Capítulo X

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—Está linda, Celine. – Minha avó cantarola.

 Cruzo os braços e esboço uma feição séria e emburrada. Eu adoro quando eu me sinto bonita, mas depende do motivo. Depois do que Dandara me alertou, tá difícil de fingir estar tudo bem enquanto minha avó me empurra para Justino. 

 Gaspar, Maria e Laura foram numa carroça menor que eles arranjaram. Eu, Sebastião, Madalena e Nicholas fomos para uma carroça velha e gasta que pertencia ao meu avô e subimos. Teríamos que chegar à fazenda daquela maneira. Não passa das três da tarde e o sol está escaldante. Ótimo.

 Nicholas conduz uma carroça e Gaspar à outra.

 Pelo menos Sebastião não estava bêbado.

—Por favor Sebastião, não beba quando chegarmos lá. – Madalena implora.

 Será que eles ainda se amam? Não vejo mais nenhum tipo de afeto partido de nenhum dos dois, será que eles apenas se toleram?

 Minha avó está cada dia mais abatida por causa da doença e o meu avô, por causa da bebida.

 Chegando lá, os cavalos são amarrados em algum galho forte de uma árvore e nós seguimos para a luxuosa fazenda. A casa é enorme e tem direito a todo tipo de bicho, escravos para todo lado das roças e alguns convidados na varanda.

 Vários "boa tarde" escaparam da boca da gente e das outras pessoas.

 Madalena envolve o braço dela no braço de Sebastião e sorri – como é de costume um casal fazer. Maria envolve no de Gaspar e eu rapidamente me lembro da alerta dele para mim e envolvo o meu braço ao dele, do lado oposto ao de Maria.

—Pai, achei que eu... – Laura tenta interromper meu gesto.

—Laura, dê seu braço ao seu irmão. – Gaspar diz e ela o olha feio, ficando ao lado de Nicholas.

 Maria sorriu para mim, embora eu ache que ela queria que a filha estivesse em meu lugar.

 Acaricio discretamente o braço de Gaspar e mordo o lábio inferior com um sorriso perverso. Ele percebe e sorri de lado.

—Felizmente chegaram. – Uma voz grave diz. – Boa tarde a todos.

 Justino mira os olhos em mim e sorri sinicamente – ou eu acho que é sínico –, para na minha frente e eu sou obrigada a desatar meu braço de Gaspar para o velho beijar a minha mão.

 Ele quer me comprar ou meus avós querem me vender?

—Está muito bonita com essa roupa, Celine. – Ele diz.

—Fico lisonjeada com vosso elogio. – Sorrio para ele.

 Justino cumprimentou educadamente o restante da família, mas Gaspar parece pouco a vontade com a situação.

—Convido-lhes para conhecer a minha irmã. – Ele estende o braço dele e olha para mim, esperando uma reação minha.

 Madalena me cutuca por trás e eu olho para Gaspar, pedindo socorro. Ele apenas acena, mas sério. Ando lentamente até ficar ao lado do velho rico e entrelaço o meu braço ao dele.

 Adentramos a casa e quando chegamos a uma sala, deparamo-nos com algumas pessoas, mas apenas uma se levanta. Uma mulher alta – devido ao salto –, cabelo preso com acessórios de prata, vestido preto com detalhes vermelhos e luvas pretas.

 É algum velório e não me contaram?

 O rosto dela é perfeitamente harmônico, os lábios vermelhos como uma maça e os olhos azuis como água. Embora apresentasse rugas da meia-idade, ela é extremamente charmosa e bonita.

—Esta é a minha irmã, Joanne. – Justino nos apresenta a ela.

 Fomos de um a um cumprimentá-la. Na minha vez ela lança um sorriso falso indiscreto e na vez de Gaspar eu o vi enrijecer o corpo. Ele esboça um semblante feio.

—Você a conhece? – Sussurro de forma discreta quando ele se posta ao meu lado.

—Sim. – Ele responde friamente.

—E o que tem contra ela?

 Ele demora alguns segundos de responder, avaliando a responda mentalmente.

—Digamos que eu e a sua mãe tínhamos várias amizades por aqui. – Ele diz.

 Minha mãe? Ela conheceu a Joanne?

—Elas se gostavam? – Espero que ele tenha entendido a quem me refiro.

—Não. – Ele reprime um sorriso.

 Eu e minha mãe somos iguais então. Não gostei dessa Joanne. Espero que ela tenha chegado e já tenha dia certo de volta para seja lá onde ela estava.

—Por favor, se sintam em casa. – Justino diz. – Celine, gostaria de dar uma volta comigo?

—Claro.

 Claro que não, mas tem outro jeito?

 Nós caminhamos juntos pelo jardim, ele me mostra boa parte da sua fazenda e seus pertences. Ele é bastante rico. Rico o bastante para pagar cem vezes a dívida da minha família, até mil.

 Ele tem um papo meio chato, de velho. Eu também tenho de me controlar para não falar demais e ele me achar uma louca.

—Já disse que fiquei radioso ao vê-la vestindo um presente meu?

—Sim, e obrigada mais uma vez. – Digo. – Pelo elogio e pelo presente.

 Sorrio, mas queria mesmo estar comendo um pedaço do bolo que vi na mesinha da sala.

—Sua irmã ficará quanto tempo por aqui? – Resolvo perguntar de forma descontraída.

—Ela é inconstante. Pode ficar somente hoje, só uma semana, um ano, para sempre. – Ele ri de forma rouca. – Mas não falemos dela.

 Só de pensar em aturar Joanne para sempre, fico enjoada. Não gosto dela e nem tenho muitos motivos. Espero que ela resolva ir embora amanhã.

—Gostou da fazenda? – Ele pergunta.

—Sim, é realmente linda.

—Um dia pode ser sua também. – Justino para de andar e se aproxima de mim.

—Aonde quer chegar com isso? – Estou um pouco tonta.

—Quero dizer que eu tenho interesse em casar-me com vossa mercê. – Ele se aproxima cada vez mais, o rosto tão próximo que falta poucos centímetros para nossos lábios se tocarem.


Continua...

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