—Co-co-comigo? – Me afasto o suficiente para dar as costas e juntar minhas mãos na frente do corpo.
—Sim. – Ele me puxa com o braço branco, peludo e cheirando a riqueza. – Você é linda.
Olho para a barba grisalha dele e para suas rugas faciais, demarcando a nossa enorme diferença de idade. Eca. Sim, Justino é charmoso, mas não quer dizer que quero me casar com um homem que parece mais ser o meu avô.
—Desde quando despertou esse interesse? – Pergunto, ainda desnorteada.
—Há um bom tempo. – Ele me dá um braço para eu segurar. – Minha intenção não era deixá-la desconsertada.
Seria esse "tempo" o suficiente para ter conversado com meus avós e eles cederem a minha mão?
Andamos perto de algumas flores bonitas e chamativas, mas eu não consigo andar direito e quase preciso ser carregada por Justino. Casar? Não, decididamente não. Eu tenho mais coisas com que me preocupar do que um casamento. Será que Gaspar já sabia disso e por isso queria marcar território quando chegamos? Será que Joanne, a irmã de Justino, sabe disso?
—Eventualmente irei a sua casa pedir a sua mão aos seus avós. – Ele diz, finalmente. – Espero que esteja disposta a aceitar.
Levo um soco na barriga em forma de palavras. Embora eu suspeite que esse pedido já houvesse acontecido informalmente e sem a minha presença, não consigo rebater com alguma resposta inteligente.
Não dá tempo de responder depois, pois eu avisto Laura acenando com a mão num balanço de madeira, parece que Justino também viu, porque ele para e olha para mim fixamente. Sinto os olhos azuis dele como se fossem um céu inquieto.
—Com licença. – Falo, dando um beijo na bochecha dele.
Ando e direção a minha prima e percebo que no outro balanço de madeira, há um garoto, e não é o Nicholas.
—Celine. – O garoto sorri de lado.
Augusto levanta e beija a minha mão, eu aceno levemente com a cabeça. Laura fica vermelha, não sei se de vergonha ou ciúme ou raiva.
Não sei qual era a situação, mas com certeza ela gosta dele e não dá para decifrar se ele gosta ou não dela. Ou se quer apenas tirar proveito da inocência de Laura.
—O que estavam fazendo? – Pergunto ainda desnorteada com a conversa que tive há poucos minutos.
Laura enrubesce.
—Apenas conversando. – Ela diz e continua cochichando para mim. – Papai não gosta quando demonstro demasiada intimidade com um homem.
Rio disfarçadamente. Gaspar com ciúmes da filhinha? Bom, era o de se esperar de um pai, mas Gaspar parecia tranquilo quanto a isso. E onde ele estava? Certamente não perguntarei, pois Laura já deve estar bastante ressentida por eu ter dado o braço a ele e não ela.
—Onde está Nicholas?
—Estava com nosso avô em algum lugar da fazenda. – Laura responde. – Talvez devesse procurá-lo.
Pelo menos agora sei que Sebastião está com alguém minimamente responsável, não quero que ele faça vergonha a minha avó.
De qualquer forma, não estou nem um pouco com a finalidade de atrapalhar o encontro romântico da minha adorável prima.
Sinto vontade de contar todos os acontecimentos para Benedita, mas ela não está aqui.
Aceno para Laura e para Augusto – que lançou um olhar perverso e piscou com um olho só – e adentrei a casa, olhando para os lados para não encontrar-me com Justino.
Na sala estavam Madalena e Maria conversando com outras mulheres, sentadas no sofá.
—Celine. – Madalena se levanta e vai para o canto da sala com a neta. – Como foi a conversa com Justino?
—Normal.
—Normal? É tudo o que tem a dizer? – Ela demonstrou impaciência.
O que exatamente ela estava esperando?
—É impressão minha ou está tentando me empurrar para um velho? – Resolvo cutuca-la.
Madalena congelou, mas rapidamente fez cara feia.
—Oras, mais respeito com Justino. – Diz. – Estou curiosa para saber o que vocês tinham conversado.
—Acho que já sabe. – Falo, tentando não demonstrar mágoa.
—Como? – Madalena se ofende.
—Podemos conversar mais tarde? Estou à procura de vovô. – Me esquivo do longo diálogo.
—É bom mesmo, não queremos passar por nenhum constrangimento.
Madalena acena, mesmo desconfiada, e sorri. Ela volta para o sofá.
Caminho até um dos corredores da imensa casa e escuto sons abafados vindos de trás de alguma porta. Caminho lentamente, atravessando o corredor de forma inquietante e enigmática. Cada vez que dava um passo adiante, os ruídos aumentavam, até virarem gemidos e rouquidões de orgasmo.
Estremeço ao imaginar a cena e tento sair dali, antes de ser pega. Mas uma mão no final do corredor me puxa e me imprensa na parede, cobrindo minha boca com a mão.
Por que as pessoas tendiam a fazer isso comigo?
Continua...
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A Dama Feroz
RomanceSete anos após a morte de seus pais, a vida de Celine corria conforme a sua (estranha) normalidade. Mas após a chegada de seu tio e sua família, ela percebe que todos parecem guardar segredos. Tudo sai do seu controle e tudo que Celine mais quer é a...