Capítulo 11 (parte 4)

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(coloquem o cinto de segurança, ta?)

Eventualmente, Harry acaba indo até o bar mágico, e passa o resto do dia e a maior parte da noite ficando bem bêbado.

Não é uma atitude saudável; Harry sabe muito bem disso. Não é uma coisa que um adulto bem ajustado faria. Mas foda-se, ele precisa fazer alguma coisa, e a ardência do whisky de fogo em seus lábios e sua garganta é o mais perto que ele pode chegar de limpar o gosto e a sensação da boca de Draco contra a sua.

Ele não deveria ter - ele fez isso da maneira errada. Ele é impulsivo e imprudente e nunca pensa em nada antes de tomar uma atitude. Todo esse tempo ele passou pensando em Draco e ele não parou para considerar que, como a pessoa reservada e arisca que ele é, ele reage mal à surpresas e quebras de rotina. Harry deveria ter lidado com a situação de outra maneira, em vez de contribuir com a raiva de Draco o dia todo e, e do nada, jogar essa informação pra cima dele de maneira fria, sem aviso, no meio de uma briga. Ele não queria, mas isso não melhora as coisas. Ele não queria, mas isso não faz com que tudo se resolva.

Ele tenta ficar bravo com Draco por um tempo por volta das sete da noite, quando ele não volta para jantar, mas ele não consegue manter a emoção por mais de um minuto ou dois. Draco não é obrigado a amar Harry. Draco não deve nada a Harry, exceto - bem, provavelmente a verdade do que os ladrões estavam atrás teria sido o mínimo que ele poderia fazer, nas circunstâncias, mas essa raiva meio que já passou, parece fria e vazia. Harry se sente frio e vazio, mesmo com a bebida ele não se sente bêbado, embora saiba logicamente que está, ou pelo menos deve estar. Ele se sente distante, perdido, e a cada poucos minutos ele se pega esfregando dois dedos no lábio inferior, pensativo, como se estivesse tentando invocar de volta o toque de Draco ali, de alguma forma.

Ele vai para a cama eventualmente, e Draco ainda não está em casa quando ele acorda. Harry toma a Poção de Ressaca que Monstro traz pra ele e não se sente nem um pouco melhor.

Por um tempo, ele só fica deitado na cama, olhando para o teto, se perguntando o que vai acontecer agora. Draco vai ficar com Pansy para sempre, ou ele vai voltar para casa e mandar Harry embora? Harry duvida, realisticamente, que Draco possa ficar longe de casa por muito tempo - mas, novamente, ele acredita que Harry arruinou tudo para ele, então talvez ele vá. Talvez ele se mude para o Cairo, e se Harry vai prender os seus agressores ou não não vai importar, de qualquer maneira. Draco terá ido embora e Harry... vai voltar para sua vida antiga, em seu pequeno apartamento a poucos quarteirões do Beco Diagonal, e dizer a si mesmo para parar de pensar em Draco até que eventualmente ele descubra como. Ele vai trabalhar, e vai jantar com Ron e Hermione; vai para o parque com Teddy, e vai à Toca nos domingos. Ele vai sentar sozinho em sua mesa na noite de bebedeira dos grifinórios, esquecido por todos. Ele passará por aquela esquina onde o portal para o vale está escondido e não moverá seu corpo como um peixe para o oceano, e quando seu caminho pela cidade o fizer passar pelo Largo Grimmauld ele vai desviar os olhos e fingir que é um trouxa, fingir que os números da casa saltam do 11 para o 13, como ele costumava fazer antes. Ele tem muito em sua vida sem o Draco. Ele vai ficar bem.

O peso dessa mentira está tão forte no peito de Harry que ele tem que se levantar, fazer alguma coisa, porque ele sabe que se não fizer, vai esmagá-lo.

No final, ele acaba indo correr. Ele realmente não quer - em geral, Harry não se exercita tanto, tendo descoberto que o instinto e a pura determinação para vencer são mais úteis do que músculos na maioria das suas lutas. O que ele quer fazer é dar uma volta, apenas clarear a cabeça, mas ele está tentando tão desesperadamente escapar de seus próprios pensamentos que ele se vê correndo quase cinco milhas usando jeans e camiseta. Era um bom dia de primavera quando ele começou, mas Londres é tão traiçoeira e descontente quanto os sentimentos de Harry; está chovendo quando ele chega em casa - não em casa, no Largo Grimmauld - ah, foda-se. Está chovendo quando ele chega na casa que costumava ser dele, e também de Sirius, e agora é de Draco, mas que Harry deseja tão desesperadamente que fosse sua que parece uma injustiça até mesmo olhar para ela, quem dirá entrar.

Mas ele entra de qualquer jeito. Ele chega e olha ao redor do corredor da entrada, aberta e arejada, completamente linda. Harry fecha os olhos por um segundo, tentando fixar em sua memória exatamente como está agora, na possibilidade de Draco aparecer na lareira daqui há um minuto e dizer para Harry nunca mais voltar. Ele faria isso com Draco também, fixar ele em sua memória, se pudesse, se Draco estivesse aqui - se Harry achasse que Draco o deixaria olhar tempo suficiente para isso.

Ele suspira pesadamente. Ele vai até o depósito. Ele deixa uma mão descansar levemente sobre uma cabeça de alface e pensa em Draco dizendo, eu tinha tudo do jeito que eu gostava. Harry acha que talvez entenda um pouco. Acha que talvez ele também ficaria irritado, se ele tivesse um lugar como esse, uma vida como essa, e alguém tão errado e desajustado como Harry tropeçasse aqui e destruísse tudo.

Ele leva comida lá para cozinha para preparar o café da manhã, colocando tudo no balcão. A faca de chef preferida dele não está no porta facas, onde costuma estar, e Harry olha em volta procurando por ela, verifica a pia e algumas das gavetas antes de -

- ele sentir ela afundando em suas costas, de forma direta e dolorosa, bem no espaço logo abaixo de sua caixa torácica.

contagem de palavras: 1000
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notas: nem tenho o que dizer... deixem a estrelinha e comentem bastante (até pra me xingar) e aí talvez eu volte mais rápido e tiro logo esse suspense 😬

O Que Fingimos Não Conseguir VerOnde histórias criam vida. Descubra agora