Roteiro ou Realidade?

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Horas antes.


— Prepare o jantar. Não quero o que fez da última vez, ficou salgado demais. — Falou seu pai, sentado em sua poltrona com um livro em mãos e charuto na outra. — E adiante de uma vez! Estou com fome.

— Sim senhor.

Se pôs a fazer o que o homem pediu, cortando os legumes, em seguida indo para as cebolas, torcendo para não chorar com aquilo. Em sua casa, chorar era algo proibido, nem mesmo quando era provocado superficialmente, simplesmente não poderia chorar, regra essa, feita por seu pai depois da morte de sua mãe.

Cortou quase todas com cuidado, ainda sim acabou sentindo as lágrimas vindo, engoliu em seco, devido a pressão e o medo, acabou fechando os olhos, com isso o acidente tornou-se inevitável, pois acabou cortando o dedo, sangrando em cima das cebolas. Olhou para trás vendo que seu pai ainda se mantinha entretido com o livro e charuto. Lavou seu dedo às pressas mas o sangue insistia em fugir de suas veias.

Olhou para o fogão a lenha, o feijão que havia colocado começava a queimar. Às pressas, pegou um copo d'água para salvar o alimento, falhando,h pois já havia queimado minimamente. Com uma colher de pau, tratou de juntar os grãos queimados que nadavam na água.

Enrolou um papel de qualquer jeito em seu dedo, seguindo para fazer a carne amaciada à sua espera, cortou o alho e ao colocar a carne na panela, acabou tropeçando em seus próprios pés devido a pressa, queimando sua mão em contato direto com o fogo. Gritou alto e agudo, chamando atenção do homem que saiu de sua poltrona indo até ela.

Teimou consigo mesma para não chorar, se manter dura e firme enquanto sua mão queimava com a dor justo no corte em que havia feito. Mas era tão forte que não conseguiu segurar as lágrimas que saiam, limpando apressadamente. Se virou quando seu pai chegou perto da cozinha, começou a limpar tudo às pressas.

— Mas que porcaria é essa aqui, Sakura?? — Olhou para a comida com nojo em suas expressões.

O feijão com grãos pretos, a carne jogada na lenha do fogão enquanto uma fumaça subia e o cheiro de queimado inundava o quintal.

— Perdão papai. — Falou em meio a um ruído esganiçado que escapou de sua garganta, se amaldiçoando em seguida pela fraqueza em seu tom de voz.

— Está chorando?

Ela negou com a cabeça ainda virada de costas tentando ao máximo não se despedaçar em lágrimas. Ainda assim, Kisashi a virou com brutalidade, notando o rosto inundado pelo choro, a mão vermelha e inchada com um corte em seu dedo, enquanto pingos de sangue caiam no chão.

— Você é uma inútil!! Olhe o que fez, está tornando esse lugar nojento. Como vou comer agora? Sua nojenta, porca!!

— Perdão papai...

— E ainda por cima chora? Deve ter puxado a puta da sua mãe. É inútil igual a ela. — Lhe empurrou com brutalidade para que saísse da frente, tirando tudo do fogão e tentando apagar a lenha.

— Deixe que eu faço papai. — Tentou contornar a situação, mas o homem lhe olhou feio.

— Estou com fome e tenho uma inútil dentro de casa. É por isso que não irá achar ninguém que a queira! Ninguém quer uma imprestável como esposa!

Sakura já não segurava suas lágrimas, não conseguia simplesmente.

— Por favor papai, eu resolvo. — Já falava aos soluços.

— Não quero que mexa em minha comida. Sua nojenta!! Igualzinha a inútil da Mebuki, me casei por pena e então tenho outra inútil como filha. Me sinto enojado por te considerar isso. Deus resolveu me castigar em me dar uma coisa ridícula dessas como cria!

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