Dó, ré, mi

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Dó, ré, dó, mi, sol, teclas e mais teclas de marfim, suas mãos firmes enquanto o som que o mesmo produzia inebriava-o, em seu próprio universo, lembranças dela, a doce donzela que conseguira arrebata-lo, seus olhos castanhos esverdeados, sua pele oliva, seus lábios arroxeados, seus cabelos ondulados, cada curva de seu corpo, o sorriso de marfim, comparava-a com o piano que agora dedilhava, a única mulher que ja lhe dera algo além de, obrigações, deveres, cobranças, as teclas, os pés do piano, o material que ele sempre esteve tão acostumado agora tinha um novo significado, perdera-se entre o mundo físico e o imaginário, ela havia dado isso à ele, esperança, alegria de viver, algo para aconchegar-se, conforto, tudo o que a música o trazia, ela o trazia, pressionou então a última tecla, a última nota, lagrimas escorrendo de seus olhos, assim como a música, ela não poderia ficar para sempre, apenas esperava que ficasse mais, mas não ficou, e com a última nota e a última lágrima, deu também o seu último suspiro, ele amou a música tanto quanto amou ela, mas esqueceu-se do mais importante, nunca havia de fato, amado a si mesmo.

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