Violinista

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Oi meus amores, finalmente uma nova one-shot para vocês! Já comecei a escrever o próximo capítulo de "O Hóspede", agora que estou de férias as coisas vão ficar mais fácies. Sei que é uma oe-shot curtinha, mas escrevi hoje mesmo para vocês já terem um gostinho das atualizações que estão por vir. Se tiverem alguma sugestão de ideia para one-shot, só comentar, porque como fiquei muito tempo sem escrever, estou meio enferrujado. Feliz Natal atrasado, feliz ano novo adiantado, e amo vocês! Até a próxima que será em breve! 


John sentia suas costas doerem. Na verdade, todo o corpo doía. Mas mesmo assim, ele se esforçava em manter o sorriso do rosto enquanto se despedia de seus pacientes e aguardava que o próximo entrasse no consultório. Como uma máquina, o médico nem pensava, apenas trabalhava no modo automático esperando o dia acabar. Até parecia que ele tinha algo importante para fazer depois, o que era mentira. John nunca tinha encontros. Não saía com os amigos nem com a família. Na verdade, ele até saía, mas nunca estava lá, não de verdade. Nunca estava satisfeito. Sentia um buraco em seu peito. Ele não vivia, simplesmente sobrevivia. 

-Dr. Watson?

O médico deu um pulo e olhou em direção a voz. Uma das enfermeiras o olhava preocupada.

-O que foi? - perguntou, confuso.

-O último paciente saiu há 10 minutos, mas o senhor continua sentado na mesma posição. 

O loiro sorriu sem graça, mas nem inventou uma desculpa. Todos naquela clínica o achavam maluco e estranho, e o médico estava começando a concordar com eles. Como explicar que ele passava a maior parte de seu tempo preso em seus pensamentos, tentando entender onde e quando tudo deu errado?

Watson terminou de arrumar suas coisas e saiu da clínica, com o mesmo sorrindo congelado, se despedindo de seus colegas de trabalho e dizendo o doloroso "até amanhã". Foi se arrastando pelas ruas de Londres. Considerada uma das cidades mais bonitas do mundo, John a detestava. Era extremamente frio e chuvoso, o que o entristecia. Mas, quando encontrava um casal ou família de turistas passeando felizes, também se entristecia. Talvez o problema não fosse a cidade...

Agora suas costas doíam mais do que nunca. Começou a contar os passos para casa, tentando esquecer a multidão ao seu redor que parecia cada vez maior, e ele parecia cada vez menor, se encolhendo, encolhendo, encolhendo...

De repente, música. John pensou estar enlouquecendo de vez, mas definitivamente ouvida música nas movimentadas ruas de Londres. Sem saber o motivo, mudou seu rumo e começou a seguir em direção ao som. Sabia que estava se afastando cada vez mais de casa, mas algo naquele som o atraía. O som foi ficando mais alto, de forma que ele reconheceu que era um violino. Apressou ainda mais os passos, quase correndo em direção ao som, como se aquilo fosse capaz de salvar sua vida. 

Enfim, ele chegou. O violinista tocava, com a caixa do violino aberta e poucas moedas dentro. Ninguém parava para ouvir de verdade. A maioria passava direto, alguns ouviam por 2 segundos e jogavam uma moeda, mas logo seguiam seus rumos, indiferentes.

John foi se aproximando, agora sem pressa. Seu coração batia forte, mas não por ansiedade. Batia ao ritmo da melodia, o impulsionando para frente, perto o bastante para ver o violinista. Era um homem alto, magro e muito branco. Como um contraste, possuía cachos escuros e bagunçados, que balançavam a medida que o violonista se movia no ritmo da música. Seus olhos estavam fechados, e todo seu corpo se movia junto da melodia. Ele não estava apenas tocando, ele estava sentindo a música. Cada nota saía dentro de si. Ele era bonito. Ele era a música. 

Tudo veio na mente de John: momentos bons, momentos ruins, momentos quaisquer. Era como se a música fosse a trilha sonora de sua vida, enquanto as lembranças corriam sua mente. O médico sentia tudo ao mesmo tempo, e por mais que isso possa parecer ruim, ele estava em êxtase. Pela primeira vez em muito tempo, ele estava sentindo algo de verdade. 

Aos poucos, a música foi diminuindo, chegando ao seu fim. O violinista respirou fundo antes de abrir seus olhos. Eram claros, como o mar ou como o céu, e belos como a vida deve ser. O homem viu Watson parado em sua frente e sorriu.

-Oi. - disse.

John tentou responder, mas assim que abriu a boca, começou a chorar. Todo o choro que havia prendido ao longo dos anos estava ali: toda a dor, toda a alegria, toda a dúvida e toda a certeza. John chorava, e sentia que suas lágrimas eram chuvas purificando seu corpo. Por isso, não parou até se sentir leve como nunca antes. 

 As pessoas ao redor encaravam, mas o violonista não o julgava. Apenas esperava pacientemente. Quando o loiro enfim parou, o outro disse:

-A vida é complicada né?

Watson riu, sendo acompanhado pelo violinista.

-Meu nome é Sherlock Holmes. - disse, estendendo a mão.

-John Watson. Desculpa pelo choro, eu...

-Ei, estou feliz que eu tenha chorado. Significa que alguém escutou minha música de verdade. - interrompeu.

-As pessoas nunca te escutam tocar? - perguntou, incrédulo.

-Não, nunca. As pessoas nunca me veem ou me escutam. Nunca percebem que eu existo. Você foi o primeiro. Agora eu quero ver, ouvir e perceber sua existência. Quer tomar um café?

John encarou Sherlock e sorriu. Não lembrava da última vez que tinha olhado nos olhos de alguém de verdade. Ou da última vez que tinham olhado para ele de verdade. 

-Vamos. - concordou.

-Ótimo! Mas você que vai ter que pagar, não recebi moedas suficiente. - disse, contando as moedas na caixa do violino. 

John riu e concordou. Depois de guardar o instrumento, os dois andaram lado a lado, em busca de algum café. A multidão ao seu redor continuava aumentando, o barulho da cidade ia crescendo, e pingos de chuva começavam a cair. Tudo era o mesmo de antes, menos o médico. Pois alguém havia tocado a música de sua vida, e ele estava pronto para viver e amar novamente. 

One-Shot JohnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora