A bela donzela

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"É o meu dever"- pensou ela, seus olhos presos aos dele, seus pés em perfeita harmonia, passo após passo, como se flutuassem, como se estivessem em um universo próprio, sós, ela sentia o movimento delicado da saia de seu longo vestido vermelho, uma cor pensada premeditadamente, não só era útil em chamar a atenção dele, como era útil para seu... dever, digamos, a expressão de puro encanto que ele tinha, argh, fazia tudo tão mais difícil para a bela donzela.

Eles dançaram até perderem os sentidos dos pés, então, ele estava pronto para a última parte, o grand finale merecido, ele estava mais do que pronto e, de prontidão, seguiu-a até um jardim isolado, ele a seguia como um cão segue seu dono, completamente tomado por sua repetina paixão, mas ela, ela definitivamente não estava pronta, a bela donzela não queria utilizar dos seus dons para enfeitiçar o pobre cão, ela não queria, mas não tinha escolha, nunca tivera, duvidava que um dia a teria, então sob a luz da lua, aproximando-se devagar, tocou o rosto dele, o toque mais suave que dara em toda a vida, como se tivesse medo de quebra-lo, e de fato o tinha, e de fato, iria fazê-lo, em um último momento de entrega, com a mão na adaga de prata que reluzia um azul lunar, ela fechou os olhos, e então....

Algo a perfurou, uma pontada de dor, seus nervos gritando, seu sangue pingou, começou a escorrer, abriu os olhos arregalando-os, em pleno estado de choque, ela o encarou e só então percebeu, o pobre e tolo cão, na verdade era o lobo mais encantador que já vira, ele a encarava com um sorriso ladino, encostou os labios nos seus, e então, desde que nascera, a bela donzela finalmente teve escolha, e sua escolha foi sorrir, enquanto sentia sua vida escorrendo de seu corpo.

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