—Tudo bem, Celine? – Nicholas me pergunta, enquanto caminhávamos pelo campo.
No meio do caminho, pego uma das belíssimas flores. Uma azul chamada jacinto silvestre. Fecho os olhos e sinto o cheiro da flor, tem um perfume doce e suave.
—Estou bem. – Digo, mas às vezes não acredito que seja verdade.
Continuamos a andar e percebo que Nicholas está inquieto. O que ele tem?
—Onde está Sebastião? – Pergunto, olhando fixamente para o perfil de Nicholas.
—Estava conversando com um amigo. Não é do meu agrado o tipo de conversa deles, então eu saí. – As mãos dele se juntaram na parte de trás do corpo.
Nicholas é tão lindo, é a versão de seu pai mais novo.
Sacudo a cabeça de forma discreta para apartar esses pensamentos errados. Mesmo que eu não seja nenhuma puritana, não quero fantasiar romances inexistentes.
—Quero me desculpar – O garoto pigarreia. – pelo outro dia, no rio.
"Não se desculpe", eu penso imediatamente.
—Você se arrepende?
—Não, Cel. – Ele diz com cansaço na voz. – Mas não foi certo. Não poderá se repitir.
—Tudo bem. – Tento não soar emotiva.
Realmente aquele episódio fora estranho, secreto e errôneo. Mas eu não podia negar que eu havia amado a adrenalina e o gosto da boca de Nicholas. De repente me sinto fraca e descartada, como se não tivesse importância na vida dele. Sinto-me boa por pensar de forma tão provocante ao escutar ou pensar em seu nome.
O que será que Nicholas está pensando agora? E o que sente por mim?
—Celine? – Ele me chama.
—Oi.
—Tudo bem mesmo? Parece decepcionada. – Ele esconde o ego atrás das palavras e as solta para mim.
—Por que estaria? Como você disse, não foi certo. – Tento me recompor. – O que você achou? Que iria me apaixonar por causa de um beijo?
Ele não me conhece, e pelo visto, nem eu me conheço mais. Desde a mudança dele e sua família, não sei mais o que acontece ao meu redor de forma tão perversa quanto antes.
—Não é necessário se explicar mais. – Ele diz, com um sorriso sem graça.
Enquanto voltávamos para a casa de Justino, resolvo melhorar minha cara de cachorro doente, Nicholas não merece minha comoção. Ou pelo menos saber que eu estou abalada.
Não vi Gaspar pelo resto da confraternização, somente no final que eu o vi, com a expressão carrancuda de macho alfa.
Despedimo-nos de Joanne e Justino e já estava consideravelmente tarde.
Já estávamos indo em direção à carroça quando fui parada por Justino.
Olho de soslaio para Gaspar, que sequer move um músculo, e ando até o homem velho. Estávamos um pouco afastados da minha família, o que eu odiei, pois daria mais liberdade de Justino fazer algo.
—Antes de ir, quero dar-lhe algo. – Ele diz.
—Muito gentil da sua parte. – Tento sorrir o mais sincero que posso.
Justino me entrega uma caixinha vermelha com fita bege. Sei o que significa todos esses presentes, ele quer me comprar, quer que eu o aceite como esposo cedo ou tarde. Pego a pequena caixa, para não soar mal educada e a abro.
Dela sai uma joia incrivelmente brilhante e delicada.
—Não posso aceitar. – Eu digo, levantando o colar para perto do meu pescoço. – Deve ter sido caríssimo.
—Não faça essa desfeita. – Ele pisca, mesmo não parecendo. – Aproveite para usar numa ocasião especial.
Ele sorri para mim. Sinto um tom sexual na fala dele e sinto vontade de vomitar, mas engulo a vontade e sorrio de volta.
—Obrigada. – Sorrio mostrando os dentes.
Ele assente, beija a minha mão em forma de despedida e se vira para entrar na sua casa.
Olho para a varanda e avisto um homem de vestes vermelhas e o semblante duro. O homem que vi mais cedo enquanto espionava Joanne.
—Senhor Justino. – Chamo.
—Apenas Justino. – Ele se vira para mim de forma elegante.
—Quem é aquele homem? – Aponto discretamente com a cabeça.
—Ah, aquele é o meu braço direito, Duarte.
No caminho de volta para casa, Madalena sorria para o vento e Sebastião permaneceu com a cabeça baixa. Ele não bebeu.
Não olhei na cara de Nicholas. Não sei se conseguiria sem fazer uma feição rançosa.
—Justino parece bastante interessado em você. – Minha avó diz. – Olhe só essa joia.
Até parece que quem quer casar com ele é Madalena, pelo jeito que ela fala de maneira tão sonhadora.
Não sei o que responder, então eu sorri de lábios juntos e olho para o caminho escuro que percorríamos até finalmente chegar em casa e eu correr para o meu quarto e tirar os sapatos calejantes e colocar uma roupa mais agradável para mim.
Relembro dos acontecimentos do dia. É muita informação, preciso até me sentar para poder reviver cada sentimento com cada pessoa e com cada situação.
Ouço uma batida na porta e Benedita entra. Corro até ela e envolvo meus braços em seu pescoço.
—Tudo bem, Celine? – Ela pergunta da forma mais educada e doce que alguém poderia perguntar.
Já estou cansada de responder essa pergunta, meus olhos enchem de lágrimas.
—Não. – Confesso, deixando uma lágrima escorrer pela bochecha.
—Vou preparar um chá para vossa mercê, certeza que irá relaxar. – Ela diz, afagando meus cabelos com as mãos.
—Não, Bene. Fique.
Deito no colo dela na cama enquanto ela acaricia meu cabelo. Pense uma coisa que eu odeio é demonstrar fraqueza. Detesto. Mas tudo pareceu uma bola de neve e sentir o abraço da minha melhor amiga pareceu um gatilho para a libertação dos sentimentos presos dentro da mulher valente dentro de mim.
—Celine! – Madalena grita da sala.
Dou um pulo de susto e corro desesperadamente até a minha avó, Benedita em meu encalço.
No sofá, Sebastião treme igual um terremoto. Olho chocada para Madalena e ela para mim.
—O que está acontecendo? – Eu grito, com a mão cobrindo a boca.
Até o próximo capítulo...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Dama Feroz
RomanceSete anos após a morte de seus pais, a vida de Celine corria conforme a sua (estranha) normalidade. Mas após a chegada de seu tio e sua família, ela percebe que todos parecem guardar segredos. Tudo sai do seu controle e tudo que Celine mais quer é a...