capítulo 1

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Harry Potter deixou seu cigarro queimar até o filtro sem dar uma única tragada. Ele não queria a nicotina; Ele queria a fumaça acre que o lembrava de sua mãe. Se inalasse lentamente, quase podia sentir o fantasma da gasolina e do fogo. Era revoltante e reconfortante ao mesmo tempo, ele sentiu um calafrio em sua espinha. O tremor percorreu todo seu corpo até a ponta dos dedos, derrubando um pouco de cinzas. As cinzas caíram na arquibancada, no espaço entre seus sapatos, sendo levada pelo vento.
Ele olhou para o céu, mas as estrelas estavam ofuscadas pelo brilho das luzes do estádio. Ele se perguntou – não pela primeira vez – se sua mãe estaria o observando. Ele esperava que não. Ela iria espancá-lo e voltaria para o inferno se o visse sentado deprimido como estava. Uma porta abriu-se, grunhindo atrás dele, o espantando de seus pensamentos. Harry puxou seus pertences para mais perto, ao seu lado, e olhou para trás. O treinador Slughorn fechou a porta do vestiário e sentou-se ao lado de Harry.  
 
– Não vi seus pais no jogo –, disse Slughorn

– Eles não estão na cidade –, respondeu Harry.

– Ainda ou outra vez?

Nenhum dos dois; mas Harry não diria isso.

Ele sabia que seus professores e o treinador estavam cansados de ouvir a mesma desculpa, sempre que perguntavam sobre seus pais, mas era uma mentira tão simples que era sempre usada. Isso explicava o porquê ninguém jamais viu os Potters pela cidade, e o porquê Harry tinha preferência por dormir na escola. Não era que ele não tivesse um lugar para morar. Era mais porque sua situação de vida era ilegal. Millport era uma cidade moribunda, o que significava que havia dezenas de casas no mercado e que nunca seriam vendidas. No último verão, ele havia se apropriado de uma casa em um bairro calmo povoado principalmente por idosos. Seus vizinhos raramente deixavam o conforto de seus sofás e sabonetes diários, mas cada vez que ele entrava e saia se arriscava a ser descoberto. 

Se as pessoas percebessem que ele estava ali, começariam a fazer perguntas difíceis. Geralmente era mais fácil entrar no vestiário e dormir lá. O porquê Slughorn o deixara escapar sem notificar às autoridades, Harry não sabia. E achou melhor não perguntar. Slughorn estendeu a mão. Harry passou-lhe o cigarro e assistiu Slughorn o apagar e jogar nos degraus de concreto. O treinador virou-se para encarar Harry.

– Pensei que eles fariam uma exceção hoje à noite –, disse ele.   

– Ninguém sabia que seria o último jogo –, replicou Harry, olhando para a quadra.    
A derrota de Millport está noite os tirou do campeonato estadual dois jogos antes das finais. Tão perto, tão longe. A temporada acabou exatamente assim. Algumas pessoas já estavam desmontando a quadra, tirando as paredes de acrílico e rolando o piso modular sobre o chão duro. Quando terminassem, seria novamente um campo de futebol; não sobraria nada de Exy até o outono. Harry sentia-se mal vendo aquilo acontecer, mas não conseguiu desviar o olhar.    

Exy era um esporte modificado, um tipo evoluído de lacrosse em uma quadra de futebol com a violência do hóquei no gelo, e Harry amava cada parte dele, da velocidade até sua agressividade. Era a única lembrança de sua infância que ele nunca tinha sido capaz de esquecer.   

– Eu vou avisa-los sobre o placar mais tarde –, disse ele, porque Slughorn ainda estava olhando para ele. – Eles não perderam muita coisa.

– Talvez, mas ainda não –, disse Slughorn. – Tem alguém aqui que veio ver você.    

Para alguém que passara metade de sua vida fugindo do passado, eram palavras de um pesadelo. Harry levantou-se em um pulo colocando a bolsa sobre o ombro, mas o som de um sapato atrás dele o advertiu de que era tarde demais para escapar. Harry virou-se para ver um grande estranho parado na entrada do vestiário.    

All For The Game - (adaptação drarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora