Sicília

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— ADRIEN TAMBORILOU os dedos na coxa quando a limousine estacionou na porta da casa de Marinette, em um intervalo menor do que doze horas. Experimentou uma estranha sensação de inquietação ao vislumbrar mais da vida da moça— a entrada estreita com casacos e botas, o som da voz feminina. Sua mãe? E o que ele tinha a ver com tudo aquilo?

  Desde que a conhecera, ela nunca foi muito mais do que um instrumento para atingir seu objetivo. Primeiro como sua fiel assistente, eficiente e competente, e agora como sua suposta lindíssima noiva. Na noite anterior lhe ocorreu que para todo esse teatro funcionar precisaria saber mais sobre a mestiça. E não aprendera muito, mas o pouco que viu o deixou culpado por usá-la dessa forma.
  Cansado dos pensamentos fúteis, abriu a porta e saltou do carro. Não estava complicando a vida de Marinette, mas sim lhe dando um final de semana inteiro em uma ilha do mediterrâneo com todas as despesas pagas. E, se a situação exigisse que ela mentisse um pouquinho, qual o mau? Ele a compensaria depois de tudo.

  Tocou a campainha e ela atendeu ao segundo toque. Usava a roupa habitual de trabalho— a blusa seda clara e a saia lápis escura— só mudando os tons: rosa e cinza. Colar dourado com um medalhão em forma de coração, brincos de pérolas e sapatos de salto baixo preto que completavam o traje. Nada de errado exceto pelo fato de que sua noiva não se vestiria como uma secretária em um final de semana apaixonante com seu noivo.

— O que fez com as roupas que compramos ontem?— indagou Adrien.

— Bom dia 'pra você também. Eu as guardei para usar em Santa Nicola— ergueu a sobrancelha— ou o trajeto de avião já faz parte do evento social?

— Claro que não.— sabia que não podia criticar Marinette. Ela apenas tinha seguido as instruções que ele passara. Logo ele lhe contaria a verdade... Quando não houvesse mais nenhuma forma de ela dar para trás e estragar seu plano.— Já fez as malas?

— Obviamente.— ela fez menção a pegar as malas, mas Adrien as pegou primeiro.

— Vou colocar no parta mala.

— Bom dia, senhor Graham de Vanily.— uma mulher de meia idade, de olhos apagados e cinzentos, e com um avental de cozinha, surgiu atrás de Marinette com um sorriso tímido.

— Bom dia.— só então ele percebeu como tinha sido incômodo. Toda aquela nova situação o deixava fora dos eixos, sem controle. Forçou um sorriso encantador e estendeu a mão para a senhora.

— Sou Sabine Dupain-Cheg, mãe da Marinette.

— É um verdadeiro prazer conhecê-la.

— Precisamos ir, mamãe.— Marinette vestiu o casaco de lã preto e afastou o rabo de cavalo da gola. Adrien se ouriçou ao ver parte do pescoço descoberto com fios azulados.

— Pode deixar que eu me despeço do Hugo por você, mon coeur.— avisou Sabine. Adrien lançou um olhar penetrante para Marinette, que corou.

Um namorado? Obviamente, alguém próximo. Hugo era o nome de um bichinho? Um irmão?

— Obrigada, mamãe.— murmurou, abraçando a mãe antes de caminhar até a limousine.

Adrien entregou a valise ao motorista antes de entrar no banco atrás, onde Marinette olhava pela janela.

— Você... Mora com sua mãe?

— Não, ela dormiu na minha casa porque eu ia chegar tarde.

— Mas por que?

Despreparada, ela o olhou pelo canto do olho.

— Ela veio me visitar.

Marinette Dupain-Cheg parecia tão reservada quanto ele.

Miss ChengOnde histórias criam vida. Descubra agora