Capítulo 11 (parte 1)

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(notaram a capa nova?)

Ao decorrer das próximas 3 semanas, Harry se acostuma.

Que mentira. Ele não consegue se convencer que é verdade nem nos momentos mais sombrios, quando ele mais precisa; ele não se acostuma. Como uma pessoa poderia se acostumar? Harry acorda toda manhã e encara o teto e se impressiona que as pessoas andam por aí todo dia, apaixonadas, e nenhuma delas - cai morta na rua, como ele acha que vai pelo menos 1/3 do tempo. É inimaginável. É loucura, carregar por aí todos esses sentimentos por alguém; Harry mal tem espaço para isso. Ele acredita que talvez esteja apenas despreparado, então decide que isso não importa, porque está acontecendo de qualquer jeito. Ele está preso nisso, e, sendo sincero, provavelmente não é o mais despreparado que ele já esteve para uma situação. Ele lutou com Voldemort quando tinha 11 anos, então deve ser verdade.

Não parece verdade. Parece que Harry está parado em uma camada longa e fina de vidro, observando as pontas racharem lentamente em sua direção, prontas para quebrar a qualquer momento. Mas de uma maneira boa, mais ou menos, mas também muito ruim. Harry está tentando não pensar sobre isso, mas pela primeira vez em um longo histórico de guardar emoções em uma caixa até ele estar pronto para lidar com elas, ele não está tendo muito sucesso. Ele continua se pegando a pensar em Draco sem nem perceber, o que, além de ser incoveniente, também é vergonhoso pra cacete. Ele não está prestando atenção em reuniões. Seamus uma vez cutucou ele ele em uma cena de crime para dizer que algo estava diferente, e perguntar se ele finalmente estava transando com alguém. Foi horrível.

Viver com Draco, obviamente, não está ajudando com o probleminha de Harry. Ele meio que achou que poderia, lá no início do terceiro dia, depois de deixar uma bagunça na cozinha na noite anterior, e ele e Draco acabaram tendo uma discussão aos gritos, até Harry, abrutamente, dizer, "Quer saber, foda-se, eu vou limpar," e Draco piscou algumas vezes, surpreso, e rebateu, "Ah, então é isso? De repente você é o sr. Agradável?" E então aquilo desandou em... bem, ainda era uma discussão, mas meio que... de.... brincadeira. Harry se sente meio atordoado só pensando nela - bem, "atordoado" talvez não seja a palavra certa. As certas fazem ele querer grunhir de desespero, então ele vai continuar com o vocabulário atual.

Todo dia é diferente. Todo dia Harry fala pra si mesmo que ele já atingiu a capacidade máxima e de agora em diante seus sentimentos vão diminuir, não crescer, e todo dia ele está errado. Draco faz ou diz essas coisinhas bobas - detalhes nada demais, como a forma que ele prepara seu café, não faz nenhum sentido - e Harry sente a pressão já insuportável de tudo isso crescer para outro level. Mais de uma vez ele tem que lutar contra a vontade de ir até o Ron e a Hermione, sentar eles no sofá e demandar saber o que eles fizeram todos esses anos, estando apaixonados um pelo outro, e não foram consumidos por isso, ou esqueceram como respirar.

Tem uma voz no fundo da cabeça de Harry que diz: Talvez, seu idiota, tem algo haver com o fato de ser mútuo. Harry tenta ignorar. Harry tenta não pensar com quem a voz se parece.

Algumas dessas coisinhas não são nada demais. Algumas são bem piores.

Harry vai até o quarto do Sirius uma noite, após uma semana e meia. Ele só - está entediado. Draco saiu para um jantar com Pansy, que decidiu ficar na cidade por um tempo, e Blaise, que parece nunca sair da cidade e quem Harry meio que suspeita de ser capaz de estar fisicamente em todo o lugar. Ron e Hermione estão tendo um jantar romântico e ele não está muito afim de contatar outra pessoa, ou até mesmo sair de casa. Ele percebe que não consegue se lembrar do que fazia com seu tempo extra, apesar de se lembrar ter muito. Será que ele só - sentava e encarava? Pensando em nada específico?

Ele tenta. Ele pensa em Draco. É péssimo; tem que parar. Ele se levanta.

Ele não tinha a intenção de abrir a porta de Sirius. Ele estava apenas andando por aí, olhando as coisas - tem muitos quartos no Largo Grimmauld, porque é maior dentro do que parece fora, e apesar de Harry ter deixado vários deles parados vazios quando essa era a casa dele, Draco fez algo com todos eles. Até os que não tem um propósito específico tem coisas fascinantes dentro, todos esses artefatos mágicos que Draco coletou mas ainda não exibiu no museu, ou só exibe em dias específicos baseado em um sistema louco que ele sempre fala para Harry, mas Harry nunca entende. Tem coisas estranhas também, como a escultura amaldiçoada de um tucano e um manual de informações preocupantes sobre práticas de higiene bruxas no passado.

O Que Fingimos Não Conseguir VerOnde histórias criam vida. Descubra agora