Rio Styx

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E se tivesse deixado de esconder seus sentimentos? E se não tivesse punido a seu filho de forma tão severa? E se não tivesse dispensado a oportunidade de caminhar ao longo do campo com sua esposa? E se não tivesse sem emaranhado em pilhas e mais pilhas de papel para puramente manter-se tão rico quanto ja era? E se tivesse dado a devida atenção a sua mãe no momento de sua partida? Perguntas rodopiavam como redemoinhos de baixo pra cima, de cima pra baixo em sua mente, o pobre homem rico, sentado no banco daquela embarcação suja, úmida, com cheiro da mais podre substância que ja havia sentido, o frio gelava os ossos, agarrado a si mesmo perguntava-se, devia ter feito feito mais, devia ter feito menos, devia. E se nunca tivesse dado ouvidos ao pai? E se o tivesse perdoado? E se tivesse se dado a chance, mesmo que efêmera, de sentir? As roupas desgastadas, empoeiradas, como se cobertas por camadas espessas de terra, a embarcação balançava-o de um lado para o outro, sentia náuseas, dor de cabeça, falta de ar, talvez pelo ar rarefeito, apesar de estarem em níveis baixos, assim ele acreditava ao menos, tudo era tão escuro, tão sombrio, a energia esquisita que aquele lugar emanava junto ao frio e o mergulho em seus atos anteriores o faziam ter calafrios que subiam e desciam a espinha. Se tivesse feito, ele sabia, teria sido mais proveitoso.
- Senhor?- A figura fantasmagórica virou-se à ele.
-Diga-me seu nome.
-Sou Caronte, homem.
Então ele soube, podia e devia ter feito mais, todos os " e se" pararam, o redemoinho cessou, tudo estava estático agora, não haveriam mais " e se", nunca mais.

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