Nas linhas do destino

Quebra de barreiras

JAKE
 
 
             Se passaram dois dias depois da confusão na escola, por incrível que pareça minha mãe não me deu bronca nem nada do tipo, na verdade sentia que ela estava me dando gelo, não sabia o que ela estava planejando, mas eu não ia escapar daquela conversa e em algum momento ia ter que encara-la de frente.

             A manhã fria trazia uma brisa triste, não conseguia me sentir animado, estava visivelmente deprimido, e olhar a foto da Layle ali perto não me acalmava, me sentia perdido, sabia que tinha que falar com ela, mas sei que quando estivesse em sua frente me faltariam as palavras.
            
Amanhã seria o próximo jogo do nosso time e eu ia ter que assistir tudo do banco reserva, queria que tivesse um botão pra poder pular toda essa parte da minha vida. Estava ignorando as ligações do Davie, e de qualquer pessoa ligada ao time.  Escutei duas batidas no meu quarto e minha mãe entrou e fechou a porta atrás de si, como eu disse, não ia fugir pra sempre, e essa era a hora de encarar minha mãe, ela se sentou na minha cama e fez um sinal pra que eu sentasse também, sentei ao seu lado e ela começou:
 
-O que aconteceu com a Layle foi a pior coisa que pode acontecer com uma mulher, mas você agiu de forma errada.
-Eu não sei o que podia fazer, eu só senti raiva.
-O que você deveria ter feito era conversado com a Layle, convencido ela a falar com seus pais e procurar a policia.
-Mãe, ela não confia mais em mim, ela não me contou nada, eu ouvir uma discussão entre ela e o Wendel, foi assim que eu soube. Mãe, por que ela não me contou nada? Eu estava lá, mas ela preferiu esconder isso de mim.
-Tente entender ela Jake, eu entendo a sua raiva, mas não ameniza o que você fez, se a Layle não te contou, teve um motivo, e era nisso que deveria pensar.
 
             Abaixei a cabeça derrotado, minha mãe tinha razão, a culpa era minha, eu trai a confiança da Layle, a abandonei mais de uma vez, e pra ela, aquele dia na festa tinha sido a gota d’agua. Minha mãe continuou:
 
-Seu treinador ligou, disse que depois de uma conversa bem complicada com o diretor decidiram não te expulsar do time, sendo assim não vai perder sua bolsa, mas tá fora do campeonato.
 
             Aquilo não me surpreendeu nem um pouco, eu já sabia que fariam algo parecido, aparentemente a escola era muito boa em esconder as falhas, por isso era vista como a escola perfeita, quando na verdade era uma grande farsa. Mamãe se levantou e foi em direção a porta, indicando que a conversa tinha acabado, abriu mas antes de sair disse sem se virar pra mim:

 
-Só pra você saber, seu pai e eu conversamos com o August, contamos a verdade pra ele, então não precisa mais se preocupar com isso, ele vai tomar as precauções corretas. Ele é o pai dela, vai saber o que fazer.
 
            
Tendo dito isso ela saiu, mesmo assim aquilo não me deixou mais aliviado, acho que não tinha muito que o senhor Archer podia fazer,  não tinham provas suficientes pra incrimina-lo e qualquer outra prova seria ocultada pela escola.
            
Fui em direção a janela de novo, observar o tempo frio não me ajudava, mas qualquer coisa era melhor do que ver minha cara de fracassado refletida no espelho. Uma figura do lado de fora me chamou atenção, observei com cuidado a pessoa que me encarava parada, quase não reconheci devido aos casacos, cachecóis e uma touca que usava, mas era a Ruth.

Desci depressa pra encontra-la do lado de fora, mas foi um erro grave, estava realmente muito frio e minhas roupas não estavam nada adequadas pra uma manhã fria como aquela, ignorei o frio congelante e me aproximei:
 
-O que tá fazendo aqui?
-Não tem medo de pegar um hipotermia?
-Se você que tem um coração de gelo nunca pegou porque eu pegaria?
 
             Admito que a piada na minha cabeça parecia mais engraçada, mas o olhar sério dela me fez ver o quão idiota tinha sido o que eu disse.