Abdução

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Galera sei que ninguem está lendo kkkkkkkkkkkkkkk Mas caso alguem chegue até este capítulo, por favor deixe algum comentario que me motivará ainda mais \o/

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Não sei ao certo quanto tempo passou até o início dos ataques. A única certeza que tenho é que escurecerá e ainda não conseguimos sair deste trem, a cada segundo gritos mais altos são escutados do lado de fora. Olho para as janelas e o que vejo são marcas de sangue, marcas de morte que estão crescendo. O calor está se tornando insuportável, meu suor escorre de minha testa até meus lábios salgando meu paladar, o que faremos? Clarice apoia sua cabeça em minhas pernas enquanto deitada parecia viajar para longe do inferno que estávamos escutando do lado de fora. Meu pai... Não consigo parar de pensar nele, será que está seguro onde disse que estava? Perguntas que só poderiam ser respondidas com um único ato, sair do vagão.

Olhei a minha volta mais uma vez reparando nas pessoas que ali estavam. O homem de terno não parava de olhar uma foto de dentro de sua carteira, estampava para todos vermos sua família. Uma loira bonita abraçando uma criança linda de aproximadamente quatro anos. A única coisa que penso é neles vivos, mas onde será que estão? O mundo deve estar um caos, passou-se horas, horas que transformaram um país sujo em um país podre. Um podre não mais de sua politica imunda, da violência urbana, da poluição e precariedade, mas sim, um podre de cadáveres, cadáveres por todos os lados. Sangue escorria como nascentes e se estendia como rios e lagos. O odor entrava pelos buracos do vagão, cheiro de decomposição, cheiro de morte.

O que cada um fazia antes de nos encontrarmos? A garota lia um livro de capa azulada, estava de pernas cruzadas mesmo com os joelhos esfolados parecia não ligar para suas feridas, mergulhava em um mundo de paz ao ler, seus cabelos lisos caiam sobre seus olhos chamuscados em pânico. Maycon continuava fumando, não parava um só segundo de olhar para a porta, enquanto um dos infectados pela fumaça o encarava com os olhos negros do lado de fora, parecia que sentia o cheiro de Maycon, passava as mãos podres de sangue no vidro tentando atravessá-lo e pegar o roqueiro que não dizia nada apenas encarava aquela coisa. Os grunhidos daquela coisa eram aterradores, mas não era o barulho que incomodava, e sim como sairíamos com eles a espreita nos esperando do lado de fora.

Torres limpava sua arma com um pano sujo que encontrou. João e sua esposa ainda quietos, apenas olhavam-se como se aquilo os confortasse, Luiza levantou de onde estava e sentou ao meu lado, Clarice não esperou se ergueu e foi até Léo e Caroline. A menina me encarou e sorriu, um sorriso de canto, um pouco forçado pela situação.

– Por que está rindo?

– Engraçado, conheci você em uma festa, ficamos de nos encontrarmos para conversar.

– Se soubesse que tudo isso aconteceria...

– Nicolas, não existe destino, mas se era para nos encontrarmos, bem, estamos aqui.

– Verdade, tentarei chegar o quanto antes para Itapecerica, poderemos encontrar seus pais também... - Ela abraçou seus joelhos e abaixou a cabeça, - o que aconteceu?

– Tentei ligar para eles, liguei muitas vezes antes dos celulares desligarem novamente. Liguei não só para eles, mas para todos os meus parentes e conhecidos, ninguém atendeu.

– Eles estão bem.

– Não diga que eles estão bem, por que não estão Nicolas, que pessoa nesta situação deixaria de atender um celular, estão todos mortos. - O que falar para ela nesta situação, tenho que criar coragem para encarar as pessoas. Olhando aqueles olhos em lágrimas, lembro de cada dia inútil de minha vida pouco aproveitada. Enfim, não consegui encarar aquela situação, apenas abracei-a bem forte, coloquei ela sobre meu peito.

Livro I - Nuvens de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora