Maycon

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"Mas e agora que não existe mais leis? Uma mente justiceira se transformará em que? Maycon era a pessoa mais perigosa que poderíamos ter ao nosso lado"

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O sangue fora respingado por todos os lugares. A fria e sufocante face do homem algemado mesclava-se em um dolorido grito de desespero antes de sua morte. Sua cabeça aberta por uma bala não existia do nariz para cima. Meu corpo ficou gelado com tamanha crueldade. Maycon mantinha uma feição de desespero, seu rosto sujo de sangue e seus olhos lagrimejados. Suas pupilas dilatadas e seus lábios trêmulos denunciavam um alguém fora da realidade. Apontei minha arma para ele, a arma que ele usara para matar o homem estava à metros de sua mão. Por que ele fez isso? Devagar levantou a sua cabeça e olhou para o teto, sorriu um sorriso ralo e desgostoso.

— Sabe Nicolas, antes de tudo isso começar, aquela hora que te encontrei no banheiro eu tentei avisar...

— Avisar o que? – Vociferei tentando chegar até a arma dele.

— Os estádios lembra? – Ele ameaçou pegar a arma. Uma vasta recordação passou pela minha cabeça.

— O que tem a ver com o que você fez com este homem?

— Assim que te vi gostei de você, um cara de boa fé. Você não me conhece, e não tem ideia de quem são as pessoas que estão dormindo do lado de sua irmã ou de sua namoradinha.

— Maycon, você está fora de si. Se drogou?

— Desculpe não me encaixar no grupo de sobrevivência de vocês e daquele policial. Antes de tudo isso começar eu odiava a raça deles, policiais de merda que seguem regras.

— Então você era uma pessoa ruim antes disso tudo? - Ele me olhou com olhos de um demônio. Levantou cambaleando, não abaixei minha arma que apontara para sua cabeça.

— Não, eu não era uma pessoa ruim. Mas sim, alguém que lutava por direitos. Quer saber onde eu estava indo quando tudo isso começou? – Minha testa suou, realmente não conhecia ninguém ao meu redor. Mas gostaria de saber quem era aquele rapaz de olhos fundos e misteriosos que andava de um lado a outro pisando com as solas do seu tênis sujos o sangue do cadáver ao lado como se aquilo fosse a coisa mais normal.

— Então me diga quem é! – Gritei.

— Sou um simples organizador de manifestações, um homem que odeia o governo e que detesta a forma que esse país de merda é governado. Sou o líder do Black Bloc de São Paulo. Visto minha mascará negra e vou destruir tudo que essa filha da puta da Presidenta investe.

— Isso não explica a sua atitude desumana.

— Desumana? Não existe mais humanidade cara, olhe ao seu redor. Tudo acabou, as leis foram extintas e apenas os mais fortes sobreviverão neste mundo devastado. Apenas dois dias se passaram desde que tudo começou, mas essas quarenta e oito horas abriram meus olhos.

— Esse movimento Black Bloc não é justiça, odeio admitir diante de uma pessoa descontrolada, mas o governo estava desnorteado.

— Nicolas vi o potencial em seus olhos. Tentei avisar para não ir em direção aos estádios, esses malditos Aliens absorveram todo o crédito.

— Do que está falando?

— Eu e meu grupo iriamos explodir o Estadio do Corinthians, o Itaquerão não existiria mais.

— Ficou maluco tinha noção de quantas pessoas mataria?

— Tudo em prol do raciocino do ser Humano, caro Nicolas. O direito do cidadão que era esmagado, o diluvio de vítimas de hospitais mau organizados, tudo por um luxuoso show internacional de futebol. Eu seria uma lenda nesse mundo, mataria para que eles caíssem na real, mas não deu tempo...

Livro I - Nuvens de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora