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Depois do colégio, Noah foi me buscar para irmos até uma loja de blusas quentes para levar á Londres. Como havíamos saído do inverno a pouco tempo, as coisas haviam ficado mais barata. Noah agradeceu por isso, pois nos dois primeiros meses que ele ficará em Londres, será os dois meses mais frios que ele terá naquele ano. Aliás, se eu for também, será os meus dois meses mais frios.

- Como foi na escola hoje? Falta apenas três meses para você entrar nas férias de fim de ano. – Noah disse, enquanto dirigia. – Três meses para Natal e ano novo. E, tecnicamente quatro meses e meio à cinco meses para estarmos em Londres.

- Não se anima, garanhão. – falei, fechando a janela do carro e ligando o ar condicionado. Em dezembro entraríamos no nosso mês de neve. Quando eu era menor, sempre gostava quando nevava na véspera de natal e no dia do natal também. Eu ficava jogando bolas de neve no rosto de Noah. Tanto é que uma vez entrou um pouco no nariz dele e eu levei uma bronca da mamãe depois. – Sei que está ansioso, mas tenta não contar tanto assim com a minha presença; Não tenho certeza ainda se eu vou.

- Mas não é o que você quer? – perguntou.

- Sim. Mas eu apenas preciso ver como mamãe vai ficar, para que eu possa ir.

- Tudo bem. – ele deu de ombros e continuou dirigindo.
Quando chegamos á loja, eu apenas fiquei sentada na poltrona em frente ao provador de Noah e fiquei esperando ele sair com os casacos. Ele havia experimentado uns sete. Mas não gostou de nenhum. Nem mesmo do preto com os pelinhos brancos por dentro.

Eu vi alguns casacos na vitrine que havia achado bonito. Um caramelo me chamou atenção, mas decidi que eu não compraria nada para Londres até conversar com a minha mãe. Eu preciso me apressar logo, pois quero que ela me ajude a escolher a universidade.

Quando Noah estava dentro do provador para ver outro casaco, eu comecei a olhar em volta da loja. Estava ficando tão cansada de esperar, que qualquer coisa para me distrair servia. Até que eu encontrei algo que me chamou atenção.
Fiquei alguns segundos encarando Harry no caixa. Entregaram duas sacolas um tanto grandes para ele e logo deram um aceno, com um sorriso simpático.

Sei que Sofya havia dito que eu não deveria falar com ele agora. Que ele precisava de um tempo. Mas quando eu realmente me dei conta, meus pés estavam seguindo ele para fora da loja. Seguiram ele até ver ele parar em frente ao seu carro do outro lado da rua, mas ele parou tudo o que estava fazendo quando eu chamei pelo seu nome.

Harry olhou para trás, e ao perceber que se tratava de mim, a expressão do seu rosto mudou para uma que eu não conhecia. Que eu não conseguia descrever, e agradeço por isso. Pois se eu conseguisse descreve-la, tenho certeza que não seria algo bom.

Ele abriu a porta do carro, eu pensei que ele iria embora. Meu coração disparou ao saber que ele iria me ignorar. Mas logo, relaxei. Relaxei quando ele apenas guardou as suas sacolas no banco do carro. Ele subiu na ponta da calçada e colocou as mãos no bolso da sua calça jeans clara, parecendo esperar eu ir até lá.

E foi isso que eu fiz.

Atravessei a sua e parei a sua frente, vendo que ele me encarava intensamente. Ele deixou com que eu olhasse no fundo dos seus olhos e enxergasse a dor que eu causei. Isso me fez querer sair correndo dali naquele mesmo instante.

— Precisa de alguma coisa? — ele perguntou, com a voz fria. Ele estava de uma forma que eu jamais tinha visto. Engoli seco e juntei as mãos em frente ao meu corpo, sentindo que elas estavam suando.

— Eu só... C-como você está? — quis saber, apertando minhas mãos juntas. Eu sei que aquela pergunta era completamente ridícula, mas eu fui atrás dele sem ter nada para dizer.

— Preciso mesmo responder? — ele espremeu os olhos e me olhou de uma forma que me deixou desconfortável. — Por que veio atrás de mim?

— Eu não sei. — sussurrei, desviando o olhar do seu rosto. Aquilo iria evitar que eu ficasse mais nervosa do que eu já estava.

— As coisas com o Daniel estão indo bem? — perguntou, me deixando surpresa e confusa. Franzi a testa e encarei seu rosto, mas evitei olhar fundo nos olhos olhos. Ele pareceu perceber a minha expressão, então suspirou e passou a língua nos lábios. — Não pense que só porque você fez aquilo comigo, eu desejo que você não seja feliz. Não gosto da ideia de você estar com ele, mas se ele é a pessoa que você gosta, eu não posso tentar mudar a sua opinião.

Fiquei alguns segundos em silêncio, para assimilar todas as suas palavras. Meu coração batia com força, como se eu tivesse corrido uma maratona. Era de arrependimento. Eu queria tanto não tê-lo magoado dessa forma.

— Mas você não precisa me responder se não quiser. Isso não é mesmo da minha conta. — completou, vendo que eu não tinha nada para dizer.

— O que fazia na loja de casacos? Vai viajar? — desconversei, curiosa. Eu queria saber porque havia apenas casados para neve naquele lugar. Assim como as notas também e luvas.

— Na verdade... — ele estava prestes a me corrigir. — Eu vou me mudar. Vou ficar um tempo morando em Montreal. — revelou, me fazendo erguer as sobrancelhas.

Eu queria muito pensar que aquilo não era por culpa minha. Eu espero mesmo que não seja, aliás, apesar de tudo, eu jamais queria que ele fosse embora. Pelo contrário. Eu queria reconstruir a confiança que ele tinha em mim antes de tudo acontecer, eu apenas queria que desse tempo que nos darmos bem novamente.

— Está falando sério? — fiz a segunda pergunta mais boba daquela conversa.

— Quando estávamos juntos... — ele começou dizendo, e eu percebi um certo desconforto nas suas palavras. — Eu já estava com essa opção de ir. Mas eu queria te perguntar o que você achava antes de aceitar tudo. — ele explicou. — Porque se naquela época você me pedisse para ficar, eu ficaria.

Fechei os olhos por alguns segundos e acenei. Não era para ele, em especial. Eu só precisava fazer alguma coisa, porque não tinha absolutamente nada a dizer. Harry conseguia me deixar completamente sem palavras.

— Eu vou passar o Natal e o Ano Novo com os meus pais ainda. Então será apenas no ano seguinte. — comentou.

Analisei seu belo rosto por alguns segundos. Pedida nos meus pensamentos.

— Bem, eu já vou indo. — avisou, não esperando eu responder. Ele apenas desceu da calçada e entrou no seu carro.
Quando ele saiu, ainda desorientada, voltei para a loja de casacos e vi Noah no caixa, esperando que eles fossem colocados na sacola e entregues para si. Comecei a andar lentamente até lá e meu coração ainda estava mais acelerado que o normal.

— Aonde você estava? — Noah perguntou, quando percebeu a minha presença. — Some de repente. — resmungou.

— Eu estava conversando com o Harry. — contei, sentindo um nó se formar na minha garganta. — Ele vai se mudar no ano que vem, para o Canadá. Ele vai para Montreal. — comentei.

— Sério? — Noah pareceu surpreso.

— Será que vamos nos resolver antes de ele ir embora? — pensei alto, mas aquilo soou como uma pergunta para Noah. Ele suspirou e abriu a boca algumas vezes, pensando no que dizer.

— Eu não vou dizer sim para te deixar com expectativas. E nem vou dizer que não para te deixar triste. — falou, estendendo a sua mão e pegando na minha, apertando-a. — Mas não desiste não. Continua tentando falar com ele. — aconselhou, me fazendo balançar a cabeça em concordância.

5 ᴘᴇᴅɪᴅᴏs • ᵇᵉᵃᵘᵛᵃⁿⁿᵃʰOnde histórias criam vida. Descubra agora