One-Shot Johnlock

Encrenca

Sherlock foi acompanhado pelo inspetor até a diretoria. Mais uma vez, havia sido expulso de sala. Só porque disse em voz alta que seu professor de física estava tendo um caso com a professora de biologia, e que eles se encontraram no auditório durante o intervalo de aulas. Ser punido por apenas observar fatos que tinham ocorrido era extremamente injusto.

O inspetor abriu a porta, que dava para uma pequena sala de espera e o pediu para esperar. A sala tinha uma fileira de cadeiras, uma mesa para a secretária e uma porta que levava a sala do diretor. Sherlock se arrastou para uma das cadeiras e sentou-se. Estava indo abrir sua mochila em busca de seu livro quando a porta foi aberta de forma bruta. Um garoto, de talvez 17 anos, entrou na sala de espera e se jogou em uma das cadeiras. Sherlock imediatamente começou a o observar. Era loiro, baixo, forte e de pele bronzeada. Usava um moletom surrado e jeans velhos. Seu rosto estava um pouco machucado, e logo Sherlock deduziu o que o levara à direção.

-O que você está olhando? - perguntou o loiro, irritado.

Sherlock agora o viu de frente, e percebeu que, além de tudo que tinha observado, o garoto também era bonito.

-Nada.

O garoto apenas revirou os olhos e voltou a encarar o chão, de braços cruzados. Sherlock se incomodou com a distância entre os dois, então se levantou e sentou-se do lado do garoto.

-Qual é o seu problema? - perguntou, irritado.

-Com quem você brigou? - perguntou, curioso.

-Por que? Quer ser o próximo?

-XIIIIU! - disse a secretária, pedindo silêncio.

Sherlock a ignorou, e continuou a falar, em um tom mais baixo:

-Só queria saber qual dos idiotas do colégio está na enfermaria agora, mas se você quer ficar na defensiva, tudo bem. - disse, dando de ombros.

-Como você sabe que ele foi para a enfermaria? Já estão fofocando?

-Não. Mas se ele não está aqui, só pode estar na enfermaria, certo? Um pouco óbvio, na verdade. Seu raciocínio aparenta ser meio lento, talvez seja inversamente proporcional a sua força e beleza. Mas não se preocupe, não dá para ser perfeito em tudo.

O garoto abriu a boca, mas não disse nada. Depois de um tempo em silêncio, disse:

-Você acabou de me insultar e elogiar ao mesmo tempo?

-Como eu disse, raciocínio lento.

O loiro sorriu, ficando ainda mais bonito, mesmo com os machucados no rosto.

-John Watson. - disse ele, esticando a mão para cumprimentá-lo.

-Sherlock Holmes. - disse, apertando a mão do outro e sentindo arrepios com o contato.

-Por que está aqui? Quero dizer, por que você brigou com alguém? - perguntou o moreno.

-Por que ele era um riquinho idiota que se achava superior a mim.

Óbvio. Aquela era uma cara escola particular, e os alunos bolsistas costumavam sofrer com os não bolsistas. Sherlock deduziu que aquele tinha sido o caso da briga assim que John entrou na sala, mas mesmo assim perguntou, apenas para manter o assunto.

-E você, o que você fez para estar aqui? - perguntou John.

-Nada de demais... apenas falei que meu professor de física dormiu com a professora de biologia no auditório.

John gargalhou alto, recebendo mais um irritante "xiiiu" da secretária.

-Como você soube disso?

-Simples. Além da roupa desalinhada dos dois, eles compartilhavam o mesmo perfume.

-Perfume?

- Eu sou bom em reconhecer perfumes. - disse, dando de ombros.

-Você é estranho. Gostei de você.

Sherlock sorriu. Todos no colégio o odiavam, mas aí estava uma exceção. John Watson não se importava dele ser estranho, provavelmente porque ele mesmo era estranho também.

-Qual é o meu perfume então? - perguntou John, aproximando seu pescoço do outro.

Sherlock riu e rapidamente cheirou o ar perto do loiro.

-Encrenca.

O sorriso que Watson deu derreteu Sherlock por completo. Eles estavam tão perto, que o moreno podia observar com exatidão cada detalhe do rosto do outro.

-Sherlock Holmes? O diretor vai vê-lo agora. - informou a secretária.

-Boa sorte. - disse John, se afastando.

Sherlock agradeceu e foi ouvir o sermão do diretor. Na verdade, ele não ouviu nada, porque já sabia o discurso de cabeça. Não era a primeira vez que o jovem era mandado para a direção, e o discurso que ouvia era sempre o mesmo. Era previsível, diferente de John. Apesar de Sherlock ter deduzido tudo sobre o outro, ainda tinha a sensação que tinham muitos segredos para serem descobertos. E ele estava louco para descobrir todos eles.

O diretor o liberou, e ele voltou para a sala de espera.

-Sua vez, John Watson. - disse a secretária.

John levantou, sorriu mais uma vez para Sherlock e entrou na sala do diretor. Sherlock olhou em volta, sem saber o que fazer. Era o último tempo de aula do dia, e ele não queria voltar para casa ou para a sala de aula. Ele queria conversar mais com John. Queria conhecê-lo melhor. Ele queria John Watson.

Sem saber o que fazer, sentou-se novamente em sua cadeira. Ficou ali por um tempo, até que a porta abriu novamente e John Watson voltou para a sala de espera. O loiro o encarou por um tempo, confuso, mas depois sorriu e se aproximou.

- Você estava me esperando? - perguntou.

Sherlock apenas deu de ombros, como se aquilo não fosse nada de demais. John puxou Sherlock pelo braço e disse:

-Vamos embora daqui.

Sherlock se deixou ser puxado pelo outro da sala e o seguiu, sem questionar. Não sabia para onde estava indo, mas não se importava. Provavelmente não era assim que pessoas flertavam, mas ele não era como outras pessoas. E, aparentemente, John Watson também não era.