Capítulo 14: Cartas.

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14.

Jiang Cheng abriu os olhos e a luz forte que bateu contra o seu rosto quase o cegou, sendo obrigado a colocar o braço em frente à face. Abaixo do seu corpo deitado podia sentir a maciez da erva húmida que molhava as suas roupas, trazendo uma sensação revigorante ao seu corpo quente. O cheiro que pairava no ar lembravam as manhãs de primavera, o cheiro da erva verdejante, das flores que começavam a florescer, do ar límpido e fresco... ele nunca soube descrever as sensações que aquela estação do ano lhe trazia, porém era a sua favorita por lhe trazer uma paz tão incomum.

Aos poucos foi-se acostumando com a claridade e sentou-se, olhando à sua volta e deparando-se com um lugar que nunca havia visto antes: uma vasta planície verdejante com árvores e pequenas flores que brotavam e largavam o seu cheiro adocicado, porém, o cheiro que predominava era o das flores de cerejeira. Jiang Cheng tinha crescido num lugar rodeado de flores, contudo nunca havia visto tantas cerejeiras juntas.

— A-Cheng?

O sorriso do jovem desfez-se quando ouviu aquele apelido carinhoso que somente a sua irmã usava, contudo não era a voz dela que acabava de o proferir e sim uma outra voz. Uma bem familiar também.

Quando se voltou para fintar, ele o viu.

— Lan Xichen?

O sorriso amável adornou os lábios do homem que habitualmente usava as suas vestes brancas e azuis claras do Reino de GusuLan, todavia, ali na frente de Jiang Cheng, estava um homem completamente descontraído e livre. As suas roupas eram práticas e humildes, já os seus cabelos estavam completamente soltos e esvoaçavam com a pequena brisa.

O olhar de Jiang Cheng pousou sobre a testa do outro homem e logo notou que a fita simbólica dos Lan não estava mais ali.

— Onde está a sua fita?

O outro homem o olhou confuso.

— Por quanto tempo você dormiu? — questionou o mais velho, soltando uma pequena risada enquanto esticava a mão na direção do outro. — Venha, o nosso filho está rabugento e não para de perguntar por você.

Jiang Cheng arregalou os olhos, assustado.

— N-nosso... filho?

— A-Cheng, você fica tão fofo quando acaba de acordar e fica perdido no tempo. — comentou Lan Xichen, levando o polegar à bochecha do outro e fazendo-lhe uma pequena carícia. — Queria beijá-lo aqui e agora, mas temos que ir ou o seu filho destrói a aldeia inteira com o mau humor que herdou de você.

O choque era tanto que Wanyin se deixou guiar pelo mais velho, parecendo uma marioneta nas mãos do outro que segurava a sua mão e caminhava na sua frente. Lan Xichen olhava para trás uma vez ou outra e esboçava o seu costumeiro sorriso que fazia os seus olhos se fecharem, deixando o mais novo cada vez mais desnorteado e sem reação.

— Papai!

A voz estridente de um garotinho o chamou de volta à realidade e viu uma figura pequena correr com tudo na sua direção. O instinto de Jiang Cheng foi abrir os braços e deixar que o pequeno se jogasse nos seus braços e abraçasse fortemente o seu pescoço. Sem saber o que fazer, Wanyin correspondeu ao abraço da criança e um sorriso brotou naturalmente nos seus lábios, sentindo o seu peito apertar confortavelmente, principalmente quando Lan Xichen se juntou ao abraço.

E sem saber o porquê, as seguintes palavras saíram da sua boca:

— Eu amo vocês.

Fechou os olhos com força e lágrimas de felicidade escorreram pelo seu rosto.

[XICHENG] - Coroa VaziaOnde histórias criam vida. Descubra agora