Se foi.

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Ela se foi.

O entendimento havia lhe alcançado no minuto em que viu as mechas grossas de seu cabelo, jogadas pela praia, cortadas de forma rude antes de serem abandonadas ali contra o vento e jogadas para que ele achasse, ou outro alguém.

Pois Sasuke não tinha o entendimento, de que aquilo era sua forma de se libertar de mais maldades, se libertar daqueles homens, e dar para Jiraya aquilo a qual ele era tão obcecado — mechas de seu cabelo — uma forma, que para alguém que não entendia de ironia, logo fez a adaptação dela, e que aquilo era a única coisa que teria de seu corpo, pois sua liberdade foi alcançada ao se afogar nas águas tempestuosas do mar, sem nem ao menos lhe dizer adeus.

Devia ter suspeitado a princípio, a partir do momento em que ela ousou se despir em sua frente, aquilo era uma forma de adeus disfarçada de um último beijo, última chance de provar mais sobre o prazer carnal. Uma forma tão não Sakura de se despedir, que por um momento, enquanto não sofria seu luto, achou um tanto esperto da parte dela, disfarçar seu último adeus em algo que jamais faria, não aos olhos de outros.

No luto, existem estágios para alcançar, cada um deles com tempo de cumprimento, e Sasuke, louco ou não, alcançou os primeiros quatro, em um só dia, deixando o último como algo impossível de se alcançar, mesmo que no fundo saiba, que esse pensamento se deve ao quarto.

Não esperou que dissessem nada naquele momento, estava cego e desacreditado, não queria se mover do lugar, ou soltar os cabelos dela e acabar se livrando do cheiro doce que vinha deles, não, ele queria fingir que não aconteceu, ou ir atrás do motivo. Pois no primeiro estágio, o Uchiha se jogou na água, e como da primeira vez, correu em busca de Sakura mar adentro, descendo fundo pelas profundezas do oceano, que por pouco não teve forças para voltar ao topo, e nem ao menos soube quando Naruto chegou tão rápido ao seu alcance, com um barco e lhe dando a mão para subir.

— Sasuke-

Não escutou, e não deixou que terminasse, pois bastou uma hora, uma longa hora imerso em seu subconsciente, sentindo culpa, se afogando com ela pela maneira que a tratou todo esse tempo, e por último não tendo a chance, não deixando a si mesmo colocar para fora seus sentimentos. Maldito bloqueio.

Não era sua intenção se apaixonar por um maldito personagem dos cinemas, não era sua intenção viver e morrer por ela, jamais quis se aproximar de Sakura, e colocou os sentimentos dela no mudo para não ser doloroso admitir algo tão irreal, simplesmente não queria e não insistiu em se olhar no espelho e admitir que havia sim mais sentimento do que gostaria.

E nessa uma hora preso em pensamentos, ignorou o choro de Hinata, sabendo que a última coisa que queria era somar sua infinita e tempestuosa dor com a dela, então se refugiou com os fios de Sakura em suas mãos, amaldiçoando o vento por tentar tomá-los de seus dedos de forma tão cruel e injusta, impune, e imperdoável.

Não alcançou uma hora e dois segundos para o segundo estágio vir a lhe invadir tão rápido, e muito menos notou que Naruto estava ao seu encalço, junto com Hinata. Andou o mais depressa possível, ainda molhado e com os cabelos dela agarrados em seus dedos, e facilmente invadiu a casa do homem que em sua cabeça, jurou matar.

— SEU DESGRAÇADO!!!

Berrou a plenos pulmões ao som do estrondo da porta de madeira, se chocando a parede rose, rompendo a perfeita pintura, com a marca exata da maçaneta na terra e na linha imperfeita do descascado na parede.

Kizashi se levantou irritado do sofá, ao se deparar com Uchiha e Naruto, atrás dos dois Shikamaru com a expressão de alguém com péssimas notícias para dar.

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