Sobrevivendo

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"A Presidenta deu a ordem de extermínio até que o caos seja controlado, não existe mais rotas de fuga sobre as avenidas. São Paulo está dominada pelos mortos"

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A esperança desintegrou-se junto com o ar puro que podia respirar. Saber que viverei a escombros do que um dia fora o mundo é assustador. Me queixei demais, coisas pequenas ignorei que agora poderia me fazer feliz. Como um dia de sol, um abraço em pessoas de minha família, de um sorriso de carinho. Agora tudo que posso ver em minha frente é morte, sangue e pessoas de que gosto morrendo como animais. O Desespero é a marca registrada no rosto de todos ao meu redor. Aquela expressão fria e angustiada tapava o rosto de meus amigos que um dia já demonstraram gargalhadas de gratidão e felicidade. Como tudo terminaria? Se a cada segundo mais pessoas morrem e transformam-se nessas coisas. Não vejo esperança alguma de vitória contra os mortos, muito menos contra os Alienígenas por trás de tudo isso. Os gritos desordenados dos infectados pelos Zoens ecoavam sobre meu ouvido, invadiu meus sentidos e me deixou desordenado. Não consegui reagir aos berros de João e Torres apontando suas armas para baixo, a única coisa que pensei foi no que estou me tornando. Atirando em pessoas, deixando Maycon para trás. Qual vai ser meu próximo ato?

- Nicolas, - O que vou fazer se não me conheço mais? - Nicolas, acorde... - Sinto um tapa forte em meu rosto. Torres me tirou do transe e me puxou para perto dele, a porta de metal que separava os Zoens de nós poderia ceder à qualquer momento.

- Me desculpe, agora estou melhor. - Concluo, e corro até a beirada da laje da delegacia. As garotas aflitas tentaram de todas as formas manterem-se fortes. João, Torres e Bruno apontavam as suas armas para baixo e atiram em alguns infectados que subiam desajeitados.

- Como vamos descer as escadas até o carro se eles estão lá em baixo? - Berrou Luiza

- Se continuarmos atirar não adiantará, mais deles aparecerão. - Bruno aflito atirou em um que quase subia na laje.

- Não pare de atirar, garotas apontem as armas para a porta de metal, caso eles arrombem temos que estarmos preparados. - João dava ordens. Mas realmente Bruno tinha razão, não teria como continuarmos atirando, os barulhos dos tiros apenas atrairia mais deles, o que fazer em uma situação dessas? De um lado os Zoens estavam cercando não deixando descermos. Do outro lado a porta estava sendo arregaçada por dezenas de mãos em sanguinolências prontas para abrir nossas barrigas e devorar nossos intestinos.

- Pensa Nicolas. - Falei alto, Léo sorrio para mim, e já sabia.

- O que foi Nicolas? - Perguntou Torres, e Léo falou por mim.

- Ele está bolando um plano, olhe suas sobrancelhas, quando erguidas quer dizer que o Nicolas inteligente está em ação. - Luiza e Clarice me olham aflitas.

Olhei ao meu redor, tinham entradas de ar como cogumelos de metais giratórios. Saídas de ar, a porta de onde entramos, botijões de gás do prédio, antenas parabólicas. - Espera, - gritei. Claro, os botijões de gás. Segundo minha teoria e a conclusão de Bruno os microrganismos não suportam o fogo. Corri até os botijões, uma mão segurando a arma e a outra os tubos de onde passavam os gases altamente inflamáveis. Sorri para todos e digo com um singelo levantar de sobrancelhas.

- Me escutem com atenção, quero que Torres desça as escadas de ferro atirando e matando os que estão subindo para abrir espaço para as garotas e Léo descerem, João e Bruno me ajudam a jogar os botijões de gás para baixo.

- Como assim? O que está pensando? - João perguntou, e continuei.

- Com a queda dos botijões eles ficaram pendurados pelas mangueiras metálicas, vamos abrir um furo nelas e o gás vazará e devido a pólvora da arma a mangueira entrará em incêndio. Teremos poucos segundos para descer até os botijões explodirem e incendiar todos os que estiverem por perto, economizaremos balas e tempo.

Livro I - Nuvens de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora