Sacrifício

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"O tempo não para como dizia aquele cantor. O som da guerra sobre nossas cabeças era uma devastação inimaginável. Quem venceria? Impossível saber (...)"

Torres saltou sobre as escadas largando sua metralhadora nos meus braços. A água suja batia na altura de nossas canelas e o frio a transformava em agulhas, sentia que ia congelar. A ferida de Gabriel fora sobre seu ombro, e seu sangue jorrava como uma bexiga de água recém-estourada. Marry berrou em desespero por ver o amor de sua vida naquela situação, ele tentou confortá-la segurando sua ferida, mas ela sabia que aconteceria em breve. Bruno e Luiza tentou acudir os dois, enquanto eu, subi para ajudar o policial.

Assim que toquei minhas duas mãos sobre a fria escada de ferro enferrujada, Torres já estava com metade de seu corpo para fora do esgoto. Teria que fazer força para levantar a tampa de aço que Gabriel não fechou, mas como eu ajudaria? Tentei subir o mais rápido possível.

Lembrando de tudo que havíamos passado até agora, Torres sem dúvidas foi fundamental para o nosso crescimento. Sem ele não conseguiríamos sobreviver, assim como não vamos conseguir sem João. Agradeço cada segundo por ter conhecido essas pessoas, mesmo sendo nessa situação. Tudo que vivi até hoje foi pequeno perto do que estou vivendo hoje. Nunca tinha passado tanto tempo com meu irmão, consigo entender tudo o que se passa em sua cabeça agora, e minha querida irmãzinha. Sei que é forte e que tem uma vontade de viver que uma criança normal não teria. Por eles que agradeço Torres e João.

— Essa merda é pesada. — O PM brincou enquanto a boca de bueiro era trancada.

— Como está ai em cima Torres? - Estava escuro demais.

— Eles estão chegando e são milhares, mas fechando essa entrada não teremos problemas.

— Então não preciso subir? Gabriel precisa de ajuda. - Olhei para o lado e via que o sangramento continuava.

— Não, estou conseguindo fechar. — Ele olhou para baixo enquanto a tampa era colocada em seu lugar, e com um sorriso de canto de boca cuspiu algumas palavras. — Vamos conseguir.

Mas em meio ao escuro lugar e a única brecha de luz que ainda ficara devido ao bueiro não se fechar por completo, uma mão surge e agarra o braço de Torres. A tampa cai novamente e mais um braço podre e esverdeado, segura-o.

— Torres, não! — Soltei o grito mais alto que já dei em toda minha vida.

— Porra! — Vociferou com dificuldade retirando de sua cintura uma faca, não pareceu desesperado, aquele homem conseguia manter-se firme perante aquelas coisas, era incrível. Segurei suas duas pernas puxando seu corpo para baixo. Luiza e Michele se desesperaram, Léo correu para tentar me ajudar, era evidente o trabalho em equipe que sempre executamos, mesmo Michele que está a pouco tempo conosco sabe lidar com situações extremas. Mas ele não, aquele maldito do Oliver, meus olhos encontraram os seus por um segundo em meio ao opaco. Todavia, fiz questão de ignorá-lo, Torres precisava de nós.

— Torres acertar eles. — Luiza tentou ajudar com palavras. Torres conseguiu atingir em cheio a cabeça de um dos mortos que caiu sobre o asfalto, porém ao fazer isso sua instabilidade cedeu e seu corpo foi para frente, fazendo o que estava ao lado dele enterrar seus dentes nos dedos do policial, que arfou de dor e agonia.

— Me solte, me solte seu filho da puta! — Não conseguia acreditar. A criatura mordia os dedos de Torres, que no ato pegou sua faca e cravou na cabeça do desgraçado. E foi nesse momento que senti Léo me empurrar e correr para as escadas, não pude segurá-lo. Seu corpo magro e pequeno se colocou entre Torres e o buraco do bueiro. Mirou sua arma e começou a disparar, destruindo os seres que estavam se aproximando. Dando o exato momento de fechar o maldito lugar.

Livro I - Nuvens de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora