Capítulo XI

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—Co-co-comigo? – Me afasto o suficiente para dar as costas e juntar minhas mãos na frente do corpo.

—Sim. – Ele me puxa com o braço branco, peludo e cheirando a riqueza. – Você é linda.

 Olho para a barba grisalha dele e para suas rugas faciais, demarcando a nossa enorme diferença de idade. Eca. Sim, Justino é charmoso, mas não quer dizer que quero me casar com um homem que parece mais ser o meu avô.

—Desde quando despertou esse interesse? – Pergunto, ainda desnorteada.

—Há um bom tempo. – Ele me dá um braço para eu segurar. – Minha intenção não era deixá-la desconsertada.

 Seria esse "tempo" o suficiente para ter conversado com meus avós e eles cederem a minha mão?

 Andamos perto de algumas flores bonitas e chamativas, mas eu não consigo andar direito e quase preciso ser carregada por Justino. Casar? Não, decididamente não. Eu tenho mais coisas com que me preocupar do que um casamento. Será que Gaspar já sabia disso e por isso queria marcar território quando chegamos? Será que Joanne, a irmã de Justino, sabe disso?

—Eventualmente irei a sua casa pedir a sua mão aos seus avós. – Ele diz, finalmente. – Espero que esteja disposta a aceitar.

 Levo um soco na barriga em forma de palavras. Embora eu suspeite que esse pedido já houvesse acontecido informalmente e sem a minha presença, não consigo rebater com alguma resposta inteligente.

 Não dá tempo de responder depois, pois eu avisto Laura acenando com a mão num balanço de madeira, parece que Justino também viu, porque ele para e olha para mim fixamente. Sinto os olhos azuis dele como se fossem um céu inquieto.

—Com licença. – Falo, dando um beijo na bochecha dele.

 Ando e direção a minha prima e percebo que no outro balanço de madeira, há um garoto, e não é o Nicholas.

—Celine. – O garoto sorri de lado.

 Augusto levanta e beija a minha mão, eu aceno levemente com a cabeça. Laura fica vermelha, não sei se de vergonha ou ciúme ou raiva.

 Não sei qual era a situação, mas com certeza ela gosta dele e não dá para decifrar se ele gosta ou não dela. Ou se quer apenas tirar proveito da inocência de Laura.

—O que estavam fazendo? – Pergunto ainda desnorteada com a conversa que tive há poucos minutos.

 Laura enrubesce.

—Apenas conversando. – Ela diz e continua cochichando para mim. – Papai não gosta quando demonstro demasiada intimidade com um homem.

 Rio disfarçadamente. Gaspar com ciúmes da filhinha? Bom, era o de se esperar de um pai, mas Gaspar parecia tranquilo quanto a isso. E onde ele estava? Certamente não perguntarei, pois Laura já deve estar bastante ressentida por eu ter dado o braço a ele e não ela.

—Onde está Nicholas?

—Estava com nosso avô em algum lugar da fazenda. – Laura responde. – Talvez devesse procurá-lo.

 Pelo menos agora sei que Sebastião está com alguém minimamente responsável, não quero que ele faça vergonha a minha avó.

 De qualquer forma, não estou nem um pouco com a finalidade de atrapalhar o encontro romântico da minha adorável prima.

 Sinto vontade de contar todos os acontecimentos para Benedita, mas ela não está aqui.

 Aceno para Laura e para Augusto – que lançou um olhar perverso e piscou com um olho só – e adentrei a casa, olhando para os lados para não encontrar-me com Justino.

 Na sala estavam Madalena e Maria conversando com outras mulheres, sentadas no sofá.

—Celine. – Madalena se levanta e vai para o canto da sala com a neta. – Como foi a conversa com Justino?

—Normal.

—Normal? É tudo o que tem a dizer? – Ela demonstrou impaciência.

 O que exatamente ela estava esperando?

—É impressão minha ou está tentando me empurrar para um velho? – Resolvo cutuca-la.

 Madalena congelou, mas rapidamente fez cara feia.

—Oras, mais respeito com Justino. – Diz. – Estou curiosa para saber o que vocês tinham conversado.

—Acho que já sabe. – Falo, tentando não demonstrar mágoa.

—Como? – Madalena se ofende.

—Podemos conversar mais tarde? Estou à procura de vovô. – Me esquivo do longo diálogo.

—É bom mesmo, não queremos passar por nenhum constrangimento.

 Madalena acena, mesmo desconfiada, e sorri. Ela volta para o sofá.

 Caminho até um dos corredores da imensa casa e escuto sons abafados vindos de trás de  alguma porta. Caminho lentamente, atravessando o corredor de forma inquietante e enigmática. Cada vez que dava um passo adiante, os ruídos aumentavam, até virarem gemidos e rouquidões de orgasmo.

 Estremeço ao imaginar a cena e tento sair dali, antes de ser pega. Mas uma mão no final do corredor me puxa e me imprensa na parede, cobrindo minha boca com a mão.

 Por que as pessoas tendiam a fazer isso comigo?

Continua...

A Dama FerozOnde histórias criam vida. Descubra agora