"Vozes ecoando por rádio é o mesmo que escutar anjos com suas trombetas. A esperança vem em formas de avisos"
Não tenho certeza de quantos dias passaram-se, mas sei que a cada segundo tudo piora. O frio é evidente, não sei o motivo, mas o clima mudou drasticamente. O ar está pesado e congelante, a fumaça que saem de nossas bocas denunciam o frio de nossos corpos. O céu ainda cinzento em um tom morto, e nenhum sinal de sol. Poderá ser pelo ataque extraterrestre? Efeitos colaterais de um mundo sem sua estrela celestial.
De dia um frio suportável, à noite um frio tortuoso. Não sei quando esse sofrimento terminará, mas sinto que nossas forças estão acabando. O supermercado grande proporciona um aconchego, mas a preocupação das portas cederem continua martelando nossos sentidos. Nesses dias aqui dentro o que vejo é a aproximação de todos. Inventamos um meio de nos conhecermos e todos os dias sentamos em volta de uma pequena fogueira no meio de um corredor grande do Supermercado e fazemos perguntas, contamos mais sobre nossas vidas antes de tudo.
Aquela noite sentamos juntos em volta daquelas cadeiras queimando, apenas Bruno não estava, ficará na sala da gerência do mercado tentando contato com seu rádio. Incansável ficou todo o tempo com aquela coisa em sua orelha sem desistência, sem desanimar.
Enquanto o fogo queimava nos aquecendo era notável o olhar de desconforto de Oliver que durante esses dias não trocou uma palavra comigo. Olhar para ele e imaginar aquelas mãos sobre Luiza me dava ânsia, mas tentamos não aprofundar em assuntos amorosos para tentar um convívio melhor. Todavia sentia que não podia deixar minha Luiza sozinha, ele poderia tentar algo, seu sorriso de deboche no canto de sua boca denunciava seus pensamentos impuros. Michele por outro lado ajudou muito o grupo, seus dotes culinários eram extremos, usávamos um fogão de quatro bocas na cozinha do mercado, onde pratos deliciosos ela preparava com a comida do lugar.
Treinamos, treinamos muito nesses dias. Os tiros ao alvo eram o que menos fazíamos para economizar balas. Mas o que importava não era atirar certeiramente, e sim atirar com jeito. Usamos o teto do mercado como base de treino. Com mascarás de gás, coletes e utilidades nos vimos capazes de correr e atirar, saltar com jeito, utilizar facas e facões. Aprendemos até mesmo usar rifles de calibres altos. João e Torres fora ótimos instrutores, por causa deles conseguimos o êxito em nos defender do que poderia vir a seguir.
Enquanto lembrava do que passamos, Michele abria sua expressão com aquele largo sorriso desbravador. Mulher adorável, mostrou-se ser uma ótima pessoa nesses tempos de tormenta. Era engraçada, conseguia fazer qualquer um rir com apenas algumas palavras. Tinha que agradecer eternamente por ela estar tão preocupada com minha irmã, já que uns dias para cá, Clarice veio demonstrando alguns trejeitos estranhos. Ficava sempre quieta em cantos e não sorria mais.
— Ouvimos pouco sobre cada um, apenas os gostos, mas quem se oferece para contar o que fazia antes disse começar? – Torres falara, sentado em frente ao fogo que nos mantinha aquecidos. Michele por sua vez, deu a voz.
— Bem, não tenho muito o que falar, minha vida não era tão empolgante. – Ela ajeitava-se com as mãos enfrente ao fogo, - nunca tive filhos, fui casada apenas uma vez. Depois que me separei tive problemas com minha alimentação e engordei bastante, minha família era apenas minha irmã, sobrinha e meu cachorro Saimon. Quero acreditar que eles estão vivos em algum lugar. E você Marry, trabalhei apenas dois meses com vocês dois aqui no mercado, não sei nada sobre vocês.
Minha sobrancelha deu uma leve erguida. Sabia que aquele casal era estranho, Marry demonstrou ser uma menina dócil, amável que carregava seu livro para todos os lugares, mas de uma hora para outra mudou drasticamente. Durante esses dias mantiveram afastado de todos, pareciam com medo de tudo, estavam inquietos. Mas Gabriel respondeu a mulata com uma gargalhada.
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Livro I - Nuvens de Sangue
Science FictionExistem diversas teorias da existência de vida inteligente fora do nosso Planeta Terra. Teorias de diversos contextos, mas, e se realmente não estivéssemos sozinhos e nossos vizinhos não fossem tão amigáveis assim? Nicolas e seus irmãos se encontram...