversa que tive com Samuel, me lembrei do combinado: Sorvete. Separei as roupas e as deixei na cama enquanto vestia uma desleixada e provisória. Fui até a cozinha e peguei um pão, presunto e queijo, montando um pequeno sanduíche para comer com o café com leite.
— Seja lá o que estiver acontecendo... Bom dia, mundo. - Eu falei, para mim mesma.
Coloquei uma música animada para distrair e, na verdade, acabei fazendo o contrário. Dançando enquanto lavava a louça e cantava, não parava de me imaginar em situações dignas de personagens de filmes, e me encontrei uma ou duas vezes parando a atividade para posar e me perder em outros pensamentos bobos. Infelizmente, grande parte dos pensamentos acabava me trazendo de volta ao caderno, e esse era o momento em que eu mudava de canção. Devo ter ouvido apenas o início de pelo menos quinze seguidas.
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Os que Mergulharam em Luz
FantasíaSafira Corais da Costa e Silva é uma menina que uns chamarão de corajosa, outros, de azarenta, outros, de maluca, e esses farão o papel de dizer: "Isso é loucura!". Ao que, ela responderá, sabendo o que está por vir páginas a frente: "E o que não fo...