Fale comigo.

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Devia ter me deixado afogar.

A cada batida seu peito doía mais. Agora sente as consequências de suas ações, não porque se arrepende, e sim, porque estão lhe encarando enquanto continua sentada olhando para o nada. Não sabe como foi parar na casa de Hinata, mas lá estava com os quatro lhe observando, como se o peso de seus olhares inquisidores não fossem lhe machucar mais do que já estava machucada, e envergonhada. Mas não por ter feito o que fez, e sim por não ter dado certo, e agora devia dar explicações mesmo que não quisesse.

Pois sua vida girava em torno do que terceiros pensam e não ela. Agora martela em sua cabeça o que contar "Cansei de viver", "Sinto falta da minha mãe", "Estou... cansada de carregar tudo sozinha", ou simplesmente: "Não tenho uma explicação, meu peito dói e respirar me machuca".

Para aumentar sua agonia, o olhar que mais tentava evitar era o de Sasuke, mas ele era o que mais lhe encarava, e parecia nervoso, e por isso veio a vergonha, não estava bonita o suficiente, apresentável o suficiente, não era o suficiente e agora sente vontade de se esconder e chorar, como sempre. Suas roupas foram trocadas e isso também lhe causou vergonha, sua cabeça dói e ainda havia a queimação em seu nariz, olhos e garganta graças a água do mar. Mas nada disso estaria ocorrendo se tivesse conseguido, foi por pouco.

— Sakura. — Pela quinta vez lhe chamou, com a voz mansa e controlada, e pela quinta vez, ela ignorou, não movendo um músculo para olhá-lo. Não queria admitir, talvez fosse humilhante demais ou patético, mas sentia raiva em seu coração, raiva dele por ter lhe prometido que daria um jeito, mas se passaram meses e ele lhe abandonou enchendo seus ouvidos indiretamente sobre o novo compromisso, e apenas de lembrar, sente o gosto amargo da frustração insistente debaixo da língua, e um desconforto em todo o corpo. — Por que ela não está falando?

Agora sua voz soava irritada, mas para Sakura, Sasuke não tinha o direito de se preocupar, não tinha nenhum direito de ficar irritado com sua situação e se ele não se importou em lhe procurar durante esses meses, então não se importasse agora. Era isso que queria dizer, mas sua voz estava presa na garganta, muda como se tivesse desaprendido a usá-la e não quisesse voltar a aprender.

— Meu avô disse que... pode ser a falta de uso. Ele disse que segundo o senhor Haruno, ela não fala a um tempo.

Shikamaru era outro da qual não estava confortável, ele também não deveria ter lhe trazido, já havia se acostumado com a sua casa e queria ter permanecido lá. Se remexeu na cama, sentindo sua garganta arranhar e as costas doerem.

— Ela não... está falando? O que fizeram com você, Sakura? — Hinata se ajoelhou em sua frente, buscando as mãos geladas que não tinham força de vontade para mover. — Sasuke, ela está gelada...

O Uchiha abriu o guarda-roupa buscando cobertores para ela, mas ao tentar cobrir a Haruno, Sakura se afastou das mãos de Hinata e jogou todos os cobertores no chão. Sasuke levantou as sobrancelhas navegando entre o surpreso e o confuso.

— Eu acho que ela está irritada... — Naruto falou, ele era o único em que não sentia raiva no momento, então apenas para ele, Sakura acenou uma vez. — E é com vocês.

Hinata lhe encarou, logo subiu na cama e segurou seu rosto pálido entre as mãos quentes, uma lágrima escorreu dos olhos perolados.

— Eu sinto muito Sakura... não sei o que está sentindo, mas sinto muito mesmo. Conversa comigo, posso pedir para que todos saiam.

Precisava com todo o seu ser dividir a dor que sente com alguém, mas não queria fazer isso. Falar com a irmã do homem que é apaixonada, sobre sua insegurança e abandono, seria dar um tiro em seu pé, pois, a vergonha viria mais uma vez e não teria como se proteger dela. Além de que, não queria ouvir mais nada sobre Sasuke e Tenten.

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