— Senhora Safira? - Ouvi a voz áspera de Matthew, muito mais próxima do que eu gostaria.
— Bom dia, Matt... Pode me dar um espacinho? - Perguntei, piscando os olhos várias vezes para acostumá-los à luz do ambiente.
Matthew moveu-se para o lado com um pulo. Olhei para os lados, levantei o torso, tentando me situar na realidade. Estávamos na cabana, sim, dormimos lá... Eu pude ver a luz do sol adentrando por entre as folhas do teto e brechas das paredes, procurei a porta de pano, que tremulava com o vento para frente e para trás, e vi o céu alaranjado. Rolei meus olhos sobre o lugar. Matthew sorriu, seus olhos verdes cruzaram com os meus e ele pareceu querer dizer algo, mas não moveu a boca. Juntou as mãos e levantou-se.
— O que aconteceu? - Eu questionei e observei que o diário estava nela. - Quando isso...? Quer saber, esquece...
— Senhora Safira, se me permite... É... Se quiser, pode por favor me contar como foi? Com quem se encontrou? O que viu?
— Matt... Eu... - Me perdi nos pensamentos. Minha mente fez um círculo por tudo que conhecia, observei pessoas passando alegremente pela porta enquanto me lembrava de minha avó, da imagem que lentamente caminhava para minha direção. - Eu vi uma criatura grande... Uma sombra... E eu falei com o Fernando Pessoa? - Eu ri, ele também, mas foram sons diferentes. - Espera, como...
Matthew se levantou, passando os dedos no emaranhado de pelos da barba. Seus olhos se distraíram de mim, passaram por toda a cabana, pelo diário, pelo chão. Rapidamente, o moço colocou as mãos para trás do corpo, virou-se para a porta e virou-se novamente, me olhando. Percebi, apenas agora, que ele estava utilizando uma vestimenta bege com desenhos quase abstratos que lembravam barcos.
— E que roupa é essa? Aliás, onde está Sam? Quanto tempo eu dormi, heim? - Falei, esfregando o olho esquerdo com a mão livre.
— Não muito, mas é pouco até irmos embora. A vestimenta é para a festa, lembra?
— Ah! Sim, a que Átina falou... Sam está lá?
— Sim, os guardas vieram nos buscar mas pedi um tempo até que a senhorita acordasse.
— E... Te deixaram? Sozinho? Comigo?
— Sim! Claro, por que não deixariam?
— Você fugiu, né, Matthew?
— Você não sabe disso.
Matthew riu e jogou para mim um conjunto de tecidos dobrados, beges, com listras diagonais em azul e verde alternadas. O moço saiu da cabana, sendo recebido por gritos indistinguíveis em repreensão. Abri a roupa para me encontrar com uma calça e uma longa blusa de cores e desenhos semelhantes, feitas de um material estranhamente aveludado, acompanhadas de uma corda composta de algum tipo de vinha seca. Levantei, vesti-me, e encarei a corda, um tanto confusa.
— Senhora Safira? - Perguntou a voz de Matthew, vinda da porta.
Me virei em um espanto Matthew estava com o rosto para dentro da cabana, apenas a cabeça, com o corpo escondido para a parede da esquerda. Tinha uma mão sobre os olhos e estava com a face para a parte vazia do lugar.
— Matthew! Que... Que susto, seu maluco!
— Sim! Eu sei, só queria lhe perguntar antes de irmos, se eu morresse, o que faria? - Ele disse, tirando a mão dos olhos, ainda com estes fechados, para apontar na direção do nada como se eu lá estivesse.
— O quê? - Surpreendi-me. - Morrer? Eu não sei? O que se responde pra isso, chorar?
— Não, senhora, digo, iria para casa?
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Os que Mergulharam em Luz
FantasySafira Corais da Costa e Silva é uma menina que uns chamarão de corajosa, outros, de azarenta, outros, de maluca, e esses farão o papel de dizer: "Isso é loucura!". Ao que, ela responderá, sabendo o que está por vir páginas a frente: "E o que não fo...