JAKE
Eu odiava dias frios, e aquela manhã, estava exclusivamente fria, eu estava sentando na minha carteira na escola, sem dar a mínima atenção pra que o professor estava falando. Senti um papel amaçado caindo em mim, alguém havia jogado, olhei na direção do Davie, que fez um sinal pra mim abri-lo.Eu abri e reconheci imediatamente a letra do Davie “A gente precisa conversar, é sobre o que rolou na festa com a Layle”. Senti meu coração acelerar quando eu li aquilo, minhas mãos começaram a suar, olhei pra ele sem esconder a surpresa, será que ele sabia o que realmente tinha acontecido com ela? Parte de mim queria a verdade, mas a outra parte estava com medo de descobrir que foi eu quem havia a machucado.
-Está tudo bem aí Jake?
Levei um susto com a voz do professor chamando minha atenção, agora todos os alunos olhavam pra mim o que me deixou mais nervoso.-Não. Quer dizer… Não muito… Eu… posso tomar um ar?
O professor fez apenas um gesto com a mão para a porta e eu saí. Fui em direção ao bebedor mas não tomei água, encostei na parede com os olhos fechados e a cabeça pra trás. Sentia a culpa me consumindo mais a cada segundo, culpa por ter deixado a Layle sozinha na festa, culpa por ter gritado com ela. Se eu fui capaz de gritar com ela sóbrio, eu poderia ter machucado ela bêbado, pensar nisso me doía como o inferno.
-Tá tudo bem cara?
Abri os olhos e vi Wendel na minha frente me encarando.
-Você tá com uma cara péssima, isso é ansiedade por causa do campeonato? O, treinador falou que você tá treinando como louco.
-Posso perguntar algo pra você Wendel?
-Claro.
-Na última festa na casa do Davie, Sidney disse que viu você e a Layle.
-Estávamos conversando.
-Só isso?
Ele que estava tomando água parou pra me olhar, agora o seu olhar não era de preocupação e sim de desconfiança. Eu duvidava muito que ele assumiria, mas eu precisava de respostas.
-Você precisa ficar longe daquela garota, ela é problema, ela te mandou pra enfermaria, e ela maltrata todo mundo ao redor dela, inclusive você.
-Não foi ela que me mandou pra enfermaria.
-Que seja.
-Você não respondeu a minha pergunta.
- Eu não tenho que te responder nada.Depois de dizer isso ele saiu em direção a sala, como eu previ ele não assumiu. O sinal tocou e logo o corredor começou a encher de alunos, que iam pra lá e pra cá, conversavam todos ao mesmo tempo, nunca tinha notado como a escola era barulhenta. Senti um braço me puxando, virei e vi Davie me segurando.
-Até que enfim achei você. Vamos pra um lugar com menos gente.
Deixei que ele me levasse pra fora daquele corredor, entramos em uma sala vazia depois de verificar que ninguém havia nos visto, Davie estava nervoso, eu sabia que aquilo não era bom sinal. Então ele começou falar:
-Cara, essa história da Layle e do Wendel, está muito, muito, muito mal contada. Com certeza tem algo por trás disso.
-Por que tá falando isso?
-A Ellen disse que conheceu a Layle na festa, elas estavam juntas, era com ela que a Layle estava quando você deixou ela só, não com o Wendel. A Ellen disse que a Layle estava com ela, e então foi até o banheiro, e pouco depois ela viu ela descendo as escadas e indo embora com você.
Fiquei pensando por um tempo, se isso fosse verdade não teria tido tempo pra Layle ficar com o Wendel, mas então o que o Sidney viu? Eu me lembrava vagamente de quando encontrei a Layle antes de irmos embora. Ela ergueu a mão pra mim, ela estava… assustada? Não eu não lembrava, droga! Então outra coisa veio em minha mente:
-Ela estava machucada.
-O que?
-O pai da Layle disse que viu ela machucada quando ele chegou, como se alguém tivesse feito alguma coisa com ela, ou seja no dia da festa.
Davie ficou pensativo por um tempo, nós dois sabíamos o que aquilo poderia significar, por mais que não quiséssemos assumir. Mas Davie tinha mais coragem que eu:
-Você acha que o Wendel que machucou ela?
-Ah cara, qual é? Wendel é um idiota, mas ele não faria algo assim.
-Quem é mais idiota? Ele ou você? Você sabe muito bem que o Wendel é um canalha, ela poderia muito bem fazer isso, e jamais admitiria.
Davie estava certo. Wendel era capaz de fazer algo do tipo, mas eu não queria admitir isso, eu sentia culpa por ter deixado a Layle sozinha naquela festa, se qualquer coisa aconteceu com ela a culpa foi minha. Mas tinha outra coisa:
-E se foi eu?
-E se foi você o que?
-E se foi eu que machuquei a Layle? Eu estava bêbado, não lembro de nada que aconteceu, eu poderia ter machucado ela, talvez foi por isso que ela não disse nada.
A expressão do Davie mudou, ele começou a me encarar sério.
-Jake, você já fez muitas idiotices bêbados, mas você nunca machucaria garota alguma, muito menos a Layle, você sabe disso, agora retira o que você disse, se não eu vou te dar um soco.
Agradecia mentalmente por ter o Davie como amigo, diferente do resto do time, ele sabia o que era companheirismo, tanto dentro como fora dos campos, eu ainda tinha um amigo de verdade, só espero que nunca afaste ele como fiz com a Layle, sabia que podia contar com ele pra tudo. Estávamos distraídos e não percebemos quando alguém se aproximou, só nos demos conta quando a porta foi aberta.
-O que vocês estão fazendo aqui?
Levamos um susto, e quando vimos que era Ruth, Davie se escondeu atrás de mim, soltei um suspiro longo, podia contar com o Davie pra tudo, menos pra enfrentar uma garota. Ela ainda nos encarava esperando uma resposta, tomei a iniciativa pra retrucar:
-O que você está fazendo aqui?
-Essa é a minha sala.
-Ah… É…
Lembrei então da nossa última conversa no ponto de ônibus então aproveitei a oportunidade.
-É claro, essa é a sua sala, claro que é, a gente sabia disso, até porquê a gente estava te procurando.
-A gente estava?
Davie perguntou confuso e eu dei uma cotovelada nele indicando que era pra ficar quieto. Ruth nos olhava desconfiada, tinha certeza que ela não cairia naquela conversa. Mas não custava tentar.
-A gente estava te procurando pra acabar aquela conversa que tivemos aquele dia no ponto de ônibus.
-Por que se interessou de repente?
-Não foi de repente. Aconteceram algumas coisas.
Ela passou pela gente nos ignorando por completo. Ela era complicada que nem a Layle, talvez mais.
-Como soube do que aconteceu na festa se não estava lá.
-É uma cidade pequena.
-Denver não é uma cidade pequena.
Davie era incorrigível, Ruth revirou os olhos e nos ignorou de novo, se sentou em uma carteira e começou a ler um livro, eu já tinha percebido que não dava pra conversar com ela de uma maneira educada, então decidi jogar sujo:
-Vai ter problemas se encontrem você aqui durante o intervalo. É proibido ficar nas salas, você sabe disso.
-Tá mesmo tentando me chantagear? você tem coragem.
-Tenho, mas não tanta que nem você, sabe, o diretor está doido pra saber quem me mandou pra enfermaria aquele dia, é que a escola não tolera agressão, geralmente o agressor pode ser suspenso. Só que eu ainda não falei nada.
O olhar dela, sem dúvidas era pior que o da Layle, sentia o nervosismo de Davie atrás de mim. Ela escorou na cadeira fechou o livro e me encarou.
-O que você quer Willians?
Suspirei aliviado vendo que meu plano estupido tinha dado certo, puxei uma cadeira até ela e sentei em sua frente.
-Você disse que tinham boatos se espalhando rápido, que estavam chamando ela de vadia, e que ela não foi a única. Por que tudo isso?
- Você é algum tipo de idiota? O que foi? Não usa o Banheiro da escola?
-O que?
-Realmente não sabe o que aconteceu na festa?
-Eu não lembro, por isso estou perguntando de você.
-Tá perguntando da pessoa errada, deveria perguntar pra Archer.
Ela se levantou e passou por mim, abaixou a cabeça até perto do meu ouvido e sussurrou:
-Ou você é covarde de mais pra isso?
Depois ela foi em direção a porta e abriu, mas antes de sair disse.
-Se quer mesmo saber dos boatos deveria visitar o banheiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nas linhas do destino
Любовные романыDois amigos de infância, que agora estão no ensino médio, correndo atrás dos seus sonhos e metas, enfrentam uma série de problemas que ameaça a amizade deles. Mas o destino é cruel e a vida imprevisível. Acompanhe o desenrolar e desfecho dessa histó...