Lidando com emoções

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LAYLE
 
Optei pelo caminho mais longo as sair da escola aquele dia. E que dia, ameaçado pelo treinador, taxada de vadia, só queria socar alguém. Tentava afastar esses pensamentos enquanto fazia uma rota diferente da de sempre. Eu não estava indo pra casa, eu não estava indo pra lugar algum, eu só queria caminhar.

Não sei por quanto tempo caminhei sem rumo, acabei me distraindo observando as pessoas que passavam de um lado pro outro apressadas com seus afazeres. Algumas crianças estavam voltando da escola animadas. Que saudades de quando eu era criança, de quando a escola me animava.

Quando dei por mim, estava em frente ao meu antigo dojô, onde eu havia aprendido artes marciais, era como se meu corpo tivesse me levado até lá mesmo sem intenções. Fiquei lá parada, não sabia se deveria entrar, já fazia mais de um ano que eu tinha saído, muita coisa deveria ter mudado, era um lugar onde eu me sentia em casa, mas agora não pertencia mais a esse lugar.

Antes que eu pudesse me virar pra sair, vi alguém se aproximando rapidamente e saltou sobre mim em um abraço exagerado. Não tive tempo para desviar, ambas fomos ao chão.
 
-MIIIIAAAAA VOCÊ VOLTOOOUU
 
Ainda estava sentindo a dor do impacto da queda quando reconheci imediatamente a dona da voz que havia me “atacado". Me sentei com uma certa dificuldade, enquanto ela me encarava com olhos quase brilhando de tanta alegria.
 
-Oi Katharine.
 
Ela me abraçou novamente só que dessa vez de uma maneira delicada, pude sentir que ela estava chorando então a abracei com mais força.
 
-Sua idiota como teve coragem de me abandonar?
 
 Katharine era extremamente  sentimental, nós duas treinávamos juntas todos os dias no dojô, éramos uma dupla imbatível, quando eu saí não tive a menor consideração por ela, nem avisei que ia sair, aquela era a primeira vez que estávamos nos encontrando desde a morte da minha avó.

Senti o peso da consequências dos meus atos me esmagando em uma culpa devastadora. Afastei ela do meu ombro de maneira devagar, precisava dizer aquilo olhando em seus olhos:
 
-Me perdoe Katt.
 
 Ela enxugou os olhos na manga da camisa e deu um sorriso lindo, eu tinha esquecido como eu adorava vê-la sorrindo, ela transmitia uma  energia muito boa a qualquer um que estivesse perto.
 
-Eu não vou perdoa-la. Não assim tão fácil, vamos resolver isso no tatame.
-É claro. Me mostre o quanto você melhorou.
 
Ela sorriu mais ainda e se levantou em um pulo me estendendo a mão para me ajudar a levantar também.
 
-Não seja convencida Mia. Eu aposto que você está enferrujada.
 
Eu sorri com o comentário dela, eu sabia que ela estava certa. Sem dúvidas Katt estava lutando muito melhor que eu. Entrar naquele lugar depois de tanto tempo foi uma sensação incrível, diferente do que eu pensava poucas coisas haviam mudado, senti que ali ainda era minha segunda casa.

A nostalgia dos momentos que eu vivi ali me trouxeram fortes emoções como se eu nunca tivesse ido embora. Me perguntava como eu pude ficar longe por tanto tempo. Fomos ao vestiário feminino e notei que meu armário ainda estava lá com meu nome.
 
-Não deixei que ninguém tocasse, eu sabia que você voltaria um dia, todas coisas sempre estiveram aqui, te esperando.
 
Não escondi meu espanto com a revelação da Katt, então todo esse tempo ela esperou eu voltar. Ela abriu o armário e pegou um quimono e me entregou.
 
-É o seu. Apesar de tanto tempo Acho que ainda cabe perfeitamente.
 
Meu nome ainda estava gravado no quimono também dava pra perceber que Katt estava cuidando dele, não estava empoeirado e sujo, pelo contrário, estava extremamente limpo. Eu olhava pra ela espantada sem conseguir dizer nada.
 
-Ora, não me olhe com essa cara, eu sei que você faria o mesmo por mim, agora se vista logo e deixe eu da uma boa surra em você. Vou te esperar lá fora.
 
Assim que ela saiu eu me apressei em me vestir, como se fosse uma necessidade. Katharine tinha razão, o quimono ainda servia perfeitamente em mim, não pude deixar de sorrir quando me olhei no espelho e vi a Mia de antes, saí do vestiário com a mesma determinação que eu tinha no passado, mesmo já sabendo como iria acabar a luta. Quando cheguei no tatame que a Katt estava, seus olhos brilharam ainda mais ao me ver vestida.
 
-Como nos velhos tempos?
 
Perguntei de uma maneira divertida.
 
-Não. Como um recomeço.
 
 Ela respondeu e nos cumprimentamos como de costume e começamos a lutar, Katt estava muito melhor do que eu havia imaginado, ela esquivava de qualquer golpe que eu tentava aplicar, parecia que ela estava com o dobro da minha velocidade. Em um momento rápido ela me puxou e aplicou uma chave de braço, me obrigado a desistir imediatamente. A luta não durou mais que cinco minutos.
 
-Você tá bem mais enferrujada do que eu imaginei.
-Maldito dia que eu abandonei o dojô. Se eu tivesse continuado com os treinamentos aquilo não teria acontecido.
 
Disse pra mim mesma enquanto socava o chão lembrando do que havia acontecido na festa.
 
-Não adianta ficar frustrada, aposto que ainda não almoçou, vamos eu te pago um almoço enquanto conversamos.
 
Ela me puxou pelo braço, depois que trocamos de roupas fomos em um pequena churrascaria ali perto. Estávamos esperando o nosso pratos chegarem quando Katt perguntou:
 
-Por que estava tão frustrada por ter perdido? O que quis dizer com “O que aconteceu aquele dia”?
 
Eu realmente tinha esquecido como era bom ter uma amiga mulher, andei tão ocupada comigo mesmo que esqueci que ainda tinha pessoas que se preocupavam comigo. Decidi desabafar com Katt.
 
-Um idiota tentou me agarrar em uma festa e eu não consegui me defender.
 
Ela me olhou de maneira curiosa.
 
-Isso é complicado.
-Eu sei, eu era uma ótima lutadora deveria ter conseguido fazer alguma.
-Não é disso que eu tô falando. O que é complicado de verdade é você se sentir culpada.

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