Capítulo 23

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Arabela

Assim que cheguei ao meu quarto, após sair da sala do Félix, comecei a chorar novamente, ao mesmo tempo em que mexia no celular e comprava uma passagem de volta para casa.

As lágrimas escorriam por meu rosto e embaçavam a minha visão, mas por mais que doesse eu precisava da distância para enxergar tudo com mais clareza.

Comprei a passagem para o dia seguinte ao meio-dia e imediatamente ao efetuar a compra comecei a fazer minhas malas entre soluços.

Ao começar a tirar tudo do guarda-roupa, encontrei o vestido que Félix me deu para usar no baile e o deixei sobre a cama. Lembrei-me daquele dia e levei a mão até o pescoço tocando o colar que ele havia me dado antes.

Fui até o espelho, me encarei com aquela joia tão cheia de significados e o colar no meu pescoço me trazia lembranças lindas, no entanto, eu não podia levá-lo comigo. O tirei, coloquei de volta na caixinha da joalheria e deixei sobre o vestido.

Voltei a arrumar tudo na mala e quando terminei com a roupa, fui para a mesa e lá encontrei o bilhete que ele tinha me dado junto com o colar. Olhei para o papel e para a letra masculina nele e enxuguei outra lágrima que apareceu junto com a lembrança de um dia bom.

Decidi que aquele presente eu levaria comigo e guardei o bilhete na minha bolsa.

Já estava quase tudo pronto e arrumado na mala quando ouvi batidas na porta e no momento em que a abri vi que era Clóvis segurando uma bandeja com chá, bolo e bolachas.

— Sei que não comeu nada o dia todo — Seu olhar era amistoso e arrependido.

Abri a porta para que entrasse e ele pousou a bandeja em cima da mesa, imediatamente se virando e notando as malas.

— Então a senhorita vai mesmo? — Assenti.

— Meu voo é amanhã ao meio-dia.

Ele soprou triste.

— Bela, minha cara, a carta foi só uma peça que os pais dele o pregaram. Houve sim toda a história do casamento, mas o sentimento dele por você foi todo real. O menino Orsini apenas não a contou por medo que fosse embora quando soubesse. E ele não estava errado já que é exatamente o que está fazendo.

Respirei fundo e soltei o ar.

— Eu preciso da distância e ele também.

— Compreendo. E quanto a mim, será que a senhorita será capaz de um dia perdoar esse simples mordomo?

Sorri.

— Não tem do que perdoar e agradeço o carinho com que me tratou.

— Foi tudo verdadeiro... apenas fui fiel e cumpri ordens. Agora tome o seu chá antes que esfrie. — Fungou para disfarçar o olho lacrimejado. — Tive que levar uma bandeja também para o menino, que estava tão triste e assim como você, não comeu o dia todo. Coitadinho. — Sorri.

— Você não desiste, Clóvis?

Ele riu com tristeza.

— Nunca vou desistir de ver as pessoas que amo felizes e para mim é claro que a felicidade de ambos depende da junção dos dois.

Clóvis estava quase me amolecendo, mas eu precisava ir. Com carinho o desejei boa noite e pedi que de manhã estivesse na frente da mansão para nos despedirmos.

Ao fechar a porta atrás de mim encarei os presentes que Félix me deu, eu precisava devolvê-los, inclusive o anel que ainda estava no meu dedo, entretanto eu não tinha coragem de encará-lo de novo, então resolvi escrever.

Degustação a partir do dia 28/09/2021 Minha ArabelaOnde histórias criam vida. Descubra agora