Capítulo V

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—Mas filho...

—Eu não sou aleijado, Dona Madalena. – Gaspar a responde sem deixá-la completar.

 Meia hora depois eu já não estava mais com a Laura, ela tinha ficado um pouco estranha depois do ocorrido. Azar o dela.

—Cel, minha filha. – Minha avó me chama. – Faz um chá para mim, por favor.

—A senhora está bem? – Pergunto quando a vejo sentada à mesa com a mão na testa.

—Estou... só faça o chá, está bem?

 Eu me entristeço ao vê-la fraca, mas rapidamente faço o chá e a entrego.

—A senhor vai melhorar, vó. – Digo acariciando as costas dela.

—Eu tenho fé que sim. – Madalena diz entre um assopro que dava no chá quente.

 À tarde, Nicholas me chama e nós vamos pegar os cavalos para cavalgar pela Malhada dos Bois. Após ajeitarmos os animais, eu subo no meu e ele no dele.

—Não sabia que usava calças. – Ele diz, um pouco interessado na resposta.

—Esperava que eu fosse andar à cavalo de vestido? – Pergunto e pela cara dele, a resposta era sim.

 Essa família estava sempre querendo muitas respostas e eu não tinha muita paciência para isso.

 Enquanto saíamos além da porteira, Gaspar interrompe mais passadas ao chamar pelo filho.

—Nicholas, mais tarde precisarei do cavalo. – Ele diz. – Não demorem.

 Ele fala as últimas palavras como um tipo de aviso. Ou insinuação. Quem ele pensa que eu sou?

—Não se preocupe. – Eu digo para ele. – Estaremos aqui tão rápido que nem notará nossa falta, tio.

 Arqueio uma sobrancelha e saio sem esperar mais nada dele. Após alguns minutos entediantes de eu mostrando fazendas e casebres, resolvo começar a dançar conforme a música toca.

—Como farão para se sustentar aqui? – Pergunto. – Digo, não ficarão sob a custa da minha avó para sempre, vão?

—Nossa avó. – Ele corrige, mas continua. – Meu pai fará um viveiro de galinhas enorme para vender os ovos em grande quantidade e plantará milho.

—Interessante. – Falo, pensativa.

—Soube que nosso avô está endividado, não tem quase nenhum dinheiro. – Ele toca no assunto sem ter cuidado com o que fala.

—Aonde quer chegar com isso? – Pergunto, lançando olhares avaliativos.

—Como ele pretende pagar?

—Estamos pensando nisso, caso você não saiba. – Odeio quando falam algo quando eu já sei exatamente do que se trata.

 Quem ele pensa que é? Acha que quer ensinar o padre a rezar a missa? Eu passo por isso todos os dias e não ele.

—Aqui é o limite do povoado. – Depois de meia hora cavalgando, eu digo. – Mais alguns minutos chegará à cidadezinha.

 Na volta para a nossa fazenda, a gente passa por um umbuzeiro carregado de frutas e resolvemos parar para pegar alguns umbus.

—Isso é roubo. – Nicholas diz.

—Eles não sentirão falta de poucos. – Digo. – Além disso, você concordou primeiro em pegarmos algumas.

 Ele ri, eu também. Nicholas era um garoto bem formal. Formal até demais. Quer dizer, até onde eu tinha visto.

—Você parece ser uma garota bastante corajosa, Celine. – Ele diz, sorrindo. – Devido a tudo que passou, me admiro não ter seguido o caminho errado.

A Dama FerozOnde histórias criam vida. Descubra agora