Começo da catástrofe

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LAYLE
 
Naquela manhã a escola estava mais movimentada que o normal, diversos alunos de outras escolas andavam de um lado pro outro conversando de maneira animada, então lembrei que as escolas permitiam alunos de outras escolas visitassem seus possíveis rivais, o campeonato começaria amanhã então o dia hoje seria agitado, bom, não pra mim.

Ao me aproximar do meu armário percebi que alguns garotos com um fardamento de outra escola estavam encostado nele conversando. Eles pararam de conversar como em um estalar de dedos quando eu me aproximei:
 
-Podem dá licença, esse é o meu armário.
 
O garoto que estava mais próximo se afastou minimamente, o suficiente para que eu abrisse apenas um pouco. Eles observavam cada movimento meu, eram cinco garotos que me observavam como um predador observava sua presa, eu odiava essa sensação.

Estava prestes a sair dali quando o Jake chegou, sem educação ou delicadeza nenhuma ele passou pelo meio deles e abriu o seu armário com mais brutalidade que o necessário quase acertando um dos garotos. Diferente de mim eles saíram e sussurram algo parecido com “A gente se resolve no campo" alto o suficiente pra que o Jake ouvisse, mas ele ignorou, encostei no armário e olhei pra ele  que realmente parecia não se importar com a tal “rivalidade” que impunham entre os times:
 
-Eu estou realmente na dúvida se te respeitam só por ser homem ou pelo seu casaco de time.
-Eu também não sei, se for por ser homem eu não posso fazer nada, mas se o casaco ajudar a manter eles longe de você…
        
Em uma fração de segundo ele tirou o casaco e jogou em cima de mim, cobrindo minha cabeça. Quando reagi e tirei o casaco que havia tampado meus olhos ele já havia se virado de costas e saído, ele realmente levou aquilo a sério?

  Bom de qualquer forma talvez desse certo, vesti o casaco e fui andando pelo corredor até um aviso no mural me chamar atenção. Assim que o li me arrependi imediatamente de ter ido pra escola aquele dia. Basicamente o aviso dizia que a abertura do campeonato ia ser na nossa escola e todos os alunos estavam sendo convocados a encher balões e ajudar na decoração do campo.

  Por isso os corredores estavam tão movimentados, olhei em volta até ter a certeza que não tinha nenhum professor por perto e fui até a biblioteca, passaria a manhã escondida lá. Infelizmente meu plano foi por água a baixo assim que cheguei na porta da biblioteca e vi que estava trancada. Tinha um senhor limpando a chão ali perto então me aproximei pra perguntar:
 
-Com licença, por que a biblioteca está trancada?
-Ordens do diretor. Ele mandou trancar a biblioteca e todos as salas dos outros clubes.
-Aquele velho maldito, ele só fez isso pra obrigar os alunos a irem ajudar no campo. Obrigada pela informação senhor.
  
Ele apenas acenou com a cabeça e continuo o seu trabalho, com toda certeza eu não iria para aquele campo. Eu sabia que tinha uma saída de emergência no refeitório, não importa o quanto isso fosse errado, eu não ia ficar assistindo o Wendel se gloriando e se exibindo enquanto eu enchia balão.

Andei de maneira sorrateira até a porta do refeitório, depois de verificar que ninguém estava olhando eu entrei, sairia dali o mais rápido possível. E se fosse necessário justificaria minha falta com alguma desculpa depois.

Antes que eu pudesse alcançar a maçaneta da porta de saída de emergência, senti alguém atrás de mim, não consegui reagir a pessoa segurou meu braço com uma mão e tampou a minha boca com a outra, meu coração estava a mil, o que eu poderia fazer? Tinha sido pega em flagrante fazendo algo errado.
 
-O que pensa que estava fazendo? Estava realmente tentando  fugir?
 
Demorei alguns segundos pra reconhecer a voz e quando ele finalmente me soltou confirmou minhas suspeitas.
 
-Pitter? O que você tá fazendo aqui?
   
Ele se afastou e se sentou em um dos bancos do refeitório, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
 
-Não é óbvio? Eu vim ver o time maravilhoso das minha antiga escola em ação.
 
Tive que respirar fundo várias vezes até meu coração voltar ao normal. Me aproximei dele mas não sentei.
 
-Da próxima vez que fizer algo parecido com o que acabou de fazer eu vou quebrar o seu braço.
- Não se preocupe, eu confio totalmente em suas palavras.
 
             De repente me veio na mente a última vez que estive com o Pitter, eu nem sequer sabia se ainda ia ver ele depois que nos beijamos, e do nada ele aparece na minha frente, aquilo só podia ser uma piada.
 
-Você estava me seguindo?
-Eu estava te procurando desde que pisei na escola, aí te vi de longe e você estava com cara de que ia fazer algo errado, então eu te segui. Não achei que fosse fugir.
-Eu teria conseguido.
-Você seria uma ótima criminosa, ninguém desconfiaria  desse rosto angelical.
-Corta essa, ainda tô com vontade de quebrar seu braço.
   
Ele começou a rir, mas fomos interrompidos por vozes vindo do outro lado do refeitório, da sala que serviam a merenda, alguns alunos saíram lá de dentro. Provavelmente estavam roubando comida. Reconheci eles imediatamente, eram alguns dos jogadores da nossa escola, Wendel e mais três. Assim que nos viram eles se calaram.
 
-Parece que você não era a única que estava fazendo coisas erradas.
 
 
Todos nos encaravam com raiva, se fosse em outra situação eu os teria denunciado para o diretor, mas sabia que era inútil, eles sairiam impunes, um deles estava com uma mochila, que eu tinha certeza que eu estava cheia de comida roubada. Não tinha como negar o que estavam fazendo, então Wendel tomou a frente e se aproximou:
 
-Ora ora, olha só o que temos aqui, que casal bonito, mas não sei não, esse não parece o local ideal pros dois pombinhos acasalarem, por que não dão um fora?
- O refeitório da escola também não parece o local ideal pra roubar comida.
 
Ele se aproximou mais de mim fazendo com que eu desse um passo pra trás, então ele se aproximou mais e passou o braço em volta do meu ombro me trazendo pra mais perto dele, e disse próximo ao meu ouvido:
 
-Você não me viu roubando comida, e eu não vi você aqui com esse mané. Não acha um bom acordo?
 
 Eu não consegui responder, senti como se tivéssemos voltado aquela noite, quando ele me imobilizou e me tocou sem minha permissão, ainda me sentia como um animal indefeso prestes a ser devorado, inferno!!! Odiava essa sensação!!! Odiava me sentir incapaz!! Odiava sentir que não podia revidar!!
 
-Bom, percebi que você tá mais animada do que nós pro campeonato. Tá até com um casaco do time, não se preocupe, vou fazer um gol pra você enquanto você torce por mim.
 
Ele afastou seu rosto do meu só então soltei a respiração que nem percebi que havia prendido, seu braço ainda estava ao redor do meu ombro, empurrei o braço dele de mim e disse com firmeza:
 
-Vou torce sim, pra que alguém quebre sua perna durante o jogo.
 
 O sorriso dele se desfez e ele agarrou pela minha camisa me erguendo como se fosse uma boneca até a altura dos seu rosto, ele estava com sangue nos olhos, sua raiva era nítida e sua força era realmente incrível
 
-O que você disse?
 
No mesmo segundo que ele me agarrou Pitter se levantou e se pôs entre nós, segurando o braço do Wendel.
 
-Você Não vai querer fazer isso.  É melhor largar ela.
 
Ele direcionou o mesmo olhar de raiva pro Pitter e me soltou, ele e os demais garotos se viraram e começaram a caminha em direção a saída,  eu estava meio atordoada, então as lembranças da minha última conversa com a Katt me atingiram como um flashback e me lembrei do que eu tinha prometido a ela: “Pode ter certeza que vou socar a cara do Wendel a próxima vez que o vê”. Eu precisava fazer aquilo ou viveria o resto da minha vida com medo.

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