JAKE
Não me lembro de ter ficado tão entediado em toda a minha vida, passei os últimos dois dias em casa sem fazer absolutamente nada, e vivendo a base de saladas e sucos. Minha mãe sempre foi exagerada quando se tratava da minha saúde, e fazia questão de ficar me monitorando. As vezes aquilo me sufocava, se não fosse pelo meu pai, provavelmente eu já teria enlouquecido. Eu estava no meu quarto, deitado na cama fitando o teto quando ouvi umas batidas na porta e minha mãe abrindo logo em seguida:- Filho. Como você tá?
- Mãe é a segunda vez que você vem aqui me perguntar se eu estou bem em menos de vinte minutos.
- Mas você tá?
-Estou mãe.
-Não deveriam pegar tão pesado no treino, precisa ter mais cuidado.
Eu suspirei fundo, odiava mentir pra minha mãe, mas eu nunca falaria que apanhei pra uma mulher na escola, Layle tinha razão, acabaria com minha masculinidade.
- Eu preciso ir trabalhar. Qualquer coisa me liga.
- Tá bom.
Eu não entendia por que ela mandava eu ligar, ela mesmo ligaria de meia em meia hora pra saber como eu estava. Depois de um tempo quando já estava sozinho fui até a cozinha procurando alguma coisa pra comer, abri a geladeira, e não encontrei nada além de saladas, frutas e algumas verduras, fui no armário, e estava vazio. Provavelmente mamãe havia escondido a comida pra me impedir de comer alguma coisa que não fosse verde.Pensei em ir até a casa de algum dos meus amigos pra poder comer alguma coisa, mas a essa hora todos estariam na escola. Acabei ficando sem opção, iria procurar a comida que mamãe havia escondido. Ela não era muito criativa, então só havia um lugar que eu nunca procuraria na casa, mas como eu estava sozinho, não tinha ninguém pra reclamar; O escritório do meu pai!
Pra minha sorte a porta não estava trancada, eu observei aquele lugar por alguns segundos, era tão silencioso, o tic-tac do relógio na parede era o único barulho ali, me lembro de quando eu era pequeno papai montou um canto naquela sala pra que eu pudesse brincar no mesmo cômodo que ele.
- Quanta nostalgia, qual foi a última vez que eu entrei aqui?
Falei pra mim mesmo, não me lembrava a última vez que estive ali, depois que cresci aquele lugar deixou de ser divertido. Observei alguns papéis em cima da mesa, o que era estranho por que papai era muito organizado, não contive a curiosidade e me aproximei, esquecendo totalmente a verdadeira razão de ter ido ali.
Eu vi que os papéis na verdade eram fotos e alguns álbuns antigos, imaginei que papai estava vendo aquelas fotos antes de sair pro trabalho, por isso estavam bagunçadas.Me sentei na cadeira atrás da mesa e comecei a olhar as fotos, muitas delas eu não lembrava, apareciam nossa família reunida quando eu era criança.
Então uma foto no álbum me chamou atenção e ao folhear ele percebi que aquele álbum era todo de fotos minha e da Layle de quando éramos pequenos, lembrei que Layle era minha única amiga na época, o sentimento de nostalgia bateu com mais força ainda. Na maioria das fotos estávamos sorrindo e brincando em algum parque, ela tinha um sorriso lindo, o mais lindo que eu já vi, mas eu não via mais ela sorrindo. Ela nunca mais sorriu desde essa época.
- Esse eram bons tempos.
Levei um susto ao ouvir a voz do meu pai vindo da porta, estava tão distraído que não o ouvi chegando. Não havia com o disfarçar o que eu estava fazendo.
- Pai, não vi você chegando, desculpa, eu não deveria ter entrando aqui sem permissão.
- Não é como se esse escritório fosse um lugar proibido pra você, não me importo que entre aqui.
Ele disse se aproximando e observando as fotos que estavam na minha mão.- Ela sempre teve um brilho tão intenso nos olhos.
Ele estava se referindo a Layle, era verdade, aquele brilho que ela carregava nos olhos junto com aquele sorriso maravilhoso eram capazes de espantar qualquer escuridão ou sentimento ruim.
- É uma pena que vocês tenham se afastados, eram tão unidos. Ainda fala com ela?
- Falo, na escola.
- Deveria chamar ela pra jantar com a gente algum dia. Como nos velhos tempos, nós também sentimos a falta dela.
Meus pais eram bastantes apegados a Layle, acho que essa é mais uma razão pra nos darmos tão bem, ou pelo menos era.
- Ela não é mais assim.
- Assim como?
- Hãm... Ela não tem mais esse olhar, e nem rir mais assim.
Percebi como aquelas palavras haviam pesado sobre mim, eu sabia que ela estava diferente, muito diferente, mas quando eu assumi aquilo pra mim mesmo, sentir uma dor profunda por não fazer nada pra impedir que aquele brilho se apagasse. Nós não havíamos nos afastado, eu que me afastei.
- Entendi. Ela passou por umas fases ruins, era meio inevitável que isso acontecesse.
- O senhor não deveria tá no trabalho?
Ele sorriu e se afastou procurando uns papéis num pequeno armário que tinha ali.
- Eu só esqueci uns documentos.
- Eu posso ficar com essa?
- Pode ficar com o álbum se quiser.
- Eu só quero essa.
Me referi a uma foto em especial que eu estava segurando, nela aparecia Layle e eu, tínhamos a base de uns nove anos, estávamos em um parque, Layle estava em um balanço e eu estava empurrando ela, ela estava em um sorriso enorme no rosto com seus cabelos castanhos escuros balançando com o vento.
Aquela era uma felicidade inocente. Quando não nos preocupávamos com nada, quando ainda éramos amigos e compartilhávamos sonhos, sofria internamente por saber que aquele tempo não voltaria, mas nada ia me fazer largar aquelas recordações.
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Nas linhas do destino
RomantizmDois amigos de infância, que agora estão no ensino médio, correndo atrás dos seus sonhos e metas, enfrentam uma série de problemas que ameaça a amizade deles. Mas o destino é cruel e a vida imprevisível. Acompanhe o desenrolar e desfecho dessa histó...