Estrelas que não brilham.

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Notas do autor: Pode ser que o conteúdo seja algum gatilho (uso o 'pode ser' pois para alguns talvez seja somente uma leitura normal)

O Capítulo a seguir contém um drama mais sensível. Não contém violência, mas ainda vale o aviso.

Boa leitura ❤️





Daughter - Smother

Estou cansada, perdendo tempo
Sou uma tola, uma espinha frágil
Eu quero tudo o que não me pertence
Eu o quero, mas nós não somos o certo

Na escuridão, eu encontrarei meus criadores
E todos eles irão concordar, que eu sou uma sufocadora

Eu deveria ir agora, quietamente
Para que meus ossos encontrem um lugar
Para deitar e dormir
Onde todas as minhas camadas se tornem hastes
Todos os meus membros se tornem árvores
Todos os meus filhos se tornem eu
Que bagunça eu deixei
Para seguir
Para seguir
Para seguir
Para seguir

Na escuridão, eu encontrarei meus criadores
E todos eles irão concordar, que eu sou uma sufocadora(...)










Dois meses depois.


Inspirou, engoliu o choro, calou-se, gritou internamente, sua voz foi colocada no mudo, seu desespero silenciado, sua dor ignorada, seus hematomas escondidos por baixo das roupas quentes, seu frio foi engolido, engoliu seu corpo, congelou seu coração em uma caixa própria para sofrimento, e dor, dor, dor

Dor
Dor
Dor
Dor

E sufoco. Se sentia sufocada.

Em meio ao banho com lágrimas silenciosas, que não pediram permissão para sair, simplesmente explodiram, e ela que tentasse lidar com a falta de controle. Não precisava ter controle em meio a água, não precisava segurar, elas saiam sozinhas, e isolada como sempre, suas lágrimas caíram tentando se apegar as partículas de felicidade, pequenas demais, que se acaso apertasse entre os dedos poderia sumir, mas era o que lhe mantinha viva.

Não entendia bem o que sentia, são sentimentos confusos aqueles que lhe cercam, eles queimam, eles esfriam, lhe deixam letárgica e ligada ao automático enquanto sufocava aos pouquinhos.

O que lhe fazia sorrir era lembrar do dia na praia, a noite com estrelas brilhantes, seu primeiro beijo com aquele que trouxe sentimentos diferentes ao primeiro olhar. Sua caixinha segura já não estava mais presente, foi tirada do compartimento e jogada no chão como algo quebrado e sem conserto, já não veria mais a caixa que tanto procurou, pela segunda vez, ela se foi, de formas diferentes, mas se foi. Talvez não se renovaria como as ondas do mar, e o oceano que tanto sentia falta, pensava que seria mais fácil respirar dentro dele do que fora.

Respirou fundo apertando os olhos doloridos de tanto se derramar. Não tinha mais forças para arrancar o verde desgastado e colocar os olhos da boneca perfeita, com sorriso automático e fala mansa, não era forte como sua mãe, não conseguia aguentar, se sentia cada vez mais quebrada, sem conserto, sem esperança, sem nada...

Saiu do banho lentamente, queria prolongar os minutos de liberdade, queria ficar lá, se prender dentro das paredes para nunca mais sair. O que de certa forma lhe deixou aliviada, foi ouvir a conversa de seu pai, de que Hinata e Naruto estão noivos, mas também ouviu algo sobre Sasuke, que ele seguiu em frente e também buscava uma mulher para desposá-la.

E o que poderia fazer sobre isso? Nada. Nunca podia fazer nada. Como um céu cheio de nuvens, ela ficou carregada, só esperando em que momento sua tempestade virá a lhe engolir de todas as formas, apenas isso vinha em sua cabeça em meio a escuridão da noite, ao encarar a janela e as árvores em volta de seu bairro.

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