Procrastinação

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O sol bateu no rosto de Sherlock, o despertando de seu sono. Assim que abriu seus olhos, o medo invadiu seu coração. Era hoje. Sentia como se a gravidade o segurasse na cama, mas com esforço, levantou-se e saiu do quarto. O apartamento estava em completo silêncio. John ainda não acordara. Sherlock suspirou, aliviado, e foi tomar um banho. Quando saiu, encontrou John na cozinha, tomando seu café da manhã.

-Bom dia! - disse, sorrindo. 

Sherlock mentalmente amaldiçoou a combinação genética que criara John. Por que ele tinha que ser tão lindo? Apenas tornava tudo mais complicado.

-Bom dia. - respondeu, sentando-se e tomando seu chá. 

O chá quente acalmou um pouco seus nervos. Sentiu o efeito das ervas em seu corpo, o acalmando. Repassou o plano na cabeça. Era simples e rápido. Mas, infelizmente, não era infalível. Tudo podia dar errado. O medo, mais uma vez, se apossou de seu corpo e ele colocou a xícara na mesa. De repente, estava enjoado demais para comer. 

-Algum problema? - perguntou John, preocupado. 

Além de lindo, ele também era atencioso. Não era justo. Sherlock não merecia sofrer dessa maneira. Era errado. 

-Tudo certo. - mentiu.

-Ok... algum caso? 

-Não, temos o dia livre. - respondeu, nervoso.

Primeiro passo, dado. Agora era preciso continuar. Não podia desistir agora. 

-Ótimo. - disse John, voltando a comer. 

Sherlock abriu e fechou a boca diversas vezes, mas parecia que ele tinha esquecido como falar. Sua garganta estava fechada, enquanto sua mente gritava para ele dizer logo o que queria. 

-John, eu... - começou, mas foi interrompido pelo celular de John, que apitara. 

John checou o celular e sorriu. 

-Quem é? - perguntou Sherlock, curioso.

-Samantha. - respondeu, como se aquilo devesse significar algo.

-Quem é Samantha? - perguntou, sentindo seu coração cada vez menor.

-Ah, ela é a nova enfermeira do hospital. Eu fui o primeiro a dar boas vindas para ela, e desde então nós começamos a conversar bastante. 

O chá que Sherlock tinha bebido embrulhava em seu estômago. Aquilo não podia estar acontecendo. 

-Ela é bem legal, na verdade. E bonita, também. - continuou.

Sherlock rezava para que John parasse de falar. A dor era insuportável. Aqueles elogios saiam da boca do outro e o atingiam como tiros. 

-Na verdade, eu estava pensando em chamá-la para sair, o que acha? 

-Para que sair com ela, se vocês já se veem no trabalho? 

John riu, e Sherlock quis chorar. 

-Sair em um encontro, Sherlock. Você sabe, quando você gosta de uma pessoa. Romanticamente.

-Não sei, na verdade. 

Era mentira. Ele sabia muito bem o que era isso. 

-Então, o que você acha? - insistiu John.

Sherlock suspirou. Ele poderia dizer várias coisas que iriam convencer John a não ir nesse encontro. Poderia até dizer o que tinha planejado. Mas ao ver o olhar do outro, a esperança que John tinha de encontrar  amor, Sherlock perdeu a coragem. Porque ele o amava, e o queria feliz. E se isso significava sair com essa Samantha, que seja. 

-Eu acho uma boa ideia. Temos o dia livre, e eu tenho vários experimentos para fazer, de qualquer forma. - respondeu, dando de ombros. 

John sorriu, aliviado. 

-Que bom. Estava preocupado de te deixar sozinho durante o dia. 

Sherlock forçou um sorriso para esconder a dor que tinha sido ouvir isso. John terminou de tomar seu café da manhã em silêncio, checando as vezes as mensagens no celular. Então ele apenas levantou e foi para seu quarto, provavelmente para ligar para Samantha e convidá-la para sair.

Sherlock de repente viu-se sozinho na cozinha. Arrastou-se até o seu quarto, e dessa vez não lutou contra a gravidade que o puxava de volta para a cama. Aninhou-se em seu lençol, imaginando que aquele calor vinha do corpo de John, e se permitiu chorar por um tempo. As lágrimas molhavam seu rosto e o travesseiro. Quando parou de chorar, sentou-se na cama. Apesar de estar um pouco mais calmo, a dor não tinha ido embora por completo. Ainda estava lá dentro, junto com o amor que sentia por John, que nunca acabaria. Olhando para a janela, lembrou que tinha planejado admitir para John seus sentimentos. Tinha planejado acordar e, durante o café, convidá-lo para um encontro. Riu de sua própria ingenuidade. John não o amava, isso era óbvio. Mas mesmo assim, uma faísca de esperança aquecia seu peito. Percebeu, num lampejo de racionalidade, que estava preso em um ciclo vicioso. Fazia dias que, ao acordar, ele planejava se declarar para John. E fazia dias que seu plano era frustrado, por diversos motivos. Sabia que aquele ciclo o estava machucando, mas não conseguia sair. E, principalmente, não queria sair. Ele ainda acreditava, no fundo, que um dia daria certo. Ele e John seriam felizes, juntos. Sherlock levantou-se da cama e foi fazer seus experimentos. Apesar de estar consciente do seu possível fracasso, murmurou para si mesmo o que vinha dizendo há dias:

-Amanhã eu tento de novo. 

Nota da autora: Oi querides, espero que estejam bem. Essa foi a minha primeira tentativa de one-shot que não tenha um final romântico e feliz. Quis tentar algo diferente, e espero de verdade que tenha ficado bom, na medida do possível. Eu prefiro escrever one-shots que eles fiquem lindos e juntos no final (porque temos a série para nós fazer sofrer), mas dependendo das minhas ideias, talvez eu faça outras nesse estilo. Podem me dizer se vocês acham uma boa ideia ou não. Estou a disposição de vocês. Aproveito para agradecer pelos votos e comentários, amo vocês. Era isso, recado dado, desculpa se ficou muito triste, continuem se cuidando e até a próxima ♥️♥️

One-Shot JohnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora