Capítulo II

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—Estou bem, Cel. – Madalena me diz novamente. – Foi só um momento de ansiedade.

 Os olhos dela brilham para mim e eu engulo o seco acariciando os cabelos grisalhos. Talvez tenha sido ansiedade. Porque poderia muito bem ser a doença dela avançando. Era o que nós mais temíamos.

 Vovô já tinha gastado fortunas com exames de diferentes médicos para saber que doença misteriosa estava com minha avó. E por esse gasto de dinheiro, nós estávamos sobrevivendo de poucas comidas e luxos. Hoje o jantar seria uma exceção.

 Vou até o quarto de Sebastião e o vejo deitado na cama.

—Levante! – Eu ordeno. – Sua mulher está passando mal, seu filho chegará a qualquer momento e é isso que faz?

—Tenha... mais respeito comigo... mocinha. – Ele senta e passa as mãos pelo rosto.

 Sento ao lado dele e dou um abraço bem apertado nele. Lágrimas se esforçam para sair das minhas órbitas, mas não iria deixar isso acontecer, não choro há tempos. Sinto que o velho também luta para não chorar.

—Sinto sua falta, vô. – Minha voz sai trêmula.

 Por um momento, sinto uma lágrima escorrer pela bochecha encostada à minha e cair na barba branca. Descolo o meu corpo do corpo gordo e dou um sorriso amarelo. Seu Sebastião limpa os olhos dele e abana em minha direção.

—Saia, vou tomar banho. – Eu vou até a porta e ele finaliza. – A criada já trouxe a água?

 Eu afirmo raivosamente com a cabeça e saio do quarto. Odei o jeito que tratam a Bene, ela e todos os outros negros.

 Eu sou um exemplo de que não entendia a sociedade. Eu não sou preta retinta, mas claramente não era branca. Mesmo assim não sou uma escrava. Por quê? Porque minha avó foi piedosa e meu avô, inicialmente, me rejeitou. Depois eu e o velho nos tornamos melhores amigos, até ele só viver embriagado.

 Minha mãe, branca. Meu pai era escravo até morrer, foi o que me disseram. Minha mãe morreu junto, e eu... escapei por sorte. Ou azar. Todos me olham torto por não ser inteiramente branca e eu já sofro com isso. Não quero nem imaginar o quanto Benedita e os outros sofrem. Embora eu devesse.

 Aqui no povoado, só me respeitam por ser neta do Seu Sebastião. Respeito o qual vem perdendo desde que o mesmo têm se entregado às bebidas.

 Desde quando comecei a entrar na adolescência, os homens casados e asquerosos daqui começaram a olhar diferente para mim. Meu corpo estava mudando. Qualquer coisa com cheiro de nova, esses imundos estavam querendo. Nojo.

 Volto para a sala e observo Madalena sussurrar algumas palavras. Rezando. Ela se vira para mim, ainda sentada na poltrona.

—Vá tomar banho. – Ela me lança um olhar seco. – Já está escurecendo.

—Estou indo.

 Pego um balde e pego água no poço. Nem sequer pedia para a Benedita fazer aquilo por mim. Eu tenho dois braços e duas pernas. Força o suficiente para realizar tarefas sem alguém para fazer de submisso.

 Passo pela cozinha e dou uma piscadela para a Benedita. Ela sorri timidamente. Madalena me vê com o balde e balança a cabeça negativamente.

 Tomo banho e vou para a cozinha ajudar a Benedita.

—Fez o que de bom hoje, Bene? – Quando pergunto isso, ouço Madalena pigarrear em desaprovação.

 Ela odeia quando eu converso com a Benedita, ainda mais por usar conotação de intimidade. Enquanto eu odeio o jeito que o resto a tratava.

 A menina de pele escura olha timidamente para mim e não responde. Até porque, a resposta da minha pergunta era: Nada.

 Por mais que minha avó às vezes desse um tempo "livre" para a Benedita, não é o suficiente para quem trabalha sete dias por semana. Pelo menos ela não fica trabalhando até a noite, como a maioria dos escravos que eu já vi.

 A menina que está comigo na cozinha também é órfã. Perdeu os pais – também escravos – numa viagem longa que eles não resistiram. Meu avô a comprou de um fazendeiro rico.

 Benedita malmente expressa seus sentimentos e expressões, malmente fala. Só em ocasiões que estávamos sós.

  Levo um chá para minha avó e ela aceita de bom grado. Sebastião agora está ao lado da esposa, dessa vez, um pouco mais normal e responsável. Eu sorrio para ele e ele acaricia meu cabelo castanho avermelhado.

—Celine, minha filha. – Madalena implora. – Sua roupa está linda.

 E de fato. O vestido longo e verde água realçavam a cor dos meus olhos verdes. O sapato preto com salto também tinha seu charme.

—Mas, por favor, – Ela continua. – arrume esse cabelo. Parece que tem anos que não o penteia.

 Minhas expectativas de que ela iria me elogiar infinitamente foi por água abaixo. Reviro os olhos e segui para o quarto.

—Benedita, me acompanhe. – Ordeno, mas ela sabe que não foi de forma intencional. A mulher mais velha me lança um olhar desconfiado. – Para me ajudar a pentear meu cabelo.

 Eu me apresso em dizer e sigo para o quarto, com minha amiga em meu encalço. No andar de cima eu entro nos meus aposentos e fecho a porta.

 Sento na penteadeira, pego o pente e o levo até meu cabelo. Madalena vem até mim e pega o objeto da minha mão.

—Não! Eu não estava falando sério em você penteá-lo. – Esbravejo.

—Eu quero pentear, Sinhá. – Ela sorri para mim. – Afinal, tu nem sabes fazer um penteado bonito.

—Não me chame de "Sinhá", você não é minha criada. – Cruzo os braços.

—Tens de ficar linda. – Ela fala depois de molhar algumas mechas do meu cabelo. –Soube que seu primo vai chegar e ele tem mais ou menos nossa idade.

—Isso não me desrespeita. – Falo secamente.

—Ora, vai dizer que não gosta de ser apreciada. Sua cor é linda. – Bene faz tranças no meu cabelo e prendem atrás, fazendo um lindo penteado.

—Sua cor é muito mais bonita, Bene. – Eu sou sincera ao dizer essas palavras. – Seu cabelo é perfeito, o mundo que não está preparado para você.

 Olho para ela pelo espelho e sua feição é de cansaço.

 Eu levanto e a abraço. Solto um sorriso de agradecimento e vejo quanto estou bonita. Apesar de não gostar muito de me embelezar igual às moças da minha idade. Eu não poderia deixar de notar que essas roupas e penteados davam um olhar mais sério e sedutor para qualquer mulher.

—Queria que você pudesse se vestir assim e ter livre arbítrio, assim como eu. – Seguro as mãos de Benedita. – Se dependesse de mim, você seria minha irmã de sangue. É quase uma.

—Obrigada, Si... Celine. – Ela sorri timidamente. – Mas eu preciso voltar para a cozinha.

 Quase não deu tempo de Benedita terminar de falar, quando sons de casco de cavalo e rodas de carroça ecoaram pela fazenda.

—Eles chegaram. – Eu solto rapidamente as mãos de Benedita e percebo que suo frio.

A Dama FerozOnde histórias criam vida. Descubra agora