Capítulo 24

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A minha alegria tinha nome, se chamava Arabela.

E enquanto tomávamos banho, no banheiro pequeno da sua casa, e ríamos como bobos, cada vez mais eu tinha certeza que a minha alegria e a minha vida era aquela mulher.

Saímos do banho, nos vestimos e Arabela foi preparar algo para comermos.

— Não como direito desde que saí da sua casa — falou e eu a repreendi: — Mas agora estou morrendo de fome. Você abre o meu apetite.

— Eu sei que não come, estou vendo o quando você está mais magra e abatida.

— Sofrer por amor é uma ótima dieta.

— Você não precisa de dieta, amo cada curva do seu corpo.

Bela largou a panela que mexia o molho do macarrão e me beijou.

— Você também está mais magro.

— Sem você ao meu lado eu não queria viver.

— Quanto drama!

— É a realidade. — Observei a sua bunda enquanto ela mexia a panela e falei: — Estou achando sexy pra caralho você na cozinha.

Olhou-me com seu sorriso safado.

— Agora que não teremos as meninas da cozinha, cozinharemos juntos e podemos queimar algumas comidas ou quebrar alguns eletrodomésticos. — Rimos, mas logo ela ficou séria e perguntou: — Félix, como vão ficar os funcionários da mansão?

Fechei o cenho, pois era com o que eu ficava mais preocupado quando pensava em perder meu dinheiro.

— Ainda não sei de nada, Clóvis e eu vamos até a empresa hoje. — A encarei. — Tem certeza que eu perder meu dinheiro não te incomoda?

— Essa pergunta até me ofende. Claro que dinheiro é legal, mas não é o que comanda minhas escolhas.

Sorri e eu amava essa mulher.

— Falando em Clóvis, vamos ler o papel que ele deixou? — perguntou:

— Verdade! Tinha até me esquecido.

Esperei Arabela tirar o molho do macarrão do fogo e antes de nos servirmos, fomos para a sala saber do que se tratava aquilo.

Abri o envelope que era um papel timbrado da empresa, assim como o envelope da carta que me dizia que eu perderia a minha herança. E me lembrar do dia que li a carta cheia de gracinhas da minha mãe, me enchia de raiva e ao mesmo tempo me fazia rir, porque ao ler e reler aquelas palavras, sempre me lembrava do seu senso de humor.

Tirei a carta de dentro do envelope e comecei a ler:

Querido,

Você deve estar muito bravo com a mamãe e com o papai, mas espero que fique feliz ao ler essa carta também.

Aliás, FELIZ ANIVERSÁRIO!

Enfim trintou e espero que seja trinta de muitas alegrias e amor.

Essa carta é apenas para contar sobre a peça que seu pai e eu pregamos em você. Se estivermos aí na sua frente não nos mate, se estivermos viajando, logo te daremos um abraço e se estivermos no céu, certeza que estamos fazendo festa e comemorando de lá.

E como presente, precisamos te dizer que sua fortuna continuará com você, confiamos e sabemos que você é plenamente capaz de se cuidar sozinho e isso não passou de uma brincadeirinha. Foi engraçado, vai?

Mas apesar de ser brincadeira, esperamos que tenha nos rendido uma nora linda, de bem e que coloque você nos eixos, pois sabemos que você não é fácil.

É isso, esse é nosso presente para os seus trinta anos, a empresa da família é sua.

Muitos beijos e beijos na nossa nora, diga que queremos um neto logo.

Ah! E não mate o Clóvis, ele ficou encarregado de colocar a brincadeira em prática caso não estivéssemos em casa nos seus trinta anos. Ele me jurou que faria direitinho e daria um jeito de entregar a carta quando visse uma noiva em potencial.

Tivemos essa ideia louca antes do nosso passeio de lancha, porque seu pai disse que se deixássemos para depois íamos esquecer e então fizemos logo, tipo uma máquina do tempo, sabe? Coisas do seu pai.

Te amamos, para sempre.

Beijos.

Papai e mamãe

Terminei de ler a carta e estava com os olhos cheios de lágrimas ao mesmo tempo em que ria, sentindo como se eles estivessem ali comigo de novo. Arabela sem saber do que se tratava me abraçou e quando nos separamos eu entreguei o papel para que lesse.

Rapidamente leu cada palavra e me olhou com compaixão.

— É seu aniversário? — Assenti. — Parabéns, meu amor. — Me abraçou e falei com a voz embargada:

— Obrigada.

— Desculpa, eu não sabia.

— Tudo bem. Bela, sinto como se eles ainda estivessem aqui. Mesmo sem imaginar o que aconteceria com suas vidas e comigo, me deixaram essas cartas, com essa brincadeira que me trouxe você e é como um presente deles. O melhor presente.

Enxuguei uma lágrima ao me separar dela e Bela passou a mão em meu rosto para me consolar.

— Isso foi lindo. — Ela também chorava.

Limpei meu rosto e gargalhei.

— Lindo? Isso foi uma filhadaputagem dos dois. — Olhei para cima. — Eu amo vocês! — Olhei para a Bela e falei: — Eu vou matar aquele mordomo insolente! Não acredito que ele me deixou passar por tudo isso.

Bela gargalhou e eu a acompanhei até que lágrimas de alegria saíssem dos meus olhos.

— Sabe que sempre achei essa história mal contada, mas eram tanto advogados dizendo que eu não tinha saída que mesmo eu tendo estudado direito, apesar de não exercer, não me toquei que podia realmente ser alguma brincadeira ou sei lá.

— Acho que você já estava abalado psicologicamente há anos e aí acabou acreditando fácil.

— Pode ser.

Ri e balancei a cabeça em negativo.

— Isso daria um filme — falou analisando a história.

— Não! Daria um livro. Livro é sempre melhor que o filme.

Ela me olhou, arregalou os olhos e falou com um sorriso radiante no rosto.

— Não acredito que você disse isso! Se você não é um príncipe perfeito para casar, eu não sei quem é.

Juntei a sobrancelhas sem entender.

— Te amo, senhor Orsini.

— Te amo, minha Arabela.

Degustação a partir do dia 28/09/2021 Minha ArabelaOnde histórias criam vida. Descubra agora