Capítulo 4

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Sexta-feira. Harry volta para o escritório depois de deixar a casa de Malfoy e termina o espediente 1 hora mais cedo, recusando um jantar com Ron e Hermione e optando por ir ao mercado fazer compras. Chegando em casa, ele mima a si mesmo cozinhando um prato francês requintado que ele sempre gostou de preparar quando criança e, como bônus, seu tio Vernon detestava. Ele não consegue se lembrar como se chama mas o gosto é maravilhoso, frango, vinho, cebola e alho, e o ato de cozinhar o acalma, ajuda a espantar o mau-humor que tem o perseguido toda tarde.

Então Malfoy é um idiota desagradável que prefere a companhia de qualquer outra pessoa que não seja Harry; o que há de novo nisso? Nunca incomodou Harry antes, então ele vai dormir de barriga cheia e com a convicção que aquilo continua sem o incomodar. Não o incomoda nem um pouco.

No sábado ele acorda cedo, renovado e descansado, e torce para continuar assim até o encontro no bar que ele tem todo o mês com os seus amigos. Ele vai ao trabalho, toma sorvete na loja no final da rua e leva para casa a ficha de Malfoy para estudá-la.

Fica claro, ao passar das horas em que Harry fica na sua poltrona os analisando, que Malfoy, aos 25, já viveu uma vida e tanto. Tem registros de viagens, tão meticulosamente anotados quanto o resto, de passeios que Malfoy fez para pesquisa ou para obter artefatos para o Museu. Ele já foi para Australia, Rússia, Estados-Unidos, Amazônia, Savana. Já foi paras todas as grandes cidades que Harry consegue se lembrar; Atenas, Roma, Dubai, Paris, Cairo, Hong Kong, Moscou, Bogotá. São visitas pequenas, todas elas, nada mais do que alguns dias, nunca tempo o suficiente para absorver a cultura, provar a comida, falar com os nativos... mas ainda assim. Ele já foi lá. Já viu com os próprios olhos.

Harry nunca foi para nenhum lugar, tirando as férias disastrosas em que ele e Gina foram para Avignon e acabou em lágrimas e queimaduras de sol, silêncios infelizes. É uma das coisas que ele sempre quis fazer, viajar, mas entre uma coisa e outra ele nunca conseguiu arranjar tempo. Harry percebe, desconfortável em pensar que aconteceu sem ele perceber, que ele ainda está preso em uma caixa em sua cabeça onde ele se casa com a Gina, ou é criado por pessoas que o amam: coisas que ele sabe que não vão acontecer. Sonhos que ele precisa se desapegar.

Ele fecha os registros com força, come as sobras do jantar de ontem e vai para o bar.

Está tudo bem, pela primeira hora, mais ou menos. É divertido. Começa com apenas ele, Ron e Seamus, como costumava ser nos velhos tempos, quando esse encontro mensal não era nada além de antigos colegas de quarto tentando esfriar a cabeça com umas bebidas, após 30 dias de trabalho no departamento de Aurors. Harry está bebendo whisky de fogo, curtindo um pouco as fofocas de escritório - Seamus, em particular, não consegue se conter - e grita de tanto rir com a história sobre Trent, o Auror calouro mais novo, que se sujou inteiro pegando duendes na limpeza de rotina.

Outros começam a chegar depois de um tempo, como sempre fazem. Ao longo dos anos, a reunião mensal deles no Tronquilho Obsceno evoluiu para uma noite de bebedeira conjunta, em que as pessoas vão indo e vindo quando podem. São pessoas que eles conhecem desde a escola, na maioria, alguns colegas de trabalho e amigos-de-amigos, e um intruso ou outro que acaba se juntando.

É legal, Harry diz para si próprio. É mesmo. Ele não sente falta das noites calmas só com Ron e Seamus, ou as vezes Ron, Hermione, Seamus e Dean. Não sente falta nenhuma.

Hermione é a primeira a se juntar aos 3 nessa noite, tendo deixado Rose sob os cuidados de Molly. Em seguida vem Luna - é bom vê-la, e Harry abre espaço no banco para ela e o seu mais recente relacionamento, uma garota chamada Vi com cabelo rosa e um piercing na língua. Ele pede mais um round e Dean chega, beijando Seamus em cumprimento antes de puxar uma cadeira, então George e Angelina, depois Neville e Gina. As sobrancelhas de Harry levantam em surpresa - eles quase nunca aparecem - mas Neville dá a ele um olhar cauteloso, um sorriso inseguro, e o aceno nervoso de Gina quase quebra o coração de Harry. Talvez o encontro na casa de Malfoy tenha aliviado um pouco do desconforto, de alguma forma.

O Que Fingimos Não Conseguir VerOnde histórias criam vida. Descubra agora