Anos de morte

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Foi feita para governar, adequada e encaixada em um molde apertado, sufocante, asfixiador, quando a carta anônima que falava sobre um baile de máscaras a encontrou, sim, a carta a achou, ela pode vislumbrar uma chance pequena, minúscula, de uma liberdade da qual sabia que não iria ter, nunca.

Completamente irreconhecível, com um vestido feito a mão por uma de suas damas de companhia, um do qual tinha a certeza que os pais não sabiam, e uma máscara encaixada em seu rosto, ela partiu, fugindo, lutando com a força do que parecia ser a de um último suspiro, perdida dos que ela conhecia, perdida até mesmo de si, por que ela tanto desejava não ser reconhecida? Reconhecia ela a si própria ?

Cambaleante, se encontrou nos olhos castanhos de um homem, jovem, mascarado tal como todos no salão, que tão lentamente quanto um felino, se aproximou, a pele de ébano reluzia sob as chamas dos candelabros que se espalhavam pelo cômodo, um ar de expectativa, uma tensão tentadora, porém pura, nada além de dançar desejavam, ele apesar de ter tido experiências anteriores que iam muito além, estava satisfeito em simplesmente tocar em suas mãos, um gesto considerado simples, mas, para os dois, foi nada menos que eletrizante e, sentiu-se são, completo e ela extasiada, sentia- se como uma criança acolhida pelos pais, acolhimento que a mesma nunca havia experienciado, sorriram um para o outro, perdendo-se um no outro e depois de muitos anos de morte, sentiam-se vivos, um nos braços do outro, um pertencendo ao outro, por aquela noite e nunca mais.

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