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LAYLE

Tomava meu café enquanto minha mãe estava distraída no computador, aposto que estava trabalhando, ela nunca parava. Ainda sentia as consequências de ter dormido no sofá, meu corpo inteiro doía, mamãe estava sentada a minha frente na mesa, e vez ou outra via ela massageando o pescoço e fazia uma careta, ela estava tão doída quanto eu:
 
-Da próxima vez vamos colocar um colchão na sala.
-Na próxima vamos colocar uma televisão no quarto.

 
             Ela disse enquanto se servia um pouco de café, parecia cansada mas feliz.  Ela colocava adoçante no café e eu decidi provocá-la:
 

-Achei que só velhos tomassem café com adoçante.
-Velhos, diabéticos, hipertensos, alérgicos, e pessoas saudáveis.
-E qual desses você é?
-Saudável, minha rotina não me permite ficar doente.
-Que saco sua rotina.

 
             Ela sorriu e me encarou, me olhava com carinho, a muito não sentia um olhar assim sobre mim, mas então percebi que aquele olhar sempre estive ali, eu que o ignorava, lembrei da noite passada, nós três nos abraçando como uma família normal, pensar que eu poderia ter vivido aquilo fez eu questionar minha mãe.

 
-Eu acho que é um pouco tarde pra perguntar isso, mas por que você se divorciou do papai?
-Porque não nos amávamos.

 
             A resposta dela foi rápida e direta me levando a outro questionamento:

 
-Então por que se casaram?
-Porque amávamos você.
-A senhora já estava grávida quando se casaram?
-A gente se casou assim que descobri, erámos dois universitários jovens e inexperientes, achamos que seria coisa certa a se fazer.
-Então eu não fui planejada?
-Querida ninguém planeja um filho com vinte anos estando no terceiro semestre da faculdade.
-Não pensaram em abortar?
-Eu jamais faria algo assim.
-Então por que me abandonou quando a vovó morreu?
 

             O arrependimento veio assim que me dei conta do que havia dito, era a primeira vez que conversava com minha mãe sobre o divórcio e com certeza não queria chegar naquele ponto, baixei os olhos pra não ter que encara-la, o silêncio que seguiu foi ensurdecedor, mesmo assim não consegui olhar pra ela.
 
-Acho que nunca te falei, mas aquele dia que deixámos você nesse apartamento e eu saí da cidade pra trabalhar eu chorei muito, eu chorei o voou inteiro, recusava os calmantes que as aeromoças me ofereciam, porque eu merecia aquela dor.
 

             Quando olhei pra ela seus olhos lagrimejados mostravam a sinceridade que ela estava falando e como doía ter que relembrar aquilo, então ela continuou:
 
-A coisa mais difícil que fiz foi te deixar sozinha aquele dia, porquê eu sabia o quanto estava sofrendo, mas eu não podia te levar comigo, eu não tinha esse direito.
-O que?
-Layle, eu não podia estragar sua vida daquela maneira, se eu te levasse comigo você não teria como frequentar uma escola por causa das muitas viagens, o máximo que você teria seria tutores, e não teria a menor chance de entrar pra uma faculdade como a Columbia, e eu sei que esse sempre foi seu sonho, eu não podia roubar esse sonho de você.
-Mãe...
-Você não teria amigos, não teria um lugar fixo, não teria uma vida, Layle se eu te levasse comigo você viveria a minha vida, não a sua. Eu não te abandonei, eu te deixei livre pra escolher seu próprio caminho, pra viver conforme as suas escolhas, eu sabia que você faria as escolhas certas, porque você é forte, mais do que eu, muito mais.   
 

Nas linhas do destino Onde histórias criam vida. Descubra agora