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                  Estava uma brisa gelada, mas não me incomodava, eu estava distraída demais para pensar nos pelos do meu braço arrepiados. Josh estava fazendo brincadeiras de jogar e morango no alto e fazê-lo cair na sua boca. Até agora, ele não errou nenhum. Eu apenas o observava.

— Você poderia tentar também — ele sugeriu, mastigando seu morango.

— Eu sou um desastre em fazer essas coisas. Não invente! — pedi, o que fez ele abrir um sorriso.

Eu adorava aquele Josh.

Ainda não concordei com o que ele disse sobre:  ele ser a mesma pessoa comigo sempre. O garoto da festa não é esse garoto que está comigo agora. O garoto da festa, eu não tenho certeza se ele iria até a minha casa, se arriscaria em subir na minha janela para se desculpar e me distrair.

— Parece surreal — ele comentou de repente. Franzi a testa por não saber sobre o que ele falava em específico. Seu olhar foi para o céu, e seus braços se apoiaram para trás. — Nós dois aqui, passando uma tarde juntos. Sem brigas.

— Eu até gosto desses momentos — peguei um morango também e levei até a boca. — Esse está durando mais do que todos.

— Não vou deixar que você discuta comigo hoje — ele assegurou, olhando para o meu rosto. Fiquei em silêncio, olhando para ele também. — Na hora que voltarmos, quer dirigir o meu carro? Você pareceu ter gostado dele.

— Eu não gosto de dirigir — respondi depressa. — Nem tente.

— E por quê não? — ele quis saber. Desviei o olhar para a grama verde e abracei meus joelhos, soltando um grande suspiro.

— Meu pai morreu em um acidente de carro enquanto dirigia — expliquei. — Não gosto nem de pensar em sentar no banco do motorista e tocar no volante.

— Você sabe que não vai poder viver assim para sempre — ele avisou, cautelosamente.

— Eu tenho cicatrizes na barriga. Eu também estava no carro, assim como Noah — continuei a explicação. — Estávamos voltando de uma sorveteria que eu insisti ao meu pai que fôssemos. E se talvez eu não tivesse insistido tanto, ele ainda estaria aqui.

— A culpa não é sua — garantiu. Levantei o olhar para o seu rosto e dei um sorriso triste. — Quando algo está destinado para acontecer, você pode mover montanhas para que não aconteça, mas não vai dar certo.

— Essa é a primeira vez que eu falo sobre isso sem chorar ou ter os flashbacks — revelei, sentindo uma pontada de orgulho de mim. Sei que meu pai estava comigo naquele momento, e ele estava também sentindo esse mesmo orgulho de mim. — Eu era pequena demais. Não tive momentos com ele tanto quanto o Noah teve, por isso, meus flashbacks são apenas de quando aconteceu o acidente.

— Ele está orgulhoso da garota que você se tornou — Josh sussurrou. — Eu não quero que você chore. Minha missão hoje é distrair a sua cabeça de assuntos que vão te fazer chorar.

— Depois eu com certeza vou sentir necessidade de chorar — comentei, dando um sorriso. Mesmo que eu não chorasse naquele momento, meu peito estava apertado, como se o meu coração estivesse despedaçado.

Ele na verdade sempre esteve, desde o dia do acidente. Meu pai, como eu disse, estava comigo naquele momento; mas eu não podia abraça-lo. Eu não podia vê-lo. E isso me deixava mais angustiada e pensando: como teria sido se tivéssemos ficado em casa assistindo um filme?

Josh pode estar certo sobre quando algo tem que acontecer. Mas talvez, se tivéssemos ficado em casa, o destino não permitiria que ele fosse naquele momento. Naquela semana. Naquele mês. Naquele ano.

5 ᴘᴇᴅɪᴅᴏs • ᵇᵉᵃᵘᵛᵃⁿⁿᵃʰOnde histórias criam vida. Descubra agora